sábado, 24 de maio de 2014

Água - há para todos?

          
                                                     Cataratas do Iguaçu

Um documento elaborado pela UNESCO e pela Organização Meteorológica Mundial, intitulado A água no Mundo : Há o bastante? (1997) conclui que:
“A diminuição dos recursos hídricos, associada a uma maior demanda por água potável, ameaça transformar essa matéria em uma explosiva questão geopolítica, já que aproximadamente 200 bacias hidrográficas se localizam em áreas de fronteiras de vários paises.”
Vamos nos enveredar nesta postagem pelos caminhos e percursos das águas, que sem sombra de dúvidas é um tema assaz pertinente e portanto, exige reflexão por parte de todos.
E então, por ter acesso a um espaço de comunicação que pode ser visto por várias pessoas, resolvi falar do elemento vital para a vida e da razão da existência dos igarapés (caminhos de canoa) que também nomeia este espaço.
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Podemos iniciar dizendo que, o estudo da Mecânica dos Fluidos teve início antes de Cristo, estimulada pela necessidade de sistemas de distribuição de água para as pessoas e para a irrigação, assim como para o projeto de barcos para a navegação e os dispositivos e armas de guerra. Naquela época o seu desenvolvimento foi empírico sem utilizar conceitos matemáticos nem da mecânica, entretanto, eles serviram como base para o desenvolvimento ocorrido na civilização grega antiga e no império romano.
Os primeiros escritos conhecidos sobre a Mecânica dos Fluidos são os de Arquimedes (287 - 212 a.C.), abordando os princípios da hidrostática e da flutuação.
No início da era cristã, Sextus Juluis Frontinus (40 - 103 d.C.), engenheiro romano, descreveu detalhadamente sofisticados sistemas de distribuição de água construídos pelos romanos.
                          
Apesar de haver controvérsias sobre a população romana, é razoável afirmar-se que alcançava, no período inicial do Império, um milhão de habitantes.
Deve-se distinguir, na cidade de Roma de então, os domus (casas particulares) dos patrícios e as casernas de aluguel, construções quase sempre verticais que chegavam a alcançar dez andares no I séc. a.C.
Tendo em vista o tamanho e o clima da cidade, o abastecimento de água constituía uma de suas principais necessidades. Neste campo os romanos foram célebres.
Para Plínio, o abastecimento de água da cidade era uma das maravilhas do mundo, para muitos, até hoje sem paralelos. A rede de água (das fontes aos locais de distribuição na cidade) chegou à extensão de 420km.
Mas a água que entra na cidade precisa sair: daí terem sido os romanos grandes também na captação de águas servidas!
É neste contexto que devem ser vistas as grandes conquistas urbanas e higiênicas alcançadas pelos romanos, e que não deixam de ser interessantes quando comparadas às grandes cidades atuais dos países não desenvolvidos, com seus marcantes contrastes.
Na distribuição de água utilizavam canos de chumbo, bronze e barro. Por questões de saúde, os de chumbo foram substituídos em 24 d.C. por canos de barro.
Um sistema tríplice de distribuição fornecia águas, preferencialmente, às fontes públicas, depois, a lugares públicos como teatros e locais de banho, e, finalmente, às casas particulares.
O sistema teve seu grande momento sob a administração do curador das águas Julius Frontinus. . Naquele tempo a cidade recebia 700 mil m³ de água, sendo a metade para fins públicos.
Da outra metade, um quinto ia para o palácio imperial, e o restante, para as casas.
O sistema era controlado e vigiado por cerca de 700 pessoas entre inspetores, pedreiros e escravos.
Havia normas de conservação e penas para os infratores.
As casas remuneravam o Estado pela água de acordo com um sistema de cobrança por volume.
Hösel indica que nos tempos dos imperadores, o consumo diário de água por cabeça era de 200 a 250 litros.
Contudo, a maioria da população só era atendida pelas fontes públicas, de modo que as casernas de aluguel não podiam deixar de ser sujas, já que a água para limpeza e outros usos devia ser apanhada nas fontes.
Devido a sua importância inegável para a vida humana, devemos entender como esta substância vital distribui-se pela natureza.
[Partes deste trecho foi baseado em: E M Í L I O  M A C I E L  E I G E N H E E R, A limpeza urbana através dos tempos ]

Distribuição da água na Natureza

A superfície terrestre ao receber as precipitações pluviais interage com o solo através da infiltração, do escoamento superficial e da percolação. Estes processos contribuem para as recargas hídricas, tanto em forma de alimentação dos fluxos de água subterrâneos, como em descargas nos reservatórios superficiais, além da umidade dos solos e da atmosfera. Considera-se atualmente, que a quantidade total de água na Terra seja de 1386 milhões de km³, onde 97,5% do volume total formam os oceanos e os mares e somente 2,5% constituem-se de água doce. Este volume tem permanecido aproximadamente constante durante os últimos 500 milhões de anos. Vale ressaltar, todavia, que as quantidades estocadas nos diferentes reservatórios individuais da Terra variam substancialmente ao longo desse período. (Rebouças, 1999 ver tabela)    Volume de água em circulação na Terra - km³ / ano ( 1km³ = 1 bilhão de m³)

            
A partir dos dados acima, podemos concluir que existe uma quantidade finita de água, e que a maior parte está concentrada nos oceanos, não obstante, termos uma demanda crescente da população com reflexos diretos no consumo da água.
Os mananciais mais acessíveis utilizados para as atividades sociais e econômicas da humanidade são os volumes de água estocados nos rios e lagos de água doce, que somam apenas 200 mil km³.
Em face, a estes dados já se podemos constar que onze paises da África e nove do Oriente Médio já não tem água. A situação também é critica no México, Hungria, Índia, China, Tailândia e Estados Unidos. Os paises mais pobres em água possuem sua maior concentração populacional próxima aos rios, estando estes localizados em zonas áridas ou insulares da terra. Considera-se que menos de 1000 m³ per capita / ano já representam condição de "estresse da água" e que menos de menos de 500 m³ / hab.ano já significa "escassez de água" (Falkenmark, 1986)
A tabela abaixo mostra como o consumo de água  também esta diretamente ligado a condição econômica da população, onde se observam níveis de variação ligados aos desperdícios por falta de conscientização com conseqüência da falta de instrução (classe baixa) ou por descaso provocado pelo seu baixo valor monetário (classe alta).
       

         
  Consumo médio de água no mundo - Faixa de renda. (Fonte UNIÁGUA.2006)

A situação critica devera atingir 30 paises no ano de 2025, o que sugere a "guerra eminente da água". Os problemas políticos e sociais agravar-se-ão ainda mais pela falta de empenho dos governos na busca do uso mais racional da água.
A deficiência poderia ser minimizada mediante o gerenciamento inteligente  dos recursos internos, incluindo-se a utilização dos lençóis subterrâneos, o Reuso e a adequação das atividades agrícolas principalmente (Rebouças, 1999).
A UNIÁGUA (2006) alerta: "Mais de um sexto da população mundial, 18%, o que corresponde a 1,1 Bilhões de pessoas, não tem abastecimento de água". A situação piora quando se fala em saneamento básico, que não faz parte da realidade de 39% da humanidade, ou 2,4 bilhões de pessoas.
Até 2050, quando 9,3 bilhões de pessoas devem habitar a Terra, 2 a 7 bilhões destas não terão acesso a água de qualidade, seja em casa ou na comunidade. A confirmação ou não desses números externados depende das medidas adotadas pelos governos. Estes dados fazem parte de relatório da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), órgão responsável pelo Programa de Avaliação Hídrica, como preparação para o 3° Fórum Mundial da Água, que aconteceu em Kyoto, Japão, em março de 2003.
Os mananciais do planeta estão secando rapidamente, problema esse que vai se somar  ao crescimento populacional, á  poluição e ao aquecimento global, com tendência a reduzir em um terço, nos próximos 20 anos, a quantidade de água disponível para cada pessoa do mundo.
O volume de água vem caindo desde 1970. "As reservas de água estão diminuindo, enquanto a demanda cresce de forma dramática, em um ritmo insustentável", afirmou o diretor-geral da  UNESCO, Koichiro Matsuura.
Doenças relacionadas à água estão entre as causas mais comuns de morte no mundo e afetam especialmente paises em desenvolvimento. Mais de 2,3 milhões de pessoas morrem anualmente devido ao consumo de água contaminada e a falta de saneamento, sendo as mais afetas as crianças com até cinco anos.
A Unesco montou um ranking de 122 paises comparando a qualidade de seus mananciais.
A Bélgica ficou em ultimo lugar, atrás de paises subdesenvolvidos como a Índia e Ruanda. Isto porque a Bélgica possui escassos lençóis freáticos em conjunto com intensa poluição industrial e um precário sistema de tratamento de esgotos.
No topo da lista estão Finlândia, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido e Japão.
O estudo também constatou disparidade quanto a disparidade de água nos diversos paises.
No Kuwait, por exemplo, cada pessoa tem a disposição apenas 50 metros cúbicos de água anualmente, já na Guiana Francesa, são 812.121 metros cúbicos per capita.
Ainda de acordo com o relatório, os rios asiáticos são os mais poluídos do mundo, e a metade da população nos paises pobres está exposta à água contaminada por esgotos, , ou resíduos industriais.
Em vista dos dados expostos, fica claro que as medidas de preservação de água são de extrema necessidade por parte da população mundial, para garantia de seu próprio abastecimento e conseqüente preservação.
Portanto, as medidas de proteção e reuso da água, são uma pauta constante de discussão pelos governos em suas políticas, não obstante, a conscientização ainda é pequena em relação ao tamanho do problema, e deve acontecer em vários níveis de atuação.
O reuso da água
Pode ser entendido como aproveitamento do efluente após uma extensão de seu tratamento, com ou sem investimentos adicionais. No caso dos esgotos, nem todo volume gerado precisa passar por tratamento para ser reutilizado, porém, existem casos em que estes efluentes exigem um processo bastante especifico em seu tratamento.
Os dados estatísticos mostram que um ponto variante ao consumo de água doce, se refere ao nível de desenvolvimento atingido pela população de cada pais, ou a importância das atividades de irrigação.

                       

 Uma analise feita em 50 paises mostra que há uma tendência de redução das taxas de consumo a partir de um certo nível de riqueza, pois concluí-se que, uma vez atingido um certo nível de desenvolvimento, buscam-se alternativas de otimização e eficiência que resultam em queda do consumo de água.
                      
Nas regiões áridas e semi-áridas, a água é um fator limitante para o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola, sendo necessário a busca de novas fontes de recursos, para complementar a pequena oferta disponível.
Muitas regiões com recursos hídricos abundantes, mas insuficientes para atender as demandas excessivamente elevadas, também experimentam conflitos de uso e sofrem restrições de consumo, que afetam o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida. (Mancuso, 2003).
Além da escassez, o reuso da água para fins não potáveis compensa a dificuldade de atendimento da demanda da água e substitui mananciais próximos e de qualidade adequada. Com a política do reuso, importantes volumes de água potável são poupados, usando-se água de qualidade inferior, geralmente efluentes secundários pós-tratados, para atendimento de finalidades que podem prescindir da potabilidade.(Abes, 1997).
O conceito de “substituição de fontes” mostrou-se, então, como a alternativa mais plausível para satisfazer as demandas menos restritivas, reservando a água de melhor qualidade para usos mais nobres, como abastecimento doméstico. Em 1985, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas estabeleceu uma política de gestão para ares carentes de recursos hídricos com base nesse conceito: “A não ser que exista grande disponibilidade, nenhuma água de boa qualidade deve ser utilizada para usos que toleram  águas de qualidade inferior”. (UNIÁGUA, 2001)
A água com qualidades inferiores, tais como esgoto de origem domestica, água de drenagem agrícola e água salobra, deve, sempre que possível, ser considerada como fonte alternativa para usos menos restritivos. O uso de tecnologias apropriadas para o desenvolvimento dessas fontes se constitui hoje, em conjunção com a melhoria da eficiência dôo uso e o controle da demanda, no estratagema para a solução do problema da falta mundial de água.(Abes, 1997).
Reuso urbano
O esgoto de origem essencialmente doméstica, ou com características similares, facilita a viabilização de seu reuso para fins urbanos. Por motivos de segurança à saúde publica, esse esgoto deve ser reutilizado para os fins “fins menos nobres”, ou seja, que não exigem qualidade de água potável, tais com irrigação dos jardins, lavagens dos pisos e dos veículos automotivos, na descarga dos vasos sanitários, na manutenção paisagísticas dos lagos e canais com água, na irrigação dos campos agrícolas, pastagens etc.
                        
O reuso urbano para fins potáveis (serviço de abastecimento publico de água) ocorre em locais em que há escassez crônica de água e esta tecnologia se apresenta como a única solução adequada. Quando isto acontece, os cuidados para com a qualidade do esgoto devem ser redobrados (inclusive pela própria população). Para que isto ocorra, além de ser necessário que o efluente tenha características estritamente orgânicas e de ser exigido que seu tratamento se efetue em nível terciário, é preciso que na seqüência, seu efluente siga para o tratamento complementar de potabilização desta água.
No setor urbano o potencial de reuso é bastante diversificado, porém demanda água com qualidade elevada, exigindo sistemas de tratamento e de controle avançados, podendo levar a custos incompatíveis com os benefícios correspondentes.
De uma maneira geral o esgoto tratado pode, no contexto urbano, ser utilizado para fins potáveis e não potáveis.(Ivanido Hespanhol, 1999).
    
Como exemplo a ser citado de reuso, a Republica da Namíbia – Zimbabwe, que vem tratando esgoto exclusivamente domestico para fins potáveis, o esgoto industrial é coletado em rede separada e tratado independentemente. Além disso, um controle intensivo é efetuado pela municipalidade, para evitar a descarga mesmo acidental, de efluentes industriais ou compostos químicos de qualquer espécie, no sistema de coleta de esgoto doméstico.          
Água pluvial
O aproveitamento da água pluvial tem importante destaque para usos não potáveis nas áreas urbanas, tais como rega de jardins públicos, lavagem de passeios, descarga de vasos sanitários, além de aplicações industriais. No entanto, quando a potabilidade é requisitada, este recurso deve ser bem avaliado. No Brasil, por exemplo, as vantagens hidrológicas naturais não justificam sua utilização para fins potáveis, excetuando casos extremos de algumas partes do pais onde não há outra opção.(UNIÀGUA, 2005)
O reaproveitamento da água servida de residências (grey water) e a captação de água de chuva já são muito aplicados na Califórnia.
É prevista, para o século XXI, a falta de água para 1 / 3 da população mundial.(Hespanhol, 2005)
Atualmente no Brasil, nos locais onde existe um sistema de abastecimento de água implantado, a população recebe água com custo referente ao seu tratamento (potabilização) e sua distribuição.
Ou seja, não é computado o valor monetário da própria água, uma vez que ela é considerada um bem publico.
No dia 8 de janeiro de 1997, foi promulgada a lei federal 9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos. A regulamentação desta lei instituiu a cobrança pelo liquido em si, até então gratuito, estabelecendo que a água seja um bem publico dotado de valor econômico, o que consiste uma novidade legislativa.
Em vista disso, é fundamental evitar o desperdício, não poluir e racionalizar o uso da água. O secretario de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente mencionou dados para frisar o desperdício, comparando os 40% a 50% que as empresas de distribuição do Brasil perdem na rede de água com índices europeus e americanos, que não ultrapassam os 20%.
Salati(1999) declara:
“O desenvolvimento futuro mundial terá sérios problemas, com a escassez de água, constituindo-se um desafio a administração das diversas demandas e suas importâncias.
As analises globais preliminares confirmam, que a escassez de água está afetando áreas cada vez mais extensas, particularmente a Ásia Ocidental e a África. 
Este fato repercute em segurança nacional, conflitos e migrações em larga escala, mostrando haver a necessidade de gestão integrada da água no nível das bacias hidrográficas e a determinação adequada do seu custo”.
A escassez da água, já foi motivo para muitas guerras no passado, pode, cada vez mais, agir como catalisador no conjunto de causas ligadas a qualquer conflito futuro.
Encerro escrevendo :
O caminho de canoa, depende dos seus leitores e de maneira poética, principalmente das águas, que não podem e não devem secar, portanto, exorto a todos pensarem, mais do que isto, agirem, mesmo com pequenas ações para que tal malefício não aconteça, e assim, parafraseando o poeta “Navegar é preciso, porém, mais do que isto, viver também é preciso".
Pense sobre isto!!!

                        

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