quarta-feira, 26 de março de 2014

Tecnologia Assistiva - Ampliando possibilidades




                              



Tecnologia Assistiva

O comite de ajudas tecnicas (CAT) (2007)  juntamente com a Coodenadoria Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência Fisica / Secretaria Especial dos Direitos Humanos (CORDE/SEDH) definiram a conceituação e nos estudos de normas de tecnologia assistiva estabeleceram:
Tecnologia assistiva é uma area de conhecimento de características interdisciplinar, que engloba, produtos recursos, metodologias, práticas e serviços que objetivam promover a funciomalidade, promoção e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.
 
Tendo em vista a abrangência do conceito, compreende-se que os produtos da Tecnologia Assistida (TA) ampliam-se de tal forma para atender quaisquer circunstância do usuário e contribuir na sua inclusão social.

De acordo com Story et al (1998), a TA surgiu juntamente com a engenharia de reabilitação, em meados do século 20, devido a necessidade de melhorar as próteses e òrteses de milhares de soldados que retornavam com deficiência física da Segunda Guerra Mundial.
Desta forma, a partir da década de 1950, os centros de engenharia de reabilitação buscaram soluções, pesquisando àreas de tecnologia e reabilitação, incluindo questões de mobilidade, comunicação e transporte.
Com isto, a área de engenharia de reabilitação tornou-se especializada, com fundamentação e aplicação de metodologias cientificas, cuja função assiste tecnologicamente o usuário especifico com aplicação de dispositivos acerca de aumentar as capacidades fisicas, sensoriais e cognitivas, e assim, proporcionar certa autonomia.

Entre as classificações dos recursos da TA, conforme UNIT ISO 9999 (2008) e Bersch (2008) encontram-se os produtos designados para auxilio de pessoas cegas ou pessoas com visão subnormal que são equipamentos que visam a autonomia das pessoas com deficiência visual na realização de tarefas como consultar o relógio, usar calculadora, verificar a temperatura do corpo, identificar se as luzes estão acesas ou apagadas, cozinhar, identificar cores e peças de vestuário, verificar pressão arterial, identificar chamadas telefônicas, escrever, ter mobilade independente etc..
Inclui também auxilios ópticos, lentes, lupas e telelupas; os softwares leitores

                 

 
                                      Ampliadores de texto
 
 de tela, leitores de texto, ampliadores de texto / tela, os hardwares como impressoras Braille, lupas eletrônicas, linha Braille (dispositivo de saída do computador com agulhas tatéis) e agendas eletrônicas.         

Deficiência Visual  

Conforme Decreto Federal 5296/2004 (BRASIL,2004), ITS, e Microsoft (2008) Brasil(2007), conceitua-se deficiência visual:
a) Cegueira  na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica;
b) Baixa visão - significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica;
c) Os casos nos quais a somatória do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60°;
d) Ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores.
Ressaltamos a inclusão das pessoas com baixa visão a partir da edição do decreto n° 5296/04. 

As pessoas com baixa visão são aquelas que, mesmo usando óculos comuns, lentes de contato, ou implante de lentes intra-oculares, não conseguem ter uma visão nítida. 
As pessoas com baixa visão podem ter sensibilidade ao contraste, percepção das cores e intolerância a luminosidade, dependendo da patologia causadora da perda da perda visual.

O fato da perda de visão, na maioria dos casos, está relacionado com o envelhecimento fisiológico, e consta que cerca de 80 milhões de pessoas com deficiência visual no mundo, 45 milhões são cegas, devido aumentar o comprometimento visual com o passar da idade, assim aproximadamente 4% das pessoas  com mais de 60anos são cegas, e dentre as causas freqüentes estão a catarata, glaucoma, degeneração macular e retinopatia diabética (WHO,2005).

Males que acometem a visão no processo de envelhecimento

a)  0 Aumento gradativo da distância de focalização e perda na velocidade de acomodação da imagem.
b) Diminuição na percepção de pequenos detalhes.
c) O cristalino e o humor vitréo (liquido interno do olho) perdem a transparência e necessitam de maior intensidade de luz.
d) Decrescimo na capacidae de discriminar cores.

Comunicação e Tecnologia Assistiva (TA)

A comunicação está entre as atribuições essenciais para acessibilidade que transpõem obstáculos de diferentes formas que podem ser falada, escrita, visual gestual, língua de sinais, digital entre outras. (ITS;MICROSOFT,2008)
Segundo as normas ABNT  (NBR 15599:2008)  as barreiras de comunicação são definidas como "qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sendo ou não de massa".
De acordo com Galvão Filho e Damasceno(2002) os recursos de

                                 

 acessibilidade para uso de computador, relacionadas as pessoas com deficiências (PcD) mobilidade reduzida ou alguma limitação , classificam-se em três grupos :

a) Adaptações físicas ou órteses : são todos os aparelhos ou adaptações fixadas ou utilizadas no corpo da PcD e que facilitam a interação do mesmo com o computador;
                           

b) Adaptações de hardware: são todos os aparelhos ou adaptações presentes nos componentes físicos do computador, nos periféricos ou
mesmo, quando os próprios periféricos, em suas concepções e construção, são especiais e adaptados.

c) Softwares especiais de acessibilidade: são os componentes lógicos das tecnologias de informação e comunicação quando construídos como Tecnologia Assistiva, ou seja, são os programas especiais de computador que  possibilitam ou facilitam a interação do usuário  com deficiência com a máquina. 

Segundo a Intervox(2011), a importância da comunicação por meio de recursos de tecnologia contribui para a PcD visual nos aspectos de melhorar as condições de acesso à educação e conseqüentemente, possibilitar uma melhoria na qualidade de vida, seja no desenvolvimento intelectual,

                 
     
 cognitivo, pessoal ou profissional, além de possibilitar a comunicação, seja profissional ou nas formas de entretenimento com outros indivíduos em condições de igualdade.

Softwares para TA

Os programas de computador que atribuem a função de sintetizador de voz são considerados uma das principais ferramentas da Tecnologia Assistiva (TA)  para a autonomia das pessoas com deficiência visual, pois possibilitam o acesso ao mundo da informática e promovem a incusão digital. Desta forma, estes programas permitem alcançar recursos que o ambiente de informática oferece para o aprendizado, pesquisa de informação e participação na rede social e virtual.
Entre os programas acessíveis presentes no mercado estão : 

DoxVox Programa desenvolvido  e distribuído pelo núcleo de computação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2011). A principal característica deste software é a interatividade com o usuário, por meio de dialogo e voz humana gravada, que estabelece fácil compreensão e operação via teclado.

http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/download.htm

NVDA - Non Visual Desktop Acess : programa leitor de tela de distribuição gratuita  pela NV Acess com sede na Austrália. O proprietário do programa é Michael Curran, estudante cego e fundador da NV Acess. Atualmente participam bárias pessoas voluntariamente de diversos paises para melhorar e atualizar o programa .
Este leitor é configurável para 20 idiomas diferentes e possui versão compacta e portátil que permite o uso do programa gravado em dispositivo móvel - pendrive ou CD,  possibilitando a conexão USB ou drive de CD de computador sem a necessidade de instalação do mesmo.
Ressalta-se outra atividade da NV Acess que tem consorcio com a empresa Adobe para melhorar a acessibilidade dos arquivos em PDF (NV Acess, 2011)   http://www.nvaccess.org/http://www.nvaccess.org/

Virtual vision -  Programa leitor de tela desenvolvido pela empresa brasileira MicroPower (2011) e distribuído gratuitamente por estabelecimentos conveniados  
O software utiliza o Delta Talk que faz o sintetizador de voz em português com boa qualidade de áudio.   
Baixar o programa
Você pode baixar o Virtual Vision para avaliar e testar seus recursos. O arquivo de instalação que você recebe contém o programa completo, mas com a limitação de funcionar em sessões de 30 minutos. Após esse intervalo será necessário reiniciar o computador para que o Virtual Vision volte a funcionar por outros 30 minutos.
Para o Virtual Vision funcionar sem essa limitação, é necessária a aquisição da licença de uso definitiva do programa.
Por favor, preencha o formulário abaixo e tecle em "Enviar solicitação". Você receberá em seu e-mail instruções para baixar a versão de avaliação do Virtual Vision 6.0.
IMPORTANTE: O Virtual Vision não é um produto gratuito. Se você estiver satisfeito com o programa, por favor, adquira a licença definitiva após o período de avaliação.  http://www.virtualvision.com.br/baixar.asp
  
www.assistiva.org.br

http// saci.org.br
Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação da Universidade de São Paulo - Rede Saci Paulo - Rede Saci

http://nteassistivas.blogspot.com.br/    

                                  

sábado, 22 de março de 2014

Sinestesia - A sensação simultânea

              
                                                 

Algumas pessoas conseguem ter a percepção de vários sentidos de uma só vez. Elas são capazes de sentir as cores, o paladar das formas, o cheiro das texturas, a personalidade dos dias da semana. Como isso seria possível? 
A partir da sinestesia - termo cunhado nos anos 1890, provém de Francis Galton em seu classico livro Inquiries into human faculty and its developement, publicado em 1883  - Sinestesia é uma palavra que vem do grego synaísthesis, onde syn significa "união" e esthesia significa "sensação", assim, uma possível tradução literal seria "sensação simultânea". a sinestesia é uma condição neurológica que provoca a mistura dos sentidos e que costuma ter causa genética.

Segundo SANZ (apud GOMES, 1999), em nível fisiológico, sinestesia é a sensação secundária ou associada produzida em um ponto do corpo humano, como conseqüência de um estímulo aplicado em outro ponto diferente.
Em nível psicológico, são imagens ou sensações subjetivas características de um sentido que surgem determinadas pela sensação própria de um sentido diferente.

No quarto século antes da Era Cristã, Aristóteles (384-322 a.C.) já havia escrito sobre os cinco sentidos, os quais, ainda hoje, são considerados como os sentidos tradicionais: visão, audição, tato, olfato e paladar.
A visão se configura a partir da percepção que olhos têm da luz, que é parte radiação magnética de que estamos rodeados.

O tato e a audição se constituem a partir de fenômenos que dependem de deformações mecânicas, portanto são sentidos mecânicos. Por último, temos o olfato e o paladar que são sentidos químicos, pois as informações chegam até nós por meio de moléculas químicas que se desprendem das substâncias.

Nas últimas décadas, o avanço das ciências neurocognitivas e das pesquisas sobre o cérebro e a consciência, amparadas em novas tecnologias como a ressonância magnética
 funcional fRMI, Espectroscopia no infravermelho próximo (NIRS) e tomografia óptica de difusão (DOT- Diffuse Optical Tomography, ) são técnicas emergentes cada vez mais empregadas para o mapeamento funcional do cérebro, tornaram possível observar processos 

                    
                                


cerebrais antes inacessíveis, gerando uma nova onda de interesse pela sinestesia e por aquilo ela pode revelar sobre a cognição.

Os estudos neurológicos permitem afirmar que o estado de percepção sinestésico, ou ao menos um estado mais intenso de intercruzamento modal, é característico da infância.

A sinestesia é uma propriedade natural do sistema perceptivo dos recém nascidos e é mais facilmente encontrada nas crianças.

Mais que isso, o estado de preenchimento pela sensação, ou abandono à sensação (como oposta à razão), pode ser relacionado a um modo cognitivo da infância, onde o aqui-agora da sensação predomina sobre o universo simbólico, duradouro, característico da cognição verbal.

Nossa ‘conversão’ crescente ao universo mais ‘flexível’, prático, racional e eficiente do simbólico coloca palavras entre nós e o mundo.

De acordo com Santaella (2005, p.74), o olho, que capta energia radiante, é o sentido que mais longe vai na sua exploração panorâmica até o horizonte.

O ouvido, que capta energia mecânica vibratória, não atinge as mesmas distâncias que o olho.
O tato interage no corpo-a-corpo com as coisas, toca, apalpa, tropeça.

                            

O olfato capta energia química numa troca de partículas que chegam pelo ar. No paladar essa troca de partículas se dá no próprio corpo.

                                 

É pelo corpo que o homem participa do mundo e apreende uma realidade. De acordo com Rector e Trinta (2005, p.35), o ser humano consegue perceber o mundo, recortá-lo segundo um modelo, absorvê-lo e transformá-lo em cultura através de seu próprio corpo e dos meios de que este dispõe para efetuar tal função.
Tendo para isto, instrumentos fornecidos pela natureza que o capacita para essas interações com o ambiente que o circunda.
Estes instrumentos privilegiados são os cinco sentidos: a visão, a audição, o tato, o paladar, o olfato como já mencionado. 
Estes sentidos estão condicionados por dois outros fatores: espaço e tempo. Os sentidos, aliados a estas duas dimensões, são o instrumental de que o homem dispõe para apreensão, compreensão e desenvolvimento intelectual do universo no qual está inserido. 

Rector e Trinta (2005, p.34) nos lembram que os olhos, os ouvidos e o nariz configuram-se como receptores a distância, enquanto o tato e as sensações recebidas através da pele, membranas e músculos são receptores imediatos3. No entanto, a pele também pode ser considerada como um receptor a distância, uma vez que somos capazes de sentirmos arrepios, ou seja, ter a textura da superfície da pele alterada, sem um contato físico muito próximo.
Santaella (2005, p.73) afirma que embora os sentidos se misturem entre si, especialmente há muitas misturas dos outros sentidos com o tato, "não se pode negar a evidência de uma hierarquia entre os sentidos, hierarquia que tem suas bases já em mecanismos físicos, químicos e fisiológicos". Para a autora, há uma nítida gradação de complexidade que segue a seguinte ordem decrescente: (1) visão; (2) audição; (3) tato; (4) olfato; e (5) paladar.

Há evidentemente uma gradação que vai do olhar ao degustar, o olhar e a escuta sendo mais mediatizados e o apalpar, cheirar e degustar, estando numa escala decrescente de mediação até a quase imediatez que é o caso do degustar.
Enquanto a percepção visual e a sonora são processos nítidos de decodificação, o apalpar já implica uma interação com a matéria, enquanto o cheiro e o paladar envolvem uma absorção da matéria pelos nossos órgãos sensores. O que é comum a todos eles, no entanto, é o fato de que há algum processo interpretativo por parte do sujeito perceptor, o que os caracteriza a todos, em menor ou maior gradação, como processos de linguagem (SANTAELLA, 1996, p.314).

A visão e a audição são os mais complexos, pois o olho e o ouvido mantêm uma grande intimidade com cérebro. Depois o tato, sentido que tem um nível de complexidade mediano, pois os nervos da pele não se ligam diretamente ao sistema nervoso central, mas se distribuem por todo nosso corpo.

Por fim, o olfato e o paladar podem ser considerados os menos complexos, pois reagem aos estímulos químicos, enquanto os demais sentidos reagem aos estímulos físicos.
Ainda sobre a hierarquia dos sentidos, Santaella (2005, p.74) postula:

 A comparação da intimidade do olho com os interiores do cérebro e da intimidade do paladar com os interiores do corpo fala por si sobre a hierarquia dos sentidos, que tem o tato, órgão não só sensório, mas também motor, em situação central, entre os dois buracos para o cérebro, olho e ouvido, e os dois buracos para o corpo, o olfato e o paladar, estes mais "matéricos", pois reagem a substâncias químicas.

Hall (1979, p.50, apud PLAZA, 2003, p56) afirma existir uma relação entre a era evolucionária do sistema receptor humano e a quantidade e qualidade de informação que se transmite para o sistema nervoso central. O autor afirma que os sistemas táteis, ou do tato, são tão velhos quanto a própria vida; na verdade, a capacidade para reagir a estímulos é um dos critérios básicos da vida. A vista foi o último e mais especializado sentido que se desenvolveu no homem. A visão tornou-se mais importante e o olfato menos essencial quando os ancestrais do homem saíram do chão e passaram às árvores.


De acordo com Santaella (1998, p.12-13), o olho e o ouvido se constituem em aparelhos biológicos especializados e não são apenas canais para a transmissão de informação, mas são órgãos codificadores e decodificadores,

                          


"de modo que parte da tarefa que seria de responsabilidade do cérebro já começaria a ser realizada dentro desses órgãos, para ser completada no cérebro". Já os outros órgãos, possuem conexões mais indiretas com o cérebro, pois estariam ligados aos apetites físicos. 
De acordo com Plaza (2003, p.46), "muito mais do que o real, o que os nossos sentidos captam é o choque das forças físicas com os receptores sensoriais".

Os Sentidos

Vale, portanto, lembrarmos as seguintes palavras de Plaza (2003, p.46):
A palavra "sentidos" é tão enganosa quanto o conceito de "sensação", pois não existem sentidos departamentalizados, mas sinestesia como inter-relação de todos os sentidos. A sinestesia, como sensibilidade integrada ao movimento e inter-relação dos sentidos, garante-nos a apreensão do real.


Os sentidos são dispositivos para interação com o mundo externo. Segundo Santaella (2005, p.70), "os sentidos são sensores cujo desígnio é perceber, de modo preciso, cada tipo distinto de informação".
De acordo com Braun (1991, apud SANTAELLA, 2005, p.70), são pelo menos três as facetas que configuram o processo por meio do qual sentimos algo: (1) A recepção de um sinal externo que excita um órgão correspondente dos sentidos;
(2) A transformação dessa informação em um sinal nervoso;
(3) O transporte desse sinal e a modificação que ele sofre até chegar ao cérebro e nos dar a sensação de haver sentido algo.

Portanto, para que possamos sentir algo, é fundamental o papel exercido pelos órgãos dos sentidos, os quais atuam como transdutores, ou seja, transformadores de sinais físico-químicos em sinais elétricos que são transmitidos por nossos nervos.
Obviamente, o cérebro exerce um papel fundamental dentro deste processo de percepção.
Assim, por meio de mecanismos físico-químicos, as informações que chegam até nós são transformadas em sinais nervosos, os quais são recebidos por nosso cérebro e decodificados, de acordo com a nossa concepção individual do mundo.
Então, não é exagero disser que é pelo corpo que o homem participa do mundo e apreende uma realidade. 
Assim, conforme Rector e Trinta (2005, p.35), o ser humano consegue perceber o mundo, recortá-lo segundo um  modelo, absorvê-lo e transformá-lo em cultura através de seu próprio corpo e dos meios de que este dispõe para efetuar tal função. 

 Sinestesia cromática

A cor sendo um estímulo visual, pode evocar associações com percepções naturais de outros sentidos. A partir do conhecimento desta capacidade da cor é possível utilizá-la como uma ferramenta de transformação dos ambientes.
                       
Estes podem ser modificados tornando-se, por exemplo, maiores ou
menores, mais baixos, mais altos ou mais  estreitos, entre outros, apenas com o efeito da cor. Para MAHNKE (1996), estas associações são muito reais e têm um papel importante no design de ambientes.
A sinestesia cromática pode surgir proveniente de imagens visuais, olfativas, gustativas, táteis, acústicas, dinâmicas (movimento e latência) e temporais.

Percepção visual:

A cor interfere na apreciação da forma, espaço ou volume, tamanho e peso. Percepção da forma: O valor da cor está intimamente ligado à sensação da forma, realçando-a ou atenuando-a.
                        
De modo geral, cores mais "agudas" sugerem formas pontiagudas, sendo um exemplo o amarelo e ao triângulo.
As cores designadas de "profundas", como o azul, fazem associação com o círculo.
Percepção de espaço ou volume: A luminosidade da cor é um importante fator para a percepção da amplitude ou redução do espaço ou volume. Superfícies de cores claras ou pálidas, frias ou com padrões pequenos

                              

distanciam-se do observador, causando a sensação de um maior volume do ambiente.
                       

Por outro lado, superfícies com cores escuras, saturadas ou com padrões grandes, fecham o espaço, diminuindo o interior.
O nível de luminância interfere neste aspecto. Quando alto, evidencia maior volume, quando baixo inibe esta sensação.
Percepção de tamanho: Cores quentes fazem foco em pontos atrás da retina e as frias diante da mesma.
Para perceber as cores quentes, o cristalino torna-se convexo, enxergando estas cores com uma extensão maior do que a real; ao contrário, para

                                
perceber as cores frias, torna-se côncavo, o que faz com que estas cores pareçam ter uma extensão mais reduzida.
Percepção de peso: O branco, as cores quentes e claras, menos saturadas (pastel), produzem a sensação de menor peso e maior sutileza, enquanto que o preto, as cores frias e escuras sugerem maior peso e solidez.
Percepção de movimento e latência: Cores quentes são projetantes ou salientes, gerando a sensação de proximidade e cores frias são retrocedentes, afastando-se do observador, criando sensação de distância e profundidade. 
Este efeito é facilmente percebido quando as cores projetantes e retrocedentes estão superpostas em um mesmo plano. Isto se deve a latência ou retardo de captação do estímulo cromático pelo olho, devido ao processo de acomodação, que difere segundo o comprimento de onda. 
O azul e o vermelho parecem se mover ou flutuar quando são vistos juntos.

           
Este mesmo efeito ocorre com outros pares de cores, como por exemplo, o cyan e o laranja, o vermelho e o verde.
Estas combinações parecem oscilar quando os dois matizes apresentam a mesma saturação e luminosidade.
Apenas o amarelo e o púrpura parecem manter suas posições no espaço.
Percepção temporal:
A cor aparentemente influencia o julgamento do tempo.
Experiências mostraram que, em ambientes com cores quentes, o ser humano subestima a passagem do tempo e em ambientes com cores frias o tempo é superestimado.
Percepção tátil:
A sensação tátil é produzida pela diferença no tom das cores, entre os tons quentes e tons frios.
Cores quentes parecem fofas e macias, enquanto cores frias causam a sensação de serem duras e secas.
Algumas cores parecem rugosas e ofendem a vista.
Outras, causam impressão de serem lisas, aveludadas, como por exemplo, o azul-ultramar escuro, o verde-cromo, a laca vermelha.
Percepção de temperatura:
O calor ou frieza de uma cor demonstra sua tendência geral para o amarelo ou para o azul, respectivamente.

         
Além da associação por imagens mentais arquivadas, pesquisadores comprovaram que receptores das palmas das mãos podem perceber a diferença entre a quantidade de calor refletida por uma superfície vermelha e uma superfície azul de um objeto.
Alguns experimentos constataram a diferença de 4 a 5 graus em sensações subjetivas de calor e frio, em ambientes pintados de azul e vermelho.
Percepção auditiva:
Pesquisas realizadas por psicólogos da Gestalt chegaram a conclusão de que sons altos e fortes fazem com que os olhos fiquem mais sensíveis ao verde e menos sensível ao vermelho.
Os sons agudos, de alta intensidade e estridentes, tendem a ser comparados com os matizes quentes, brilhantes e saturados e, em oposição, sons graves e abafados são comparados com os matizes frios, menos luminosos e de baixa saturação. Estas associações são úteis para compensar, visualmente, o problema de ruídos em diversos tipos de ambientes.

 PAPEL FUNCIONAL DAS CORES

Em relação ao papel funcional das cores, HAYTEN (1958) considera que a aplicação funcional das cores consiste na utilização destas segundo o propósito de satisfazer as necessidades de eficiência e conforto, que estão diretamente relacionadas ao desempenho do trabalho e à segurança do trabalhador.
E complementa que o uso de cores com o objetivo funcional atua à margem de qualquer convenção estética ou preferência pessoal.
Os aspectos funcionais das cores e a forma como eles podem ser trabalhados para a obtenção de ambientes de trabalho mais agradáveis e adequados às características das tarefas e de seus usuários, é abordado por FONSECA, 2004.

                     

Alguns endereços de vídeos sobre sinestesia:

www.youtube.com/watch?v=rl-UWR_3N9A
vimeo.com/25076605
               

quinta-feira, 13 de março de 2014

Africae Brasilia - Museus e o AfroBrasil



          

                   Museu AfroBrasil - Parque do Ibirapuera - sp
                                                 Akulu hati - 
                                                 Upika ulema, olofuka vipandeka. 
                                                 Katalele ongongo, kakolele.
                                                 Olondunge lu kulihiso viavelapo ongusu yovota. ¹

O que significa falar contra o passado se não há intenção de mudar o percurso sangrento da história?
Falar é de alguma forma assumir a voz cultural de algum lugar; todo signo traz fendas ideológicas.
Nesse sentido, falar, como nos lembra F.Fanon (1983): "Não é apenas falar contra, mas, sobretudo, assumir uma cultura e suportar o peso de uma civilização."
Em diálogo com as culturas do - "entre-lugar", torna-se cada vez mais importante pesquisar as culturas africanas pelo legado da identidade intervalar, pelos crimes racistas cometidos pela sociedade e pela descolonização dos povos das diásporas negras
.( Griots - culturas africanas: linguagem, memória, imaginário )
E para falar e mostrar ao que se está referindo, nada melhor que um museu especificamente idealizado para mostrar os variados aspectos concernentes a cultura em questão.
E este processo, é feito por apresentação de documentos e na forma visual de toda a riqueza inerente da cultura representada, neste caso especifico, a cultura africana.

Conceituação de Museu

Internacionalmente tem vindo a ser promovida alguma reflexão sobre o conceito de museu e a sua evolução, e defende-se hoje que os museus combinem o seu objectivo social - de instituições guardiãs de memórias, com responsabilidades na preservação de um património, na investigação e na educação - com outro tipo de actividades de promoção desses objectivos, com a concepção e implementação de estratégias de marketing, que não comprometam a sua existência (Kotler e Kotler, 1998; Izquierdo e Samaniego, 2004).

O conceito de museu do ICOM (International Council of Museums) também tem sido frequentemente redefinido e adaptado à realidade: "A museum is a non-profit making, permanent institution in the service of society and of its development, and open to the public, which acquires, conserves, researches, communicates and exhibits, for purposes of study, education and enjoyment, material evidence of people and their environment."
" Um museu é uma atividade não lucrativa, uma instituição permanente em serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, e aberto ao publico, e que adquire, conserva, pesquisa, comunica e exibe, para propósito de estudos, educação e apreciação por prazer, evidência material de povos e de seu meio ambiente".
(ICOM Statutes, 1989, article 2, paragraph I).

Esta definição foi adoptada em Haia, na Holanda em 1989, tendo sido revista em 1995 e novamente em 2001).

 As funções do Museu

As funções principais de qualquer museu são: identificar, recuperar e reunir grupos de objectos e de colecções; documentá-los; preservá-los; estudá-los; apresentar ou expor esses objectos ao público em geral; e interpretá-los ou explicá-los (Hernández e Tresseras, 2001).
A questão do uso social do património cultural ganhou maior relevância a partir de 1920-30's, pela tomada de consciência de que a perda de ligação com o contexto de produção e uso desse património significaria a perda do seu significado.
Qualquer colecção ou museu só pode ser explicado através da sua história (Hernández and Tresseras, 2001).
Foi neste período que os responsáveis pelos museus se tornaram mais sensíveis aos desejos e motivações da procura e se demonstraram mais abertos a uma interação entre proteção, difusão e estudo.
Datam deste tempo as primeiras grandes exposições temporárias, as visitas escolares, e os primeiros departamentos pedagógicos, e educativos dos museus.
São introduzidos novos sistemas de exposição e de apresentação das colecções e surgem os primeiros estudos de públicos. Contudo, o período de Guerra instalou uma crise na museologia internacional e só em 1984 com a "Declaração do Québec" se reafirmou a importância da função social do museu (ICOM, 1989).

Destarte, o museu tem um papel relevante na formação cultural e de auto-afirmação, no caso, do Museu AfroBrasil, que em seu acervo possui o testemunho das inúmeras contribuições dos negros brasileiros submetidos ao regime de servidão, com sua importância muitas vezes negada pelas classes dominantes e também desconhecida pelo segmento que representa, como já mencionado anteriormente, as citações abaixo enfatizam o papel e a importância dos museus.

O museu não deve ser um mero local onde estão depositados materiais que funciona como centro de investigação e apenas pode ser visitado por uma minoria, mas deve ser perspectivado como "um núcleo de projecção cultural e social, com uma contínua e decisiva função didática, com uma aproximação viva à cultura." (Martos e Santos, 2004:80).
Hein (1998) afirma que a aprendizagem se deve constituir como a função principal dos museus, todavia, há que acompanhar os novos processos de aprendizagem e adaptá-los aos estilos dos tempos modernos: "Museums are extraordinary places where visitors have an incredible range of experiences" (Hein, 1998:2.
Yeh e Lin reconhecem que o museu apresenta vantagens associadas às formas de aprendizagem informais e afirmam "Learning in museums give visitors a self-directed learning opportunity to construct personal learning atmosphere, scheduling, and content."

"Aprendizagem em museus dá aos visitantes uma oportunidade de um ensino auto dirigido para construir uma atmosfera pessoal de aprendizado, planejamento e conteúdo" (Yeh e Lin, 2005:281).

Com o propósito  exposto acima, o museu AfroBrasil que foi criado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega.
A 23 de outubro de 2004, o Museu Afro Brasil foi inaugurado, na presença

                             
do Presidente Luís Inácio Lula da Silva e de outras autoridades.
Em 2009, à época da criação da Organização Social, Emanoel Aves de Araujo doou 2.163 obras para o acervo do museu.

Emanoel Alves de Araújo (Santo Amaro da Purificação / BA, 15 de novembro de 1940), escultor, desenhista, gravador, cenógrafo, pintor, curador e museólogo.

Filho de pai cafuzo e mãe mestiça, Emanoel nasceu em uma tradicional cidade baiana, cujo cenário o inspirou para a execução de algumas de suas produções.

Descendente da terceira geração de grandes ourives, ainda novo foi aprendiz de marceneiro do mestre Eufrásio Vargas; aos treze anos trabalhou em linotipia e composição gráfica na Imprensa Oficial do Estado – experiência de grande importância para o domínio da técnica e para a sensibilidade da expressão.

Mudou para Salvador com o intuito de cursar Arquitetura, mas suas constantes visitas à exposições e museus fez com seus planos tomassem outro rumo. Foi quando se matriculou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, onde teve aulas de gravura com o mestre Henrique Oswald, artista que por admiração queria que Emanuel fosse seu substituto no ensino universitário. (www.pinturabrasileira.com/artistas)

        
                                    Emanoel Alves de Araujo

Curador e diretor do Museu Afro-Brasil, em São Paulo, com obras de sua coleção.
O museu conta mais de 5 mil obras, entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas, de autores brasileiros e estrangeiros, produzidos entre o século XV e os dias de hoje, o acervo abarca diversas facetas dos universos culturais africanos e afro-brasileiros. Atualmente, está divido em 06 núcleos: África: Diversidade e Permanência, Trabalho e Escravidão, As Religiões Afro-Brasileiras, O Sagrado e o Profano, História e Memória e Artes Plásticas: a Mão Afro Brasileira.             

       Acervo-Museu-Afro-Brasil-Fotografia-de-Nelson-Kon-2

                 Sumuluise a ñala ó África
                 Sumuluise a ñala ó África
                 Sanjuisa ovitima vietu viosi
                 Omãla vove va yongola
                                          ombembua
                 E sumuluiso vo África ááá
                 E sumuluiso vo feka yetu
                 Enju a ñala
                 Enju, enju
                 Enju a ñala
                 Enju, enju
                 Sumuluise ofeka yetu África
                 ááá
                 Ofeka yetu África.²



Uma visita à História

[Texto referencia  MUSEUS E METAMORFOSE CULTURAL Alexandre Fernandes Corrêa]
O esquecimento das origens pessoais, dos grupos imigrantes, raças, etnias, etc., constitui plano eficaz de dominação de consciências e manutenção do status quo dominante, ou da libido dominante, como dizia Roland Barthes (1980). Apresentando-se como o 'País da Promessa', o lema: 'Esquecer suas origens para tornar-se brasileiro', é extremamente eficaz e se conecta perfeitamente numa síntese conjuntiva adequada ao processo de alienação e aculturação desenfreada em que foi submetido a população em quatro séculos de colonização do imaginário mestiçado e hibridizado.

[...]A memória social brasileira não é um mar de "rosas": temos que agir com cuidado e muito respeito em relação a estas particularidades e singularidades capilares.
O Brasil é um 'País do Presente e dos Contrastes', por isso, parece certo afirmar que é preciso uma perspectiva interdisciplinar e transcultural das relações entre memória e esquecimento na sociedade brasileira.
País do 'aqui e agora', em que há uma grande fixação no prazer e na alegria, e que reluta e resiste negativamente em enfrentar o passado difícil, conflituoso e traumático.
Torna-se importante e fecunda uma antropologia dialética, que pense e elabore esta equação complexa: 'País da Esperança' x 'Passado Violento'.
A memória social brasileira é traumática, violenta, repleta de histórias de espoliações, escravidão, etnocídios, genocídios, autoritarismos, ditaduras, etc.
Quadro social que propiciou o surgimento de diversas estratégias e tentativas sofisticadas de encobrimento das dificuldades de lidar com os conflitos, que são recalcados e evitados a todo custo.
As diferenciações dos grupos sociais em relação a memória e a história, influenciam e determinam a participação na vida econômica e social do país como pode-se observar no techo abaixo [.....] É necessário então ter em mente as particularidades de cada grupo e conhecer sua relação com a memória e a história.
No caso dos sírios e libaneses percebemos que esses grupos logo que vieram para o continente sul-americano, desenvolveram estratégias de integração e assimilação, que logo deram a eles condições de se desenvolverem e enriquecerem economicamente. Em poucas gerações, de pobres mascates e comerciantes, tornaram seus filhos médicos, advogados e engenheiros, sem ligações étnicas ou culturais com seus ancestrais no país de origem.
Esqueceram a língua árabe e os costumes mais específicos. Mantém apenas hábitos culinários e de divertimento, como as danças árabes e os quibes e esfihas.
De modo algum deixaram os traços étnicos de seus ancestrais atrapalharem sua inserção na sociedade local.
Esqueceram suas origens e disso tiraram muitos proveitos sociais e econômicos.
Realizaram assim o lema do 'país do futuro', para os que não têm memória étnica:
'esqueça suas origens e se torne um brasileiro'.
No entanto, para os grupos indígenas e afrodescendentes, a história foi, e tem sido muito diferente; não é uma história de sucesso e de realizações sociais e econômicas, muito pelo contrário.
A manutenção de seus traços culturais e étnicos tem sido uma marca de estigma e esteriótipos no complexo sociocultural brasileiro.
A recente onda de 'folclorização', 'fossilização' e 'turistificação' de seus legados e heranças culturais só vêm confirmar a lógica desse processo de manutenção cada vez mais sutil da exclusão social e econômica desses grupos subalternos.
A despeito do engano dos mais ingênuos, essa é a mais nova estratégia de manter esses grupos na condição de subdesenvolvimento.
A resistência cultural desses grupos e a manutenção autentica de seus patrimônios culturais revela-se o maior desafio de uma cultura verdadeiramente humanista.
Cultura humanística delineada por Hanna Arendt, nos seguintes termos:
Esse humanismo é o resultado da cultura animi, de uma atitude que sabe como preservar, admirar e cuidar das coisas do mundo. Ele tem, como tal, a tarefa de servir como árbitro e mediador entre as atividades puramente políticas e puramente fabris, que se opõem uma às outras de um sem-número de modos (ARENDT, 1997, p. 280).

Historicamente o sistema de ensino brasileiro pregou uma educação formal, que não reconhece o valor do negro e do índio na formação cultural da sociedade brasileira, na qual o racismo e a ideologia do branqueamento ainda fazem parte do contexto escolar (CHIAVENATO, 1980).
No geral, o negro contribui com a vida econômica do Brasil, haja vista o fato de ter sido diretamente inserido no mundo do trabalho escravo em substituição à mão-de obra indígena.
Ou seja, são dois grupos marginalizados que foram responsáveis pela construção da riqueza do país, e os historiadores econômicos nunca negaram isso. A história ensinada no ensino fundamental e médio pouco ou nada nos disse sobre o negro e o índio e suas culturas, nem tampouco atentou para as questões de valorização dos mecanismos de resistência e formulação de idéias (BEZERRA; CHAGAS, 2007).
No entanto, com os valores de ostentação aos Estados Unidos, por exemplo, na prática do ensino sempre houve uma tendência a desqualificar o continente africano, a comunidade indígena, além de inferiorizar racialmente e socialmente os negros (NASCIMENTO, 1978; MUNANGA, 2004, 1996; SILVA, 1996, 1988).
Assim, os movimentos sociais negros, principalmente, passaram a reivindicar junto ao Estado brasileiro, no que tange à educação, o estudo da história do continente africano e dos africanos, da luta dos negros no Brasil, da cultura negra brasileira e do negro na formação da sociedade nacional brasileira.

A diferença cultural é a principal característica da formação social do Brasil, uma vez que os brasileiros são resultados da relação de negros, brancos e índios.
No entanto, a cultura cristã ocidental e supostamente branca manteve-se como determinante e passou a definir os referenciais a serem perseguidos como indispensáveis à construção da identidade brasileira.
Dessa forma, esta formação é historicamente concebida como ponto de chegada, ou seja, como uma recorrência às origens do povo brasileiro, uma origem que sempre negou os referenciais de negros e índios (BEZERRA; CHAGAS, 2007).
A ampliação da Lei 10.639/03 para a 11.645/08, tem por tarefa diminuir a lacuna histórica criadas por estes processos de exclusão das referidas etnias.

Não ao racismo


Peço para desculparem-me as pessoas sensatas e desprovidas do ignóbil sentimento de pretensa superioridade, porque isto é direcionado aos que agem movidos por ele, e que não suportam os que possuem características diferentes, tanto culturais quanto fisicas e portanto, abominam a diversidade humana, crendo erroneamente que o espaço Gaia pertence somente a um tipo especifico, não obstante, talvez os testemunhos históricos relatados abaixo ajudem aqueles que refletem sobre o racismo no Brasil. 

Sendo assim,continuo, quem atravessou o Oceano com Caronte no comando da embarcação, que com a mesma função,  [...] Um dos raros testemunhos, o do frei Sorrento, capuchinho italiano, deixa entrever a tragédia dos novecentos escravos embarcados de Luanda para a Bahia em dezembro de 1649: “aquele barco [....] pelo intolerável fedor, pela escassez de espaço, pelos grito contínuos e pelas infinitas misérias de tantos infelizes, parecia um inferno”. 
Há outro relato feito poucos anos depois, também de autoria de um  capuchinho  italiano, que dá detalhes sobre a distribuição  dos escravos a bordo.
Para prevenir revoltas durante a travessia, os homens vinham acorrentados no porão, as mulheres no segundo convés, as mulheres grávidas no castelo de popa e as crianças no primeiro convés. 
Esta navegação é mais dolorosa que existe em todo o mundo, escreve o frei Piacenza.(O trato dos Viventes; Felipe Alencastro, pág 83)
--- retornando ao texto acima, ao contrário da nau do inferno, esta trazia almas que sofriam por terem sido atingidas pelo estigma impingido pela bula Romanus Pontifex emitida pelo papa Nicolau V em 1455, autorizando o ato.

Percebe-se assim, que a ação inspirada pela emissão da bula criou todo um pano de fundo para justificar os atos que ainda hoje reflete-se nos afrodescendentes.
 [...] Reflexos dos conflitos étnicos e religiosos que sacudiam o Sahel e o Sudão traficantes mouros oferecem escravos pagãos, em troca dos mulçumanos capturados pelos portugueses." Tal forma de escambo confere principios evengelizadores ao tráfico".

Zarura sentenciava a respeito dos cativos animistas. " estes negros não vinham da linhagem de mouros, mas de gentios, pelo qual seriam melhores de trazer ao caminho da salvação"." Propalado pelo rei Afonso V, o argumento edificante se converte em doutrina religiosa e norma de direito internacional ao ser endossada pela bula Romanus Pontifex (1455).

Documento tido pelo pelo padre Brásio, eminente missiológo e africanista contemporâneo, como a "Magna Carta" do ultramar português." Na bula, o papa Nicolau V empresta apoio aos reis combatendo os mouros e formula a primeira justificação evangélica do trato negreiro. 
Considerava-se justo o comércio e a posse de negros, visto que muitos deles, deportados para Portugal, se tornavam cristãos"(O trato dos Viventes; Felipe Alencastro, pág 51,53).           

Pode-se inferir então que, quem sofreu todos os castigos corporais e humilhações possíveis e ainda assim sobreviveu, certamente adquiriu a têmpera do mais puro aço e por isto, pode-se dizer que o povo negro ficou mais forte e certamente eliminará diferenças e barreiras impostas pela parcela da sociedade, no caso a brasileira, ainda com resquícios racista, que quer manter o atual status quo e age de forma excludente, não obstante, o negro agindo com persistência, conquistará espaço no país que sempre ajudou e ajuda a construir e que ainda não foi devidamente reconhecido.

Para complementar, vou adicionar um trecho do livro trato dos viventes pág 210-11 " Repertoriando os 150 engenhos sob seu controle, Nassau enfatiza o principal entrave: a falta de colonos e principalmente, de colonos dos Países Baixos. E havia mais; não era qualquer "gueux", qualquer maltrapilho de Flandres que servia para ser colono na Nova Holanda. Os candidatos deveriam sobretudo dispor de capital para investir na produção nacional". "Para mandar fazer a fabrica de que precisam, pois não podem ser trazidas da Holanda como aqui são necessárias, e para comprar alguns negros, sem os quais nada de proveitoso se pode fazer no Brasil". E o governador martela: " Necessariamente deve haver escravos no Brasil, e por nenhum modo podem ser dispensados: se alguém sentir-se nisto agravado, será um escrúpulo inútil [...] é muito preciso que todos os meios apropriados se empregarem no respectivo tráfico na Costa da Africa".

Outro relatório, redigido em 1640 por Van der Dissen, conselheiro da Compagne no Brasil ex-agente da voc nas Mollucas homem prático nos trópicos  e político influente em Rotterdam insistiu sobre o fato de que os colonos holandeses deviam possuir capital reservado para á compra de africanos.
Seu argumento pro-escravista original, e inovador, merece reflexão "Sem negros nada se pode cultivar aqui, e nenhum branco - por mais disposto ao trabalho, que tenha sido na pátria - se pode dedicar no Brasil a trabalhos tais, nem mesmo suportá-los, parece que o corpo em consequencia da mudança tão extrema de clima, perde muito do seu vigor, isto não sucede somente ao homem, mas com tudo o que venha da Europa para o Brasil, inclusive o ferro, o aço, o cobre, etc.., e não me refiro às coisas mais sujeitas a deterioração.".
Van der Dessen avança em uma das primeiras - se não a primeira - justificativa científica  de deportação de negros para a América tropical. Asserções ideológicas, econômicas, culturais legitimavam o trato  de africanos. Van der Dissen vai mais longe ao se referir ao quadro normativo pautando o conhecimento ocidental  nos séculos da revolução burguesa, a defesa do escravismo decorre de um princípio geral e suscepítivel de experimento empírico - a dessubstanciação de matéria e dos homens europeus transportados ao Brasil.

Para concluir, vou recorrer a Darcy Ribeiro que escreveu no livro O povo Brasileiro pág -247 [...] O maior susto dos portugueses, no passado, foi ver a força de trabalho escrava, reunida com propósitos exclusivamente mercantis para ser desgastada na produção, insurgir-se, pretendendo ser tida como gente com veleidades de autonomia e autogoverno. 
Do mesmo modo, a grande perplexidade das classes dominantes atuais é que esses descendentes daqueles negros, imdíos e mestiços ousem pensar que este país é uma republica que deve ser dirigida pela vontade deles como seu povo que são.[...] Velhas questões institucionais, não tendo sido resolvidas nem superadas, continuam sendo os principais fatores de atraso e ao mesmo tempo, os principais motores de uma revolução social."             
Esta revolução ocorrendo, o negro brasileiro tornará seu o lema:
                                  Vini, Vidi,Vinci.    
            


Obs: Os grifos colocados nos textos são de minha autoria.
1- provérbios africanos
 A escravidão pesa, as dívidas nos prendem.
Se não vivenciou o sofrimento, não amadureceu.
Vivendo e aprendendo.
A inteligência supera a força das armas.

2 - Este canto é uma versão feita por Amadeu Fonseca Chitacumula, do Hino à África, composto em zulu por Enoch Sontonga, em 1897, com o título “Nkosi Sikelel’iAfrica”.

Abençoa ó Senhor a África
Abençoa ó senhor
Alegrai todos nossos corações
Seus Filhos querem paz
E benção para África
Benção na terra nossa
Venha ó senhor
Venha, venha
Venha ó senhor
Venha, venha
Abençoa nossa terra, África
Nossa terra, África

sexta-feira, 7 de março de 2014

A cor estrutural nos sistemas vivos da Natureza


                               
Para o texto abaixo foi utilizado como referência partes do artigo da Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 35, n° 2, 2301 (2013).

Cores estruturais são aquelas geradas como resultado da interferência construtiva da difraçâo em uma grade ou em estruturas com certa ordenação nanométrica. 
A cor estrutural difere da cor química (encontrada na maioria dos seres vivos) pela ausência de pigmentos, sendo resultado apenas de efeitos óticos superficiais.
Um bom exemplo deste fenômeno são as asas das borboletas que são objetos de investigação há longo tempo como se pode observar no texto abaixo.
O fascínio pelas cores das asas das borboletas remonta à antiguidade.
Os gregos foram os primeiros a registrarem essa admiração e debruçam-se nesse assunto já no quarto ou quinto século antes de Cristo, descrevendo as asas das borboletas como uma estrutura constituída de complexas redes de minúsculas escamas sobrepostas. Dai o nome cientifico desses insetos como
“lepidópteras“, fusão de “lepis” (escama) com “pteron” (asa) .

As lepidópteras constituem em uma grande diversidade de grupos taxonômicos com cerca de 180.000 espécies classificadas em 127 famílias.
As lepidópteras (ai incluídas as mariposas) representam cerca de 15% de todos os insetos conhecidos e, segundo dados da Embrapa, no Brasil em torno de 3.500 espécies de borboletas já foram catalogadas, sendo que destas 57 encontram-se em processo de extinção.

Os padrões e cores presentes nas asas de uma borboleta não constituem apenas de alterações para um mimetismo defensivo ou simples camuflagem.

Estudos têm identificado funçôes complexas de comunicações nessas configuraçôes, que alteram, muitas vezes sutilmente, para sinalizar a presença de predadores ou o reconhecimento de espécies e a atração para o acasalamento, ou para indicarem a simples presença de alimentos em determinados locais
As asas das borboletas são os melhores exemplos de geração de cores estruturais e com o advento da microscopia, o detalhamento dessas estruturas permitiu elevar o conhecimento do fenômeno assim como com o recentemente avanço da nanotecnologia, as primeiras reproduções artificiais dessas estruturas foram obtidas com potenciais aplicações em diversos campos.
A cor estrutural é, em princípio, um efeito puramente físico e presente em diversos organismos na natureza.
Há certa controvérsia sobre as primeiras descrições da ótica desse fenômeno.
Alguns autores atribuem a Robert Hooke, físico e matemático britânico, com base em sua publicação de 1665 na qual descreve as alterações de colorações em penas de aves .
                            
                                                pavão
Outros atribuem a Newton o primeiro registro documental das cores estruturais .
O que se sabe ao certo é que ambos trocaram correspondência sobre os princípios do fenômeno o qual foi inicialmente designado como "cor superficial".
A terminologia "cor estrutural", hoje adotada, foi cunhada por Lord Rayleigh em 1919.

Vale dizer que a cor estrutural difere da cor química, pois esta é proveniente de pigmentos que são compostos que absorvem através de suas ligações químicas, parte do espectro da luz visível incidente, refletindo a fração não absorvida ou frequências geradas a partir da excitação de elétrons nos orbitais superiores em um intervalo de comprimentos de onda que caracteriza a cor visualizada.
Em animais, e ai incluem os serem humanos, os pigmentos que caracterizam a cor da pele são denominadas melaninas.
As melaninas também são estruturadas em base fenólicas e se polimerizam em pequenos grânulos não superiores a 0,7 _m uniformemente distribuídos sobre a cútis.
Seres com deficiência de pigmentação são chamados albinos.

Difração de grade ou grating equation

O desenvolvimento teórico do princípio de difração por grade foi desenvolvido em 1913, confirmando os dados obtidos experimentalmente o que levou Bragg a receber o Nobel de Física em 1915.

Veja a Lei Bragg    aprenda a usa-lá com a applet do site da                    www.if.ufrgs.br/tex/fis01101/home.html e veja aula no www.youtube.com/watch?v=nLKUPwqoFas‎
                         
                                               equação (5)

A Eq. (5) é conhecida em inglês como grating equation, algo como "equação de grade" ou de "rede" em analogia a uma grade de difração e estabelece a condição de espalhamento de uma radiação incidente conforme teorizado por William L. Bragg para planos de refração espaçados a uma distância regular (d) entre si e próxima ao comprimento da onda incidente.
A importância da equação de Bragg é que esta relaciona o espaçamento entre os pontos da rede, em nosso caso as lamelas, com os ângulos de difração (_i) e a comprimento de luz refratada (λ).

Olhando esta situação como uma radiação policromática incidente (luz branca, por exemplo), temos a condição da Fig. 8, na qual o observador enxerga tons ou matizes diferentes para diferentes ãngulos.
Esse fenômeno é facilmente observável ao inclinarmos um CD de
                                 

policarbonato em diversos ângulos com relação ao observador, que se comporta como uma rede de difração, refletindo diferentes comprimentos de onda em diferentes direções decorrentes das difrações que se dão nas minúsculas trilhas de gravação presentes na superficie do disco.
              
                     
                                                       Figura 8 

4. Aplicações nanotecnológicas bio-inspiradas

Os melhores exemplos de aplicação prática dos conceitos de cor estrutural na confecção de dispositivos são os empregados na preparação de cristais fotônicos.
Os cristais fotônicos são estruturas tridimensionais Periódicas, normalmente de materiais cerâmicos, dispostos de forma a configurar uma malha 

                                    
nanométrica com cavidades definidas a semelhança de uma colméia . 

A matriz e as cavidades podem ser intercaladas com meios de diferentes índices de refração, resultando em um sistema com a capacidade de atuar
                                     

sobre os fótons incidentes, confinando ou limitando a propagação da luz em seus diversos meios.
Na natureza as opalas apresentam estas configurações.

                       
                              
                                                Opalas
Esse arranjo estrutural permite assim, ao variar as distancias ou propriedades de cada meio, controlar e manipular do fluxo de luz possibilitando a confecção de guias óticos, ideais para a fabricação de fibras

                 

ou microchips capazes de transmitir grandes capacidades de dados .
A aplicação desses cristais na confecção de lentes, membranas ou tintas que alteram a coloração já foram propostos.
A indústria japonesa foi, contudo, a primeira a utilizar os conceitos da cor estrutural e produzir nanoestruturas escalonadas baseadas nas asas das borboletas.
Por técnicas de evaporação e deposição, camadas de SiO2 (dióxido de silício) foram crescidas em trilhas com espaçamentos variados, gerando efeitos diversos sob a incidência de luz .
Embora as justificativas para essas réplicas tenham sido inicialmente descritas como recursos para estudos óticos, configurações similares levaria a confecção de estruturas totalmente absorvedoras ou geradoras de reflexões incoerentes. Estas são as bases das chamadas superfícies "invisíveis".
O uso militar dessa tecnologia é evidente, principalmente para o desenvolvimento das tintas que tornariam superfícies não detectadas por radares.
O efeito de "aprisionamento" de radiação já foi testado com o objetivo foi elevar a eficiência de células solares. Para tanto lamelas de TiO2 (dióxido de titânio) crescidas por deposição coloidal, seguindo padrões geométricos observados na
                                    
                                       

                                                Papilio paris

espécie Papilio paris  indicaram, que a reprodução de uma estrutura invertida das asas dessa borboleta eleva a incidência de radiação na base vítrea coletora.
A geração de cor intensa, como o verde, foi recentemente conseguida pela universidade de Cambridge na Inglaterra ao reproduzir em laboratório a

                                       
                                              Papilo blumei
                                            
 estrutura encontrada nas asas da borboleta do tipo Papilo blumei.
Esta nanoestrutura foi conseguida pela formação de lamelas por deposição alternada de nanopartículas de titãnio e alumino sob uma superfície polimérica.
O resultado foi um efeito visual semelhante ao verde típico da Papilo blumei e foi indicada pelos autores como tecnologia ideal para a estampagem de células de dinheiro ou ingressos, as quais seriam quase impossíveis de falsificação.
A indústria têxtil japonesa Teijin Fiber Ltd, já tem em sua linha de produção tecidos a base de fibras de poliéster, de espessuras de 700 nm, regularmente espaçadas e trançadas.

A disposição das fibras foi inspirada na asa da borboleta Blue Moprho e

                                          
                                 
recebeu o nome comercial de Nanofront c .
Esta malha apresenta coloração viva intensa e é indicada, segundo o fabricante para efeitos de sinalização.
Seriam ideais para a confecção de jaquetas ou uniformes de alta visibilidade, assim como revestimento de capacetes de motociclista com alta refletividade de luz incidente.
Esses, sem dúvida, são apenas alguns exemplos das possibilidades que a reprodução da cor estrutural permite.
Com o avanço das técnicas de manipulação em nanoescala inúmeras outras aplicações certamente serão vislumbradas.