segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Porquê "pesamos" tanto..?


          

Certas coisas acontecem de formas inesperadas, e pode ser até em frente a uma prateleira de produtos industrializados.
Deixem - me situar melhor, estava perambulando entre os corredores de um estabelecimento comercial, e enquanto avaliava o preço de um pacote de aveia, foi-me perguntado por um casal (já com alguma idade), como que se consumia o produto e se tinha efeitos benéficos sobre  a saúde...!!!..??
Solicitamente, falei sobre algumas propriedades nutricionais que lembrei, e a forma de consumir o produto, por exemplo, com frutas, mingau ou sucos. 
E então, veio-me a idéia de tentar explanar algo relacionado à obesidade e seus malefícios, e mesmo não sendo um profundo conhecedor do assunto, mas, adepto da linha de pensamento de Rudyard Kipling que prega
 " Tenho seis regras que me ensinaram tudo o que sei: O quê?, Porquê?, Quando?, Como?, Onde?, e Quem?", e assim, comecei a pesquisar sobre o assunto, e o resultado divido com quem se dispuser a ler o que segue.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade pode ser conceituada como o acúmulo anormal ou excessivo de gordura no organismo que pode levar a um comprometimento da  saúde.

Isso porque essa condição corporal pode promover o desenvolvimento de diversas doenças  no ser humano, dentre elas, podemos destacar: diabetes mellitus do tipo II e disfunções  cardiovasculares, que são, atualmente, as principais causas de morte no Brasil.
                        

Além disso, o sujeito  obeso tem alta probabilidade de desenvolver vários distúrbios de ordem psico-social, tais como: depressão, transtornos de ansiedade e alteração de imagem corporal.

Todas essas consequências,atribuídas e associadas ao excesso de gordura corporal, fazem com que a obesidade, na sociedade  contemporânea, seja considerado um grave problema de saúde pública.
[AS CAUSAS DA OBESIDADE: UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA MATERIALISTA HISTÓRICA 

As doenças e agravos não transmissíveis vêm aumentando e, no Brasil, são a principal causa de óbitos em adultos, sendo a obesidade um dos fatores de maior risco para o adoecimento neste grupo.

            

A prevenção e o diagnóstico precoce da obesidade são importantes aspectos para a promoção da saúde e redução de morbimortalidade, não só por ser um fator de risco importante para outras doenças, mas também por interferir na duração e qualidade de vida, e ainda ter implicações diretas na aceitação social dos indivíduos quando excluídos da estética difundida pela sociedade contemporânea.

A globalização, o consumismo, a necessidade de prazeres rápidos e respostas imediatas contribuem para o aparecimento da obesidade como uma questão social. 
A obesidade envolve uma complexa relação entre corpo-saúde-alimento e sociedade, uma vez que os grupos têm diferentes inserções sociais e concepções diversas sobre estes temas, que variam com a história.Cadernos de Atenção Básica - n.º 12 Série A. Normas e Manuais Técnicos ;  2006 ] 

Enfatizando o aspecto socio-cultural do indivíduo segue:
"A causa não está na consciência, mas na vida; a causa não está na evolução e na conduta empírica do indivíduo que, por sua vez, dependem das condições universais. 
Se as circunstâncias em que este indivíduo evoluiu só lhe permitem um desenvolvimento unilateral, de uma qualidade em detrimento das outras, este indivíduo só conseguirá alcançar um desenvolvimento unilateral e mutilado."[ 8MARX, K.; ENGELS, F. Textos sobre educação e ensino. 2. ed. São Paulo: MORAES, 199 ]

Aibda com base em [AS CAUSAS DA OBESIDADE: UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA MATERIALISTA HISTÓRICA ], coloco abaixo o seguinte texto:

"Na busca de identificar o que a literatura científica vem apontando acerca das causas da obesidade, fizemos um levantamento de artigos científicos referentes ao tema, indexados pelo Google Acadêmico e Scielo, publicados no período de 2005 a 2010, tendo em vista que estes indexadores são bastante utilizados para a pesquisa de artigos científicos referentes à obesidade.

Fatores causadores de obesidade 75 artigos pesquisados

Sedentarismo e alimentação inadequada - -82,66 %
Fatores genéticos---------------------------------         30,6 %
Nível socioeconômico---------------------- ------          30,6 %
Fatores psicológicos ------------------------ - ---      21,3 %
Fatores demográficos -------------------------- -----------16%
Nível de escolaridade -------------------------- --------- 5%
Desmame precoce -------------------------------- -----------   5%
Ter pais obesos --------------------------------------------     3%
Estresse ---------------------------------------------------------      2%
Fumo/Álcool ------------------------------------------------         1%

SOBRE O SEDENTARISMO E ALIMENTAÇÃO INADEQUADA COMO FATORES  CAUSADORES DA OBESIDADE

Fisiologicamente, a obesidade é uma condição corporal caracterizada pelo excesso de tecido  adiposo no organismo.

Já é de consenso na literatura que a obesidade trata-se de uma doença resultante de um desequilíbrio nutricional provocado por um balanço energético positivo que se dá, por sua vez, na medida em que o sujeito ingere mais energia do que é capaz de gastar. 
Assim, tem se um acúmulo de energia que, por ação do hormônio insulina, é convertida a gordura.

De acordo com Cavalcanti, Dias e Costa [Estudos de Psicologia, Natal, v. 10, n. 1, p. 121-129, 2005.], o aumento da obesidade está tradicionalmente associado com a fartura de alimentos, a mudanças na composição dietética

                       

da população ocidental e ao acesso barateado às farinhas e gorduras.

A esse respeito, é importante considerar que, com vistas a aumentar a lucratividade, as empresas que produzem alimentos industrializados vêm fazendo combinações de gordura, açúcar e sal que são "hiper-palatáveis".

Na verdade, os produtores tentam encontrar um ponto em que as pessoas comam certo produto e fiquem com vontade de comê-lo mais vezes.

 Assim, salgadinhos, doces e refeições prontas podem ter o mesmo efeito sobre o cérebro que o tabaco.
[ SOUZA, S.Obesidade e consumo de alimentos no Brasil:]

E, com isso, a ingestão de nutrientes inadequados à saúde se torna cada vez mais frequente.

Do exposto acima, é possível concluir que alguns alimentos são propositalmente "viciantes", , no caso das crianças, isso é moralmente correto?.

E, com isso, a ingestão de nutrientes inadequados à saúde se torna cada vez mais frequente.
E, também, arrisco-me perguntar, se as rações para animais tivessem os mesmos efeitos danosos como certos alimentos, já não teria surgido um movimento em defesa dos mesmos ?. E porquê, para as crianças não ?... Como já disse o príncipe Hamlet .." Há  algo de podre no reino....


Dados apresentados pela Rede Interagencial de Informações para a Saúde RIPSA, indicaram que no  Brasil, no ano de 2008, 56.263.735 pessoas sobreviviam com menos de meio salário mínimo  mensal, cerca de R$ 255,00, havendo uma predominância de residentes na região norte.

Nesse  sentido, ainda de acordo com dados fornecidos pela RIPSA , a participação diária per capita das  calorias de frutas, verduras e legumes no total de calorias da dieta da população da região norte do  Brasil, era de 1,7%, em contrapartida, na região sul, a participação era de 2,7% no total de calorias  consumidas, o que ainda é pouco.
A análise destes dados evidencia, então, a existência de uma forte
relação entre a renda mensal e o consumo de frutas, verduras e legumes, consumo este,  negativamente relacionado ao ganho de massa adiposa.

ALMEIDA, NASCIMENTO E QUAIOTI [ALMEIDA S. S., NASCIMENTO P.C.B.D., QUAIOTI T.C.B. Quantidade e Qualidade  de Produtos Alimentícios Anunciados na TV Brasileira. Revista de Saúde Pública. v. 36. n. 3. São Paulo, 2002. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sciarttext&pid=S003489102002000300016>. Acesso em: 28 jan. 2008.],

Realizaram estudo relativos à “quantidade e qualidade de produtos alimentícios anunciados na televisão brasileira”. 
Analisando a programação de três redes de TV de canal aberto, apresentaram os seguintes dados:
Dos 1.395 anúncios de produtos alimentícios veiculados, 57,8% estão no


              

grupo da pirâmide alimentar representados por gorduras, óleos, açúcares e doces. 
O segundo maior grupo foi representado por pães, cereais, arroz e massas (21,2%), seguido pelo grupo de leites, queijos e iogurtes (11,7%) e o grupo de carnes, ovos e leguminosas (9,3%). 
Há completa ausência de frutas e vegetais. A pirâmide construída a partir da freqüência de veiculação de alimentos na TV difere significativamente da pirâmide considerada ideal.

 Há, na realidade, uma completa inversão, com quase 60% dos  produtos representados pelo grupo de gorduras, óleos e doces e uma conseqüente redução do grupo pão, cereais, arroz e massas, além da ausência de frutas e vegetais.

Neste sentido, consideram que a exposição das crianças à tais propagandas, aliadas a fatores sedentários, por conta inclusive, do tempo gasto assistindo à esta mídia, cerca de 5 horas diárias, promovem hábitos de vida que contribuem para aumento da prevalência de obesidade.

            

Em estudo realizado por SOTELO, COLUGNATI e TADDEI6, citando MUST, os pesquisadores mencionam que:
A obesidade na infância e adolescência tende a continuar na fase adulta, se não for convenientemente controlada, levando ao aumento da morbimortalidade e diminuição da expectativa de vida. 
Desta forma, a detecção precoce de crianças com maior risco para o desenvolvimento de obesidade, juntamente com a tomada de medidas para controlar este problema, faz com que o prognóstico seja mais favorável a longo prazo.
Quanto maior a idade e maior o excesso de peso, mais difícil será a reversão da obesidade em função dos hábitos alimentares incorporados e alterações metabólicas instaladas.
Portanto, tratando-se de crianças, pode-se concluir que as dinâmicas ludo pedagógicas são essenciais na promoção de bons hábitos alimentares.


 
As crianças aprenderam mais facilmente por meio de brincadeiras, sobretudo quando o assunto de alimentação saudável, inclui o aumento do consumo de frutas, legumes e verduras, e a diminuição do consumo de doces, frituras etc. 
Sendo assim, os escolares passaram a ter maior contato com os alimentos mais rejeitados (verduras, frutas e legumes) e aprenderam sobre a importância do consumo de cada grupo alimentar (BERNART; ZANARDO, 2011).
E, na mesma linha (RAMOS & STEIN, 2000 29)
A infância é o período de formação dos hábitos alimentares. 

O entendimento dos fatores determinantes possibilita a elaboração de processos educativos, que são efetivos para mudanças no padrão alimentar das crianças . 
Tais mudanças irão contribuir no comportamento alimentar na vida adulta (BISSOLI & LANZILLOTTI, 1997/10).
 

Neofobia
 
A transição da dieta láctea da primeira infância para a alimentação da família requer que a criança aprenda a aceitar pelo menos alguns dos novos alimentos oferecidos a ela. 
A relutância em consumir novos alimentos recebe o nome de neofobia
Muitos dos alimentos que as crianças rejeitam inicialmente terminarão sendo aceitos se a criança tiver ampla oportunidade de provar os alimentos em condições favoráveis (BIRCH, 1999b 7).


A aprendizagem é fator importante na aceitação dos novos alimentos, e está cientificamente provado que existe relação direta entre a freqüência das exposições e a preferência pelo alimento (EUCLYDES, 2000b 15). 
A exposição repetida à prova de alimentos não familiares é uma estratégia promissora para promover preferências e prevenir rejeições alimentares por crianças (WARDLE, et al, 2003 39).

 
São necessárias de 5 a 10 exposições a um novo alimento para se ver um aumento na preferência pelo mesmo (BIRCH, 1999).


Um estudo foi realizado para se determinar se experiências alimentares nos primeiros dois anos de vida influenciam na variedade de consumo alimentar por crianças em idade escolar.
Os resultados revelaram que a variedade de vegetais consumidos por crianças em idade escolar foram preditos pelas preferências por vegetais das mães, enquanto o consumo de frutas se relacionou à variedade de frutas no período de introdução da alimentação complementar. 
A educação nutricional passada pelas mães deveria enfatizar a importância 


                        

da experiência da alimentação nos primeiros dois anos de vida, para favorecer a aceitação de variedades de vegetais e frutas na idade escolar (SKINNER, et al, 2002 18).

 Uma farmácia colorida 
 
Sabe-se que pelo conteúdo antioxidante, as frutas e hortaliças podem proteger as células contra danos oxidativos e inibir a sintése de substancias inflamatórias(Wynn et al, 2010)


          

Além disso, são alinemtos ricos em fibras e possuem baixa densidade energética aumentando a saciedade (efeito manifestado após o término da alimentação) e a saciação (efeito que determina a finalização da refeição) quando ingeridas ( Barreto et al,2005).

Deste modo, são responsáveis pela proteção contra diversas doenças dentre as quais se destacam osteoporose (Wynn et al, 2010), cancer gástrico (Bastos et al, 2009), doenças neurodegenerativas e declinios relacionados à idade (Joseph et al, 2009), hipertensão (Alonso et al, 2004), doenças cardiovasculares (Voutilainen et al, 2006), linfomas (Zhang et al, 2000), diabetes tipo II (van Dam et al, 2002) e obesidade (Tamers et al, 2009).


A fim de prevenir as doenças crônicas não transmissíveis, a OMS recomenda o consumo mínimo de 400g de frutas e hortaliças diariamente (WHO 2003).
Programas de incentivo ao consumo desses alimentos foram elaborados principalmente em países desenvolvidos, sendo denominados programas " Five A Day" em que são recomendadas 5 porções de frutas e hortaliças diariamente (WHO 2003).
No Brasil, foi desenvolvido um guia alimentar que recomenda o consumo mínimo de 6 porções ao dia (Brasil, 2006).
No entanto, apesar das recomendações a população não consome as quantidades adequadas de frutas e hortaliças   


SOBRE OS FATORES GENÉTICOS, FISIOLÓGICOS E HEREDITÁRIOS COMO CAUSADORES DA OBESIDADE

Grande ênfase se dá também aos fatores de ordem genética no desenvolvimento da obesidade.
Alguns autores se referem à questão genética da obesidade como "herança familiar''
Indica-se que a correlação entre sobrepeso dos pais e de filhos é grande e decorre do compartilhamen to da hereditariedade e a do meio-ambiente.

Ainda sobre a influência genética no desenvolvimento da obesidade, sabe-se que os fatores  hormonais e neurais, que influenciam os sinais de curto e longo prazo relacionados à saciedade e à regulação do peso corporal normal, são determinados geneticamente.

Defeitos na expressão e na interação desses fatores podem contribuir para o aumento do peso corporal. 
Há evidências, também, que fatores genéticos podem influenciar o gasto energético, principalmente, a taxa metabólica basal (TMB).
Alguns estudos têm mostrado a ação do hormônio leptina no desenvolvimento da obesidade, visto que a leptina atua na redução do consumo alimentar e no aumento do gasto energético.

Apesar de pessoas obesas apresentarem níveis elevados de leptina, a falha pode estar em seu receptor ou ocorrer por diminuição na sensibilidade do organismo aos efeitos da leptina.
Outras desordens endócrinas como o hipotireoidismo e problemas no hipotálamo, alterações no  metabolismo de corticosteróides, hipogonadismo em homens e ovariectomia em mulheres,  síndrome de Cushing e síndrome dos ovários policísticos podem ainda conduzir à obesidade.

Os aspectos genéticos, fisiológicos e hereditários abordados aqui são apenas uma pequena parcela  da variedade desses aspectos que podem estar relacionados com a etiologia da obesidade e que merecem atenção dos pesquisadores para que haja a elucidação dos vários mecanismos pelos
 

quais  eles influenciam no desenvolvimento dessa patologia.

Porém,uma crítica se faz,  na limitação à análise desses aspectos no processo de desenvolvimento da obesidade, deixando, por vezes, à margem, aspectos determinantes de natureza social, referentes  à dinâmica e funcionamento da sociedade capitalista.
Sobre essa realidade, mais evidente nos dias atuais, faz-se importante considerarmos os escritos de  Leontiev.

Esse autor afirma que o desenvolvimento humano fez e faz com que cada vez mais as  leis sócio-históricas interfiram nas mudanças fisiológicas do homem, ao invés das leis biológicas.
Assim, a partir da hominização, cada vez mais, o que age sobre o homem são suas condições sóciohistóricas.
              

Portanto, o que provoca as diferenças entre os homens, como, por exemplo, a condição  corporal obesa e não obesa, são as desigualdades sociais provocadas pelas sociedades de classes,  uma vez que os homens, diferentemente dos animais, não são biologicamente determinados.

Isto não significa que não somos seres biológicos, mas que as relações sociais onde estamos inseridos interferem de forma decisiva na nossa condição biológica. 
Sobre essa questão, podemos destacar o seguinte trecho escrito por Marx e Engels:

[...] a sociedade burguesa, por ser baseada numa forma de exploração do homem pelo homem que mistifica as relações sociais, também oculta a sua verdadeira natureza. 
transformar as relações sociais em relações entre coisas, faz com que essas relações apareçam como se fossem naturais (p. 9-10).

É certo que os seres humanos nascem com certa predisposição genética para desenvolver certas doenças. 
É importante considerarmos, no entanto, que o que vai determinar o desenvolvimento ou não destas doenças, são os determinantes sociais, materiais e concretos, inclusive no que diz  respeito a ter ou não acesso aos melhores tratamentos e às melhores formas de prevenção de doenças.

SOBRE OS FATORES PSICOLÓGICOS, ESTRESSE, FUMO E ÁLCOOL
COMO CAUSADORES DA OBESIDADE
 
Também se destacam na literatura os fatores de ordem psicológica e psíquica, sendo estes, na maioria das vezes, ligados a questões comportamentais que resultam, por fim, na falta de adaptação social do sujeito e, conseqüente, desenvolvimento de transtornos psicológicos.

Dentre estes fatores psicológicos apontados como relacionados com o desenvolvimento de obesidade, podemos citar: a baixa auto-estima, a ansiedade e a depressão.
A esse respeito, é importante tratarmos da questão do trabalho em nossa sociedade. 
De acordo com Netto e Braz, a divisão social do trabalho faz com que a própria ação do homem se torne para este um poder alienado e a ele oposto, que o subjuga, em vez de ser ele a dominá-la. 
Assim que o trabalho começa a ser distribuído, cada homem tem uma atividade determinada e exclusiva que lhe é imposta e a qual não pode sair se não quiser perder seus meios de subsistência. 
E essa fixação da atividade social, segundo os autores, "escapa ao nosso controle, contraria as nossas expectativas e aniquila os nossos cálculos".

E isso tem forte relação com o estresse, promotor de problemas de ordem psíquica e psicológica, como ansiedade e depressão, importantes desencadeadores da obesidade.

No trato dos fatores psicológicos e psíquicos da obesidade, também é fundamental apresentarmos os escritos de Navarro.

A autora, ao analisar a relação entre o trabalho, saúde e tempo livre dos
trabalhadores na sociedade capitalista, afirma que o contexto da precarização do trabalho propiciou o crescimento da incidência, entre os trabalhadores, de doenças como a depressão, a síndrome do pânico, o estresse, fumo, alcoolismo, dentre outros transtornos que apresentam comprovada relação com as precárias condições de trabalho. 

                       

Ainda de acordo com Navarro:

A análise da equação trabalho/saúde/tempo livre nos dias atuais passa, pois, pela compreensão da lógica que rege a intensificação do trabalho na sociedade capitalista contemporânea.

Lógica esta que desemprega, extingue empregos formais e cria toda sorte de trabalhos precários; lógica que produz tecnologias altamente sofisticadas que permitem o aumento nos ganhos de produtividade, diminuição do tempo necessário para a produção e, ao mesmo tempo, amplia a jornada de trabalho e intensifica a utilização de horas extras em prejuízo da saúde e do tempo livre das pessoas. (p. 56)

Como exemplo dos efeitos desta lógica que rege a intensificação do trabalho na sociedade capitalista, pode verificar que a taxa de desemprego no Brasil vem aumentando: enquanto no ano 2000 o Brasil tinha uma taxa de desemprego de 7.5%, em 2008, o Brasil contava com uma taxa de desemprego de 7.9%.
 
De acordo com dados do IBGE, nosso país fechou o ano de 2009 com uma taxa de 8,1%, marcando um progressivo crescimento no número de desempregados no Brasil.
Além desse quadro de precarização do trabalho e aumento do desemprego, não podemos deixar de destacar o papel da mídia no desenvolvimento da obesidade. 
Esta, de acordo com Wanderley e Ferreira, impõe ideal de saúde e beleza, difunde conselhos dietéticos, estéticos, esportivos, eróticos e psicológicos, e ainda, impõe um padrão idealizado e homogêneo de beleza, pouco provável de ser alcançado. 
Tal realidade pode contribuir de forma significativa para os aspectos psicológicos e psíquicos envolvidos na gênese da obesidade.

                             
Os indivíduos com excesso de peso e obesidade sofrem com vários problemas causados pela situação ora apresentada, preconceito e discriminação, são um desses problemas e, porque não dizer, um dos mais difíceis de serem enfrentados. 
“Diante da fome e da desnutrição, o sentimento é de pena e mobilização comunitária, mas diante da obesidade, o sentimento é de desprezo e de segregação social” (VIUNINSKI, Nataniel. Epideomologia da Obesidade e Síndrome Plurimetabólica na Infância e Adolescência. In: DÂMASO, A. (Coord.). Obesidade. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. p. 16-
30.).
Em artigo, baseado em revisão de bibliografia que trata do tema, os médicos psiquiatras, SEGAL, CARDEAL e CORDÁS, ao citarem LAURENT-JACCARD & VANNOTTI e MORE et al., argumentam que:
Pessoas obesas são alvo de preconceito e discriminação em importantes países industrializados.

      
Isto pode ser observado nas mais variadas e corriqueiras situações, como programas de televisão, revistas e piadas. 
Além ou por causa disso, são pessoas que cursam um menor número de anos na escola, que têm menor chance de serem aceitas em escolas e, posteriormente em empregos mais concorridos, que têm salários mais baixos, que têm menor chance de estarem envolvidas num relacionamento afetivo estável.[Aspectos psicossociais e psiquiátricos da  obesidade.
Revista de Psiquiatria Clínica, v.29, n.2, São Paulo. Disponível em: htttp://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol29/n2/81.html.>. Acesso em: 16 set. 2007.]

           
Pensando em estimular ações no âmbito escolar, o documento “Parâmetros  Curriculares Nacionais (PCNs)”, tratando da questão da saúde como um tema transversal, enfatiza que seja possível e necessário que o tema “transite” por todos os componentes curriculares (BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental.
Parâmetro Curriculares Nacionais: meio ambiente e saúde. Brasília, 1997.  128p.). 
   O texto do PCN coloca a obesidade, além da desnutrição e as anemias, como uma questão a ser discutida pela escola e destaca em sua redação o seguinte :
A alimentação inadequada apresenta-se como o principal problema e, portanto, a pesquisa em alimentos ricos em nutrientes e a necessidade de se adotar um cardápio equilibrado e compatível com as possibilidades oferecidas pelas particularidades de cada realidade são formas acessíveis ao trabalho da escola no sentido de prevenir a desnutrição e as anemias.

                               
Por outro lado, a obesidade é hoje um problema de saúde de grandes proporções com elevada prevalência entre jovens de diferentes grupos sociais.
O consumo excessivo de açúcar, especialmente entre as crianças é destacado como um hábito alimentar a ser transformado, não se justificando o grau de consumo (em todo o país) por necessidades calóricas e sim por fatores culturais, o que causa prejuízos amplamente comprovados, particularmente à saúde bucal, contribuindo também para a obesidade precoce.

A associação que se faz com freqüência de que uma criança “gorda” é uma


                                           

criança bem alimentada deve ser reconsiderada, uma vez que as anemias e a obesidade não são mutuamente excludentes e esta última é um importante fator de risco para doenças crônico-degenerativas (como hipertensão arterial, diabetes e problemas cardiovasculares), cada vez mais importantes entre brasileiros de todas as classes sociais.

Professor de Educação Física da Rede Estadual de São Paulo, Diretoria Regional de Ensino de São Carlos; aluno do II Curso de Especialização em Educação Física Escolar do DEFMH/UFSCar.
2 Professora Adjunta do Curso de Especialização em Educação Física Escolar do DEFMH/UFSCar.

           

Destarte, só posso dizer, coma mais frutas faça um pouco de atividade fisíca e siga o que está escrito abaixo..!!
               
           

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Artes - ( Plásticas )

                         
                           
    "os poetas, como os cegos, 
      podem ver no escuro"
                                Jorge Luis Borges

Mercê da sua irredutível singularidade, a obra de arte, enquanto metáfora epistemológica do mundo, oferece, pela sua abertura, um diálogo entre o artista e o seu público, permitindo a este a tarefa de o completar, como intérprete.
Dentre os possíveis e variados conceitos que a arte pode ter podemos sintetizá-los do seguinte modo - a arte é uma experiência humana de conhecimento estético que transmite e expressa idéias e emoções na forma de um objeto artístico (desenho, pintura, escultura, arquitetura etc) e que possui em si o seu próprio valor.
Portanto, para apreciarmos a arte é necessário aprender sobre ela.

Aprender a observar, a analisar, a refletir, a criticar e a emitir opiniões fundamentadas sobre gostos, estilos, materiais e modos diferentes de fazer arte.
Cada sociedade possui seus próprios valores morais, religiosos, artísticos entre outros. Isso forma o que chamamos de cultura de um povo.

Mas uma cultura não fica isolada e sofre influências de outras, portanto, nenhuma cultura é estática e sim dinâmica e mutável. 
A arte, ao longo dos tempos, tem se manifestado de modos e finalidades diversas. 
Na Antiguidade, em diferentes lugares a arte era vislumbrada em manifestações e formas variadas - na Grécia, no Egito, na Índia, na Mesopotâmia...

Os grupos sociais vêem a arte de um modo diferente, cada qual segundo a sua função.
Nas sociedades indígenas e africanas originais, por exemplo, a arte não era separada do convívio do dia-a-dia, mas presente nas vestimentas, nas pinturas, nos artefatos, na relação com o natural e o sobrenatural, onde
                                                              
                  
cada membro da comunidade podia exercer uma função artística.
Somente no séc. XX a arte foi reconhecida e valorizada por si, como objeto que possibilita  uma experiência de conhecimento estético.
Ao longo da história da arte podemos distinguir três funções principais para a arte - a pragmática ou utilitária, a naturalista e a formalista.

Função pragmática ou utilitária: a arte serve como meio para se alcançar um fim não-artístico, não sendo valorizada por si mesma, mas pela sua finalidade.
Segundo este ponto de vista a arte pode estar a serviço para finalidades pedagógicas, religiosas, políticas ou sociais.

Não interessa aqui se a obra tem ou não qualidade estética, mas se a obra cumpre seu papel moral de atingir a finalidade a que ela se prestou. 

Uma cultura pode ser chamada pragmática quando o comportamento, a produção intelectual ou artística de um povo são determinados por sua utilidade.
Função naturalista: o que interessa é a representação da realidade ou da imaginação o mais natural possível para que o conteúdo possa ser identificado e compreendido pelo observador.

                              
A obra de arte naturalista mostra uma realidade que está fora dela retratando objetos, pessoas ou lugares. 
Para a função naturalista o que importa é a correta representação (perfeição da técnica) para que possamos reconhecer a imagem retratada; a qualidade de representar o assunto por inteiro; e o vigor, isto é, o poder de transmitir de maneira convincente o assunto para o observador.

Como exemplo é possível usar a obra que está exposta no museu D'Orsay em paris do artista Gustave_Courbet, e que  pelo seu histórico e caráter polêmico, recomendo que ao acessar o link, faça-o em um ambiente que não seja conservador e longe dos olhos de crianças para não ser interpretado como alguém pervertido(a), sim é isso mesmo, esta obra de arte possui a força de despertar as mais variadas emoções e opiniões em quem a contempla, a obra em questão é L'Origine du monde. clique na imagem para ampliar.

Obra que foi parar na sala da casa de campo do psicanalista francês Jacques Lacan, que por sua crueza, foi escondido sob uma pintura de madeira do seu cunhado André Masson.

Função formalista: atribui maior qualidade na forma de apresentação da obra preocupando-se com seus significados e motivos estéticos.

                             
                                     
 
A função formalista trabalha com os princípios que determinam a organização da imagem - os elementos e a composição da imagem.
         
 
Com o formalismo nas obras, o estudo e entendimento da arte passaram a ter um caráter menos ligado às duas funções anteriores importando-se mais em transmitir e expressar idéias e emoções através de objetos artísticos.

Foi só a partir do séc. XX que a função formalista predominou nas produções artísticas através da arte moderna, com novas propostas de criação. 
O conceito de arte que temos hoje em dia é derivado desta função.

Arte Figurativa ou Figurativismo: é aquela que retrata e expressa a figura de um lugar, objeto,

                   
pessoa ou situação de forma que possa ser identificado, reconhecido. 
Abrange desde a figuração realista (parecida com o real) até a estilizada (sem traços individualizadores). 
O figurativismo segue regras e padrões de representação da imagem retratada.


Arte Abstrata ou Abstracionismo: termo genérico utilizado para classificar toda forma de arte que se utiliza somente de formas, cores ou texturas, sem retratar nenhuma figura,

                                     
rompendo com a figuração, com a representação  naturalista da realidade.

                            
Podemos classificar o abstracionismo em duas tendências básicas:
a geométrica e a informal.

Uma imagem guarda uma semelhança com algo, representando aquilo que o nosso sentido da visão pode captar, aquilo que podemos ver, ou que nossa imaginação pode criar. 
Assim, o reflexo de nosso rosto na água é uma imagem que a natureza se encarregou de criar.
O ser humano, ao longo de seu desenvolvimento, tem procurado encontrar formas de registrar essa imaginação ou realidade captada, através de pinturas, desenhos, esculturas, gravuras ou filmes, ou seja, utilizando representações imagéticas

A principal diferença entre imagem e representação imagética é que imagem é tudo aquilo que nosso sentido da visão pode captar registrando tanto o que é realidade quanto imaginação, e representação imagética são imagens carregadas de significados organizados ou não de maneira consciente - com
valores artísticos.

                                 

Os significados e intenções na criação variam de acordo com o período, lugar e pessoas, ou seja, de acordo com o contexto histórico. 
Desde tempos remotos, o ser humano já procurava fazer representações

                                  http://cristendencias.com/wp-content/uploads/2012/06/pinturas-rupestres-mostram-o-que-e-arte-antiga.jpg

imagéticas nas paredes das cavernas.

                     

Essas imagens podiam ter finalidades místicas e de sobrevivência.
Na Idade Média, as imagens das obras de arte possuíam um cunho educativo                                  
a serviço da religião.

Já no Renascimento as imagens artísticas procuravam elevar a condição do
                             
                                                                


ser humano a um nível maior.

No Romantismo e Modernismo, as obras de arte possuíam fins diversos,

                                             

como protestos e denúncias dos problemas políticos e sociais.
                             
                                
Como foi mencionado anteriormente, a arte é uma experiência de conhecimento estético de transmissão e expressão de idéias e sentimentos. 
Associamos a palavra estética à arte e também à beleza.

Histórico sobre a Estética

A palavra "estética" é derivada do grego aisthesis, significando sentir.
A raiz grega aisth, no verbo aisthanomai, quer dizer sentir, não com o coração ou com sentimentos, mas com os sentidos, rede de percepções físicas (Barilli 1989;2).

O termo é hoje tão largamente utilizado que pode servir para qualificar tanto as filosofias do belo, quanto a elegância de uma fórmula matemática, os objetos artísticos, ou até mesmo um crepúsculo, as cercanias do mar, um rosto trabalhado pelo tempo(como diria Borges).

Quando observamos uma obra de arte ou uma imagem qualquer ela primeiro é sentida (percepção pelos sentidos), depois ela é analisada (interpretação simbólica do mundo) e, por fim, entendida e apreciada (conhecimento intuitivo). 
Desta maneira é que temos uma experiência estética com a obra de arte ou imagem.
( APOSTILA DE ARTE - ARTES VISUAIS - Garcia Junior )

Ela também é utilizada na filosofia, e embora a palavra em si, no contexto filosófico em que viria a ser inserida, só tenha aparecido em 1735, as questões relativas à estética, no Ocidente, tiveram sua origem no mundo grego, mais especialmente no pensamento de Platão (428-348), em cuja obra encontramos a primeira teoria da arte e do belo que temos noticia. 

De fato, foi Platão quem levantou os problemas relativos a criação, para os quais foram dadas as mais diversas interpretações através do tempo e com os quais nos debatemos até hoje, tais como a natureza da inspiração, a relação da criação com a emoção, o impacto  e efeitos da arte sobre o receptor, as antinomias entre o conhecimento verdadeiro e a ilusão das paixões, as conseqüências do descomedimento e as virtudes da temperança...Se Platão levantou esses problemas, Aristóteles (por volta de 384-322 a. C ) foi o primeiro a lhes dar formalização na sua Poética, obra que sem margem de erro, pode ser qualificada como a teoria da arte e critica mais influente em toda  a história do Ocidente.

Após o exposto acima, vale salientar que  temos ainda dificuldade de classificar o trabalho dos artistas, em relação , se é arte popular ou erudita.

E para isso recorro a poeta e historiadora da arte Lélia Coelho Frota, que revela esse reconhecimento ao responder a pergunta feita por Riccardo Gambarotto, em entrevista concedida à Revista Raiz, sobre que distinção faria entre arte popular, arte acadêmica e arte erudita e se essa segmentação toda faz sentido:

“"Prefiro segmentar antes de tudo pela qualidade plástica. Depois, por um estilo reconhecível. 
Digo de determinadas obras que são de fonte popular, porque assimilaram muito da origem de seus autores. 
No mais, eles são híbridos culturalmente, como são também os outros artistas.
Tarsila, quando faz o Abaporu, Rubem Valentim, quando trabalha sobre aqueles símbolos dos orixás, estão misturando culturas. 

A grande riqueza do Brasil são essas fronteiras ondulantes, que se interpenetram, essa mestiçagem permanente [...]Poria, uma Tarsila, uma Rubem Valetin e um Louco da Bahia na mesma parede, não só eu. S. Dillon Ripley, grande erudito e diretor do Smithsonian na época áurea do instituto, já dizia na década de 60 que todas essas manifestações – as artes tribais, por exemplo –, por sua qualidade, tinham de ser colocadas no mesmo espaço museológico que quaisquer outras, nos mesmos espaços da produção renascentista ou contemporânea, com o aval da crítica dos museus e da cultura hegemônica.”" (FROTA, 2007).

Raymond Williams (1992) identifica a origem de termo cultura no processo de cultivo de vegetais e no de criação e reprodução de animais.

A evolução do conceito de cultura, para o autor, parte de antigas concepções como cultivo, tanto de plantas e animais como da mente humana, até resultar numa generalização capaz de definir o que se passa entre os indivíduos mesmo à distância. 
E esclarece que o termo cultura “se tornou, em fins do século XVIII, particularmente no alemão e no inglês, um nome para configuração ou generalização do ‘espírito’ que informava o ‘modo de vida global’ de determinado povo” (WILLIAMS, 1992, p.10).

O que implica, segundo Willians, em alguns complicadores uma vez que o significado de uma obra de arte, por exemplo, pode estar vinculado a um contexto específico, ao passo que a análise descontextualizada pode causar distorções em relação ao sentido originalmente proposto. (Idem).

Willians resgatou, ainda, Antonio Gramsci, e principalmente sua concepção de hegemonia, que sugere que uma determinada classe domine e subordine significados, valores e crenças a outras classes.

No entanto, Gramsci afirmou que apesar da difusão de um pensamento hegemônico por determinada classe, as demais não equacionam tal pensamento com a consciência, ou seja, não reduzem sua consciência a tal pensamento.  (Idem).

Desse modo, segundo Willians, cultura:

“é todo um conjunto de práticas e expectativas, sobre a totalidade da vida: nossos sentidos e distribuição de energia, nossa percepção de nós mesmos e nosso mundo. 
É um sistema vivído de significados e valores – constitutivo e constituidor – que, ao serem experimentados como práticas parecem confirmar-se reciprocamente” (Ibidem).
Nesse sentido, a hegemonia produz contra-hegemonia, ou seja, a cultura dominante produz e limita, ao mesmo tempo, suas formas de contracultura.

Patrimônio Artístico

“O patrimônio é uma poderosa construção sígnica, constituída e instituída a partir de percepções identitárias e integralmente vinculada ao sentimento de pertença – a partir do qual se reflete em todos os jogos da memória e se expressa em todas as representações sociais.

'Patrimônio’ é, portanto, um conceito polissêmico, que pode estar vinculado tanto ao conjunto de elementos possuídos pelo indivíduo, na esfera pessoal, como ao conjunto de signos reconhecidos como 'bens', por uma ou mais coletividades. 
Impregnado de um sentido econômico, expressa as relações que cada grupo social estabelece com a natureza ou com sua produção cultural – estando diretamente influenciado pelas maneiras sob as quais cada sociedade compreende Natureza e Cultura”. (SCHEINER, 2002)

Adiciono abaixo, a asserção de Reginaldo Gonçalves (2006) para ajudar a consubstanciar o conceito de patrimõnio.

[...] a categoria "patrimônio", distinguindo os diversos significados que ela pode assumir em suas variações no tempo e no espaço. 
Focalizando seus usos sociais e simbólicos, tenho problematizado as noções modernas de "patrimônio cultural", mostrando situações que se caracterizam pela inserção do patrimônio em totalidades cósmicas e morais, onde suas fronteiras são bem pouco delimitadas. 
Tenho sublinhado ainda que os "patrimônios culturais" seriam entendidos mais adequadamente se situados como elementos mediadores entre diversos domínios social e simbolicamente construídos, estabelecendo pontes e cercas entre categorias cruciais, tais como passado e presente, deuses e homens, mortos e vivos, nacionais e estrangeiros, ricos e pobres, etc. 
Nesse sentido, tenho sugerido a possibilidade de pensar o patrimônio em termos etnográficos, analisando-o como um "fato social total", seguindo a rica noção de Marcel Mauss (2003, p. 185-318), e desnaturalizando seus usos nos modernos "discursos do patrimônio cultural." (Idem)

Por fim, vale ressaltar que, há sempre que ficar atento para o fato de os bens culturais que a sociedade dispõe não pertencerem a todos, embora, oficialmente, esses bens venham a representar e estejam disponíveis ao uso de toda a sociedade, o que se vê é que a apropriação do patrimônio se dá de maneira desigual pelos vários setores da sociedade.
         
                                  

Termino com a inserção abaixo:

Trechos do poema Emparedado de Cruz e Souza

                                             

[....] Desde que o Artista é um isolado, um esporádico, não adaptado ao meio, mas em completa, lógica e inevitável revolta contra ele, num conflito perpétuo entre a sua natureza complexa e a natureza oposta do meio, a sensação, a emoção que experimenta é de ordem tal que foge a todas as classificações e casuísticas, a todas as argumentações que, parecendo as mais puras e as mais exaustivas do assunto, 
são, no entanto, sempre deficientes e falsas.

Ele é o supercivilizado dos sentidos, mas como que um supercivilizado ingênito, transbordado do meio, mesmo em virtude da sua percuciente agudeza de visão, da sua absoluta clarividência, da sua inata perfectibilidade celular, que é o germen fundamental de um temperamento profundo.

Certos espíritos d’Arte assinalaram-se no tempo veiculado pela hegemonia das raças, pela preponderância das civilizações, tendo, porém, em toda a parte, um valor que era universalmente conhecido e celebrizado, porque, para chegar a esse grau de notoriedade, penetrou primeiro nos domínios do oficialismo e da cotterie.

[....] A verdadeira, a suprema força d’Arte está em caminhar firme, resoluto, inabalável, sereno através de toda a perturbação e confusão ambiente, isolado no mundo mental criado, assinalando com intensidade e eloqüência o mistério, a predestinação do temperamento.

[...] É preciso fechar com indiferença os ouvidos aos rumores confusos e atropelantes e engolfar a alma, com ardente paixão e fé concentrada, em tudo o que se sente e pensa com sinceridade, por mais violenta, obscura ou escandalosa que essa sinceridade à primeira vista pareça, por mais longe das normas preestabelecidas que a julguem, — para então assim mais elevadamente estrelar os Infinitos da grande Arte, da grande Arte que é só, solitária, desacompanhada das turbas que chasqueiam, da matéria humana doente que convulsiona dentro das estreitezas asfixiantes do seu torvo caracol.

[....]O Artista é que fica muitas vezes sob o signo fatal ou sob a auréola funesta do ódio, quando no entanto o seu coração vem transbordando de Piedade, vem soluçando de ternura, de compaixão, de misericórdia, quando ele só parece mau porque tem cóleras soberbas, tremendas indignações, ironias divinas que causam escândalos ferozes, que passam por blasfêmias negras, contra a Infâmia oficial do Mundo, contra o vício hipócrita, perverso, contra o postiço sentimento universal mascarado de Liberdade e de Justiça.

[...]Ah! Destino grave dos que vieram ao mundo para ousadamente deflorar as púberes e cobardes inteligências com o órgão másculo, poderoso da Síntese, para inocular nas estreitezas mentais o sentimento vigoroso das Generalizações, para revelar uma obra bem fecundada de sangue, bem constelada de lágrimas, para, afinal, estabelecer o choque violento das almas, arremessar umas contra as outras, na sagrada, na bendita impiedade de quem traz consigo os vulcanizadores Anátemas que redimem.

[...]Artista! Pode lá isso ser se tu és d’África, tórrida e bárbara, devorada insaciavelmente pelo deserto, tumultuando de matas bravias, arrastada sangrando no lodo das Civilizações despóticas, torvamente amamentada com o leite amargo e venenoso da Angústia! A África arrebatada nos ciclones torvelinhantes das Impiedades supremas, das Blasfêmias absolutas, gemendo, rugindo, bramando no caos feroz, hórrido, das profundas selvas brutas, a sua formidável Dilaceração humana!

A África laocoôntica, alma de trevas e de chamas, fecundada no Sol e na Noite, errantemente tempestuosa como a alma espiritualizada e tantálica da Rússia, gerada no Degredo e na Neve — pólo branco e pólo negro da Dor!

Artista?! Loucura! Loucura! Pode lá isso ser se tu vens dessa longínqua região desolada, lá do fundo exótico dessa África sugestiva, gemente, Criação dolorosa e sanguinolenta de Satãs rebelados, dessa flagelada África, grotesca e triste, melancólica, gênese assombrosa de gemidos, tetricamente fulminada pelo banzo mortal; dessa África dos Suplícios, sobre cuja cabeça nirvanizada pelo desprezo do mundo Deus arrojou toda a peste letal e tenebrosa das maldições eternas!

A África virgem, inviolada no Sentimento, avalanche humana amassada com argilas funestas e secretas para fundir a Epopéia suprema da Dor do Futuro, para fecundar talvez os grandes tercetos tremendos de algum novo e majestoso Dante negro!

Dessa África que parece gerada para os divinos cinzéis das colossais e prodigiosas esculturas, para as largas e fantásticas Inspirações convulsas de Doré - inspirações inflamadas, soberbas, choradas, soluçadas, bebidas nos Infernos e nos Céus profundos do Sentimento humano.

Dessa África cheia de solidões maravilhosas, de virgindades animais instintivas, de curiosos fenômenos de esquisita Originalidade, de espasmos de Desespero, gigantescamente medonha, absurdamente ululante — pesadelo de sombras macabras — visão valpurgiana de terríveis e convulsos soluços noturnos circulando na Terra e formando, com as seculares, despedaçadas agonias da sua alma renegada, uma auréola sinistra, de lágrimas e sangue, toda em torno da Terra...

Não! Não! Não! Não transporás os pórticos milenários da vasta edificação do Mundo, porque atrás de ti e adiante de ti não sei quantas gerações foram acumulando, acumulando pedra sobre pedra, pedra sobre pedra, que para aí estás agora o verdadeiro emparedado de uma raça.



                               





segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O Brasil no som de Heitor Villa Lobos


               

                   
                                         "Sou um sentimentalista por natureza e existem                                      momentos em que minha música é escrita docemente,
                                     mas eu nunca trabalho por intuição. Meu processo de
                                                  composição é determinado por razões lógicas".
                                                                   H. Villa-Lobos, (Rio de janeiro, 1941).

"Não escrevo dissonante para ser moderno. De maneira nenhuma. O que escrevo é conseqüência cósmica dos estudos que fiz, da síntese a que cheguei para espelhar uma natureza como a do Brasil. Quando procurei formar a minha cultura, guiado pelo meu  próprio instinto e tirocínio,verifiquei que só poderia chegar a uma conclusão de saber consciente, pesquisando, estudando obras que, à primeira vista, nada tinham de musicais. Assim, o meu primeiro livro foi o mapa do Brasil, o Brasil que eu palmilhei, cidade por cidade, estado por estado, floresta por floresta, perscrutando a alma de uma terra. Depois, as maravilhas naturais dessa terra. Depois, o caráter dos homens dessa terra. Depois as maravilhas naturais dessa terra. Prossegui, confrontando esses meus estudos com obras estrangeiras, e procurei um ponto de apoio para firmar o personalismo e a inalterabilidade das minhas idéias ". [Heitor Villa-Lobos] 

Compositor brasileiro nascido no Rio de Janeiro  em 5 de março de 1887, um dos mais importantes músicos de sua época em todo o mundo, criador das nove Bachianas brasileiras, série em que demonstrou a semelhança de modulações  (vídeo) e contracantos do folclore musical brasileiro com a música de Johann Sebastian Bach, e considerado ainda em vida, o maior compositor das Américas. 
Precoce, teve as suas primeiras lições de música, em um violoncelo, com
                           
ajuda de seu pai, Raul Villa-Lobos. 
No início da adolescência já tocava violão, clarinete e o violoncelo com virtuosismo e seu contato com músicos populares de seu tempo e com a musica tradicional marcou profundamente a sua formação e influenciou diretamente a sua musica.
Ampliou seu contato com a musica popular ao conhecer Ernesto Nazaré   (ouça choro), e em busca de raízes folclóricas, iniciou uma peregrinação pelo Brasil(1905). 
Esteve no Nordeste, no Sul, no Centro-Oeste e na Amazônia(fato que não é comprovado), de volta ao Rio de Janeiro deu início a sua produção (1913), já abordando os mais diversos gêneros. 

O contato com os chorões

Ao voltar ao Rio de Janeiro, a música praticada nas ruas e praças da cidade também passou a exercer-lhe um atrativo especial.
Era o "choro", composto e executado pelos chamados "chorões", músicos que se reuniam regularmente para tocar por prazer e, ainda, em festas e durante o carnaval.

Tal interesse levou-o a estudar violão, ato que precisou realizar escondido de seus pais, pois não aprovavam sua aproximação com autores daquele gênero, pois eram considerados marginais.

Após a morte de seu pai Raul Villa Lobos em 1899, D. Noêmia, sua mãe, não conseguiu mais conter o filho. 
No início dos anos 20, como conseqüência desse envolvimento com o choro, começaria a compor um ciclo de quatorze obras, para as mais diversas formações, intitulado "Choros"; nascia aí uma nova forma musical, onde aquela música urbana se mesclava a modernas técnicas de composição.

Histórico

O choro é um gênero de música popular urbana, que se desenvolveu no Brasil, a partir de meados do século XIX
Originou-se do processo de transformação dos elementos musicais de canções folclóricas e danças originalmente européias (principalmente a polca) e elementos musicais do lundu (forma de canção e de dança de origem africana)                          
que foram lentamente incorporados à música popular urbana praticada no Brasil.
Alguns dos representantes mais significativos da fase inicial do choro são: Joaquim Antônio da Silva Callado, entre suas belas composições destaca-se o chôro "Flôr amorosa", (ouça choro), Callado foi o flautista responsável pela formação do Quarteto Ideal, um dos primeiros grupos de choro, com o qual tocava suas composições.
Temos também, Anacleto Augusto de Medeiros, Francisca Edwiges Gonzaga (mais conhecida por Chiquinha Gonzaga) e Ernesto Nazareth, pois colaboraram na transformação dos elementos musicais das danças européias e do lundu, que resultou numa linguagem musical híbrida: o choro.


                                                
Anacleto foi o principal nome a inicialmente adaptar a música dos chorões
                                   
para as bandas militares de música, destacando-se como regente da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro por vários anos.

Finalmente, os nomes de Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga ficaram como os mais conhecidos não apenas pela popularidade de sua linguagem musical, mas também por tornar o piano um instrumento próprio do choro (CAZES, 1998).


Villa-Lobos, o educador

Villa-Lobos preocupava-se com o descaso com que a música era tratada nas escolas brasileiras e acabou por apresentar um revolucionário plano de Educação Musical à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. 
A aprovação do seu projeto levou-o a mudar-se definitivamente para o Brasil. 
Em 1931, reunindo representações de todas as classes sociais paulistas, organizou uma Concentração Orfeônica chamada "Exortação Cívica ", com a

                               

participação de cerca de 12 mil vozes

Após dois anos de trabalho em São Paulo, Villa-Lobos foi convidado oficialmente pelo Secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro - Anísio Teixeira - para organizar e dirigir a Superintendência de Educação Musical e Artística (SEMA), que introduzia o ensino da Música e o Canto Coral nas escolas. 
Como conseqüência do seu trabalho educativo, viajou de Zeppelin, em 1936,

                               
para a Europa, representando o Brasil no Congresso de Educação Musical em Praga

Com o apoio do então Presidente da República, Getúlio Vargas, organizou Concentrações Orfeônicas grandiosas que chegaram a reunir, sob sua regência, até 40 mil escolares e, em 1942, terminou por criar o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, cujo objetivo era formar candidatos ao magistério orfeônico nas escolas primárias e secundárias, estudar e elaborar diretrizes para o ensino do Canto Orfeônico no Brasil, promover trabalhos de musicologia brasileira, realizar gravações de discos, etc.
Destarte, o ensino do canto tinha grande abrangência como podemos observar no que diz Barreto,

"A finalidade do estudo do canto não é apenas o de promover a aquisição da habilidade de entoar canções, mas de proporcionar melhor compreensão da música e aumento de satisfações, baseados em apreciação e execução.
A apreciação, incluída, forçosamente em cada detalhe do ensino de música, tem o poder de motivá-lo.
Estimula o espírito de análise e observação, e por isso aperfeiçoa a execução.
Concorre, portanto, para o aumento do interesse em compreender e em sentir a música". (Barreto, Ceição de Barros, Côro Orfeão 1938, pág 69)
Vale também aqui, citar Abreu que diz :
"capacidade de aproveitar a música como meio de renovação e formação moral e intelectual" (Abrel, Allyson de, Leis do ensino secundário e seus comentários 1939, pág 91)  .
1) As diretrizes nacionais para o ensino a ser praticado nos Conservatórios de Canto Orfeônico foram criadas no ano de 1946, em busca da uniformização da formação de professores para a disciplina no Brasil, o que sempre foi uma das grandes preocupações do maestro Villa-Lobos enquanto estava à frente da organização do ensino de Canto Orfeônico no Brasil.

                        As disciplinas

 -  Trecho baseado em artigo de( Wilson Lemos Junior e Maria Elisabeth Blanck Miguel ((IFC / PUC-PR))

Em relação ao programa das disciplinas valem aqui algumas considerações.
Villa-Lobos havia proposto um currículo dividido em cinco sessões, sendo uma parte de cultura pedagógica que incorporava as disciplinas comuns da área de educação. 
As demais compunham o repertório de disciplinas relacionadas à formação musical. 
Essas quatro áreas eram divididas da seguinte forma:
Didática do Canto orfeônico; Prática do Canto Orfeônico; Formação Musical e Estética.
Na sessão Didática do Canto Orfeônico nota-se que eram propostas disciplinas de teoria coral e vocal, ou seja, era um elenco de disciplinas que tratava de demonstrar as especificidades do canto em grupo como
Polifonia que se aproxima do curso de Arranjo Vocal, a Fisiologia da Voz e a Prosódia Musical que é uma disciplina que objetiva a relação fonética da letra com a melodia executada. É interessante como Villa-Lobos separou teoria e prática do canto orfeônico.
Essas sessões mostravam que o intuito do Conservatório Nacional de canto Orfeônico era muito mais que um curso de música no sentido mais amplo, mas sim um curso de coral. 
Não havia a preocupação com a formação do músico profissional, com aprofundamento em teorias musicais alheias ao necessário para a formação de um professor que trabalharia com a especificidade do canto coral.

             Villa-Lobos - os 12 Estudos para violão




Estudo composto em 1929, é considerado um dos mais importantes ciclos de estudos para o violão.

 
                                              
Andrés Segovia (1893-1983), violonista para quem o ciclo foi dedicado, registrou, no prefácio da edição em 1953: "Contienen, al mismo tiempo, fórmulas de sorpreendente eficácia para e desarollo de la técnica de ambas manos e bellezas musicales "desinteressadas"...
valores estéticos permanentes de obras de concierto." 

De acordo com o Dicionário Grove de Música um estudo é:
"“Peça instrumental destinada basicamente a explorar e aperfeiçoar uma faceta particular da técnica de execução.
Antes de 1800 utilizava-se uma grande variedade de denominações para diversas peças didáticas, mas no início do séc. XIX passou-se a produzir em abundância material de ensino visando o amador e o profissional ainda em desenvolvimento: os Estudos de Cramer, as primeiras partes do Gradus ad Parnassum, de Clementi, os Studien op.70, de Moscheles, e as muitas coleções de Czerny.
As origens do estudo concertístico, destinado tanto à apresentação pública quanto ao ensino particular, podem remontar aos Études en 12 exercices (c.1827), de Liszt, revisado como os Grandes études (1839) e novamente como os Études d’éxécucion transcendante (1851).

Enquanto isso, Chopin revelava o potencial poético do estudo em seus opp.10 e 25, cada um com 12 peças.
Estudos para piano em grupos de 12 também foram publicados por Alkan (dois grupos, cobrindo todas as 24 tonalidades) e Debussy.
Estudos para muitos outros instrumentos foram escritos nos sécs.XIX e XX, e o termo “estudo” (ou seus equivalentes em outras línguas) tem sido usado nos títulos de numerosas peças orquestrais, incluindo os Quatre études pour orquestre (1929), de Stravinsky, e os Synphonic Studies (1939), de Rawsthorne".”


O encontro entre Segovia e Heitor Villa-Lobos deu-se em Paris, em 1924, por ocasião de uma tertúlia musical organizada na alta sociedade brasileira.

Da colaboração entre Segovia e Villa-Lobos resultou a série de Doze Estudos (1929).
Destacam-se várias obras de Villa-Lobos para violão, por exemplo: a Suite Populaire Bresiliene (1908-12), composta de cinco movimentos, Mazurka-Choro, Schottish-Choro, Valsa-Choro, Gavota-Choro e Chorinho, constituem um excelente retrato da música popular brasileira do início do século, os Choros nº 1 (1921) e os Prelúdios (1940).

Originalmente, em número de seis (o sexto está perdido), os cinco restantes tornaram-se das obras mais populares e executadas na literatura violonística de nosso tempo.
São obras que exploram criativamente as possibilidades tímbricas, expressivas e técnicas do violão.
Os prelúdios tiveram sua estréia realizada em 1943, pelo violonista uruguaio Abel Carlevaro, em Montevidéu.
A última obra composta para violão por Villa-Lobos é o Concerto pour Guitare et Orchestre (1952).
Esta obra foi fruto da insistência de Segovia junto ao compositor brasileiro.
Concebido como uma fantasia concertante, foi-lhe acrescentada uma cadência para violão, tornando-se o concerto para violão e orquestra.
O concerto é a síntese da escrita violonística de Villa-Lobos, apresentando recursos já utilizados nos estudos e prelúdios.
A estréia desta obra deu-se em 1956, em Houston, nos EUA, tendo Segovia como solista e o autor como regente.

                            VILLA-LOBOS E SUA OBRA

Fonte MinC / IBRAM Museu Villa-Lobos 2009

OBRAS INSTRUMENTAIS

Sob este grupo sâo 11 obras

BACHIANAS BRASILEIRAS N° 2 (1930, SP) (vídeo)                
BACHIANAS BRASILEIRAS N° 5 (ÁRIA) (1938/1945)   (vídeo)
BACHIANAS BRASILEIRAS N° 7 (1942,RJ) (vídeo)   
II - CHOROS 

Sob este grupo sâo 16 obras 
                                                           
CHOROS N° 1 (1920) RJ)    (vídeo)                                                                         CHOROS N° 2 (1924, RJ)     (vídeo)
CHOROS N° 3 (1925, SP)    (vídeo)                                                                           CHOROS N° 5 (1925, RJ)     (vídeo)                                     
CHOROS N° 6 (1926, RJ)     (vídeo)
CHOROS N° 10  (1926, RJ)  (vídeo)                                             

(Catullo da Paixão Cearense)

OBSERVAÇÕES: • Subtítulo: "Rasga o Coração"; •

o Autor utiliza, na segunda parte da obra, a canção "Rasga o Coração" -        
com melodia de Anacleto de Medeiros  e letra de Catullo da Paixão Cearense
além de texto onomatopaico de caráter indígena;                       
                       
INTRODUÇÃO AOS CHOROS (1929, RJ/Paris) violão solista
 • dedicada a Paulo prado.(vídeo)

III - OBRAS SINFÔNICAS
1 - ABERTURAS
Sob este grupo sâo 4 obras

2 - POEMAS SINFÔNICOS E/OU BAILADOS
Sob este grupo sâo 26 obras

             ODISSÉIA DE UMA RAÇA (1953, RJ) (vídeo)
OBSERVAÇÕES: Poema sinfônico ou bailado;       
• argumento de Leo Teixeira Leite Filho, 
retirado do livro "Loulou Fantoche (Fantasia de Carnaval)". 
Rio de Janeiro: J. Mattos Editor, 1917; 
• a parte final foi transcrita, pelo Autor,            

PAPAGAIO DO MOLEQUE, O (1932, RJ) (vídeo)
para violoncelo e  piano ou violino e piano,              
sob o título  "O Canto do Cisne Negro".        

RUDÁ (1951, RJ/Nova York);(video


SACI PERERÊ (1917);DURAÇÃO: 15' (vídeo)                     
                                                              
UIRAPURU (1917, RJ) (vídeo)
                
                                                                               
3 - SINFONIAS
Sob este grupo sâo 14 obras




SINFONIETA N° 1 (1916, RJ);             (vídeo)

SINFONIETA N° 2 (1947, RJ);             (vídeo)

SINFONIA N° 12 (1957, Nova York);  (vídeo) 


OBSERVAÇÕES: Escrita especialmente para a Academia Filarmônica   Romana.
                                                                                                                                                    
4 - SUÍTES
Sob este grupo sâo 11 obras
                                             SUITE FOR CHAMBER ORCHESTRA, I  (1959, Paris) ; (vídeo)                
                                                                                                  
IV - CONCERTOS E OUTRAS OBRAS PARA INSTRUMENTO SOLISTA E ORQUESTRA/BANDA

BACHIANAS BRASILEIRAS NO 3 (vídeo)              

CHOROS NO 11; (vídeo)

CONCERTO PARA HARPA E ORQUESTRA (1953, Paris/Nova York) (vídeo)
                                                                           
CONCERTO PARA VIOLÃO E 
PEQUENA ORQUESTRA (1951, RJ) (vídeo)          
  CONCERTO N° 2 PARA VIOLONCELO E ORQUESTRA (1953, RJ);  (vídeo)       
        
FANTASIA PARA SAXOFONE SOPRANO         
 OU TENOR E PEQUENA ORQUESTRA (01/1945, Nova York)(vídeo)
                                              
V - MÚSICA PARA CINEMA E TEATRO
DESCOBRIMENTO DO BRASIL; (vídeo)                            

VALSINHA BRASILEIRA (1937) ; (vídeo)

VI - OUTRAS OBRAS ORQUESTRAIS

DANÇA DOS MOSQUITOS (1922, RJ) (vídeo)                   

LENDA DO CABOCLO(1920) ; (vídeo

 

VII - OBRAS E ARRANJOS PARA BANDA
Sob este grupo sâo 22 obras

VIII - MÚSICA DE CÂMARA

1 - DUOS

Sob este grupo sâo 14 obras

2 - TRIOS

Sob este grupo sâo 7 obras


3 - QUARTETOS (na maioria de cordas)

Sob este grupo sâo 21 obras

4 - QUINTETOS

Sob este grupo sâo 5 obras

5 - OUTRAS FORMAÇÕES

Sob este grupo sâo 8 obras

GUIA PRÁTICO - 1° VOLUME

Sob este grupo sâo 6 obras

6 - OUTRAS OBRAS COM ACOMPANHAMENTO DE PIANO
sob este grupo são 14 obras (entre elas TRENZINHO DO CAIPIRA, O)

IX - OBRAS PARA PIANO SOLO
sob este grupo são 69 obras

X - OBRAS PARA VIOLÃO SOLO
Sob este grupo sâo 17 obras

Estudo N°1 (vídeo)

Suite popular Brasileira (vídeo)


XI - ARRANJOS E TRANSCRIÇÕES DE OBRAS DE OUTROS AUTORES
1 - Orquestra - são 5 obras
2 - Orquestra de violoncelo - são 7 obras 

3 - VIOLONCELO E PIANO
sob este grupo são 6 obras
4 - OUTROS
B - OBRAS VOCAIS
I - MISSAS, ORATÓRIOS, CANTATAS E OUTRAS OBRAS SACRAS
Sob este grupo são 21 obras
II - ÓPERAS E OPERETAS
Sob este grupo são 10 obras
III - CANÇÕES
1 - CANTO E PIANO
Sob este grupo são 68 obras
2 - CANTO E OUTROS INSTRUMENTOS
Sob este grupo são 25 obras
3 - CANTO E ORQUESTRA
Sob este grupo são 29 obras 
4 - CANTO E BANDA
sob este grupo há 1 obra
IV - CORO
1 - CORO A CAPELA
Sob este grupo são 122 obras 
2 - CORO E INSTRUMENTO(S)
Sob este grupo são 29 obras
3 - CORO E BANDA
Sob este grupo são 6 obras
4 - CORO E ORQUESTRA
Sob este grupo são 21 obras
V - ARRANJOS E TRANSCRIÇÕES DE OBRAS DE OUTROS AUTORES
1 - CANTO E ORQUESTRA
Sob este grupo são 9 obras
2 - CORO A CAPELA
Sob este grupo são 100 obras
3 - CORO E INSTRUMENTO(S)
Sob este grupo são 2 obras 
4 - CORO E BANDA
Sob este grupo são 4 obras 
Coleções
CANTO ORFEÔNICO - 1° VOLUME (1940)
Sob este grupo são 41 obras
CANTO ORFEÔNICO - 2O VOLUME (1950)
Sob este grupo são 45 obras
COLEÇÃO ESCOLAR
Sob este grupo são 281 obras

 Coletânea de músicas de vários autores nacionais e estrangeiros, arranjadas e adotadas por Heitor Villa-Lobos; • 
a coleção foi publicada reunindo uma, duas ou três peças por edição. 
Como não há uma ordem entre elas, optou-se por adotar no catálogo a numeração acima, que obedece à ordem alfabética; • *com a indicação: “parte de canto”;(Existem várias outras no catálogo)

GUIA PRÁTICO - 1O VOLUME (1932)
Sob este grupo são 137 obras
MELODIA DAS MONTANHAS (1934/1940)
Sob este grupo são 6 obras
MÚSICA SACRA - 1° VOLUME (1952)
Sob este grupo são 23 obras
SOLFEJOS - 1° VOLUME (1938/1945)
Sob este grupo são 161 obras
SOLFEJOS - 2° VOLUME (1938/1945)
Sob este grupo são 68 obras

Infelizmente, Villa-Lobos morreu de câncer em 17 de novembro de 1959, no Rio de Janeiro.

"Mesmo assim, tornaste presente, quando as moléculas do ar moduladas por sua música,  atinge-nos de forma arrebatadora".

Humildemente, Odair Cerajolis - caminhodecanoa(igarapé)