quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Conceição Maria de Jesus - La griotte da Favela

                       


                                                “Um País se faz com Homens e Livros” 

                                                                               (Monteiro Lobato)

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                               Carolina Maria de Jesus  - livro quarto de despejo

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                                                         Sábado 11/01/2014

                                                                    Perdoem a irreverência....

Griot = Em  Afrique noire. Membre d`une caste de conteurs ambulants, auquel on atribue parfois des pouvoirs magiques {Le Robert, dictionnaire de la langue française}

 A etimologia do nome Favela     


Na coleção Novo conhecer da Abril Cultural no livro Brasil sob o título  Rio: de 1800 aos nossos dias na página 300 coluna c traz sobre as transformações pelas quais passava a capital do Império agora república, o seguinte trecho :
 “A vida social recebeu um novo verniz pariense. Mundanismo e literatura estavam na ordem do dia e uma coisa mal se distiguia da outra. 
Os salões que vinham do Império, se renovavam. O povo pobre ainda não vivia em favelas. Mas, a primeira delas, a Favela propriamente dita, já se esboçava perto de onde é hoje a Centrak do Brasil.

 Era um amontoado de casas ou barracos onde se haviam fixado antigos soldados da Guerra de Canudos, com as esposas trazidas da Bahia.
Deram ao local o mesmo nome de um morro do Arrail de Canudos: Favela.  
    O escritor Pedro A. Pinto, no raríssimo “Os Sertões de Euclides da Cunha” (Vocabulário e Notas Lexicológicas), Rio, Editora Francisco Alves, 1930, define o termo FAVELA como: “Monte ao sul de Canudos”. Cita também o termo faveleira, afirmando ser uma espécie de planta euforbiácea, que segundo o próprio Euclides da Cunha, significa leguminosa. Por último, a descrição botânica do termo FAVELA, encontra-se às páginas 37 e 38 da obra citada da seguinte forma: “AS FAVELAS, ANÔNIMAS AINDA NA CIÊNCIA – IGNORADAS DOS SÁBIOS, CONHECIDAS DEMAIS DOS TABARÉUS – TALVEZ UM FUTURO GÊNERO CAUTERIUM DAS LEGUMINOSAS, TÊM, NAS FOLHAS DE CÉLULAS ALONGADAS EM VILOSIDADES, NOTÁVEIS APRESTOS DE CONDENSAÇÃO, ABSORÇÃO E DEFESA”.
   
  
Assim sendo, o termo FAVELA, citado em OS SERTÕES de Euclides da Cunha, não tem o significado pejorativo que tem nos dias de hoje: “FAVELA, (...) Conjunto de casebres toscos e miseráveis, geralmente em morros, onde habitam marginais (...).”  (Dicionário Caldas Aulete, Rio, Delta, Edição Brasileira, 1958.) 
O Padre Fernando Bastos de Ávila, S.J., em sua Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo, Rio, MEC/FENAME, 2.ª edição revista e atualizada, 1972, afirma textualmente o seguinte:  “FAVELA. Etimologicamente é um termo latino que significa pequena fava. Historicamente, é o nome de uma pequena colina de uma região da Bahia, de onde provieram os migrantes que se instalaram, pela primeira vez, no Rio de Janeiro, nas imediações da Estação Pedro II da Central do Brasil. Ocuparam, na ocasião, uma pequena elevação, que, pela semelhança com a colina baiana, chamaram de favela. Daí o nome se estendeu a todas as aglomerações de barracos construídos na cidade do Rio de Janeiro, seja em escarpas, seja em regiões planas, em geral alagadiças, e que apresentam as seguintes características: 1) ocupação efetiva do terreno, sem título jurídico que dê aos ocupantes a posse legal do mesmo; 2) carência de serviços básicos de qualquer aglomeração urbana, principalmente água e esgotos; 3) precariedade das construções dos barracos, feitos pelos próprios moradores, não só sem nenhum plano de conjunto que os proteja contra incêndios  e facilite a circulação, como sem garantias de estabilidade contra a ação das intempéries, especialmente das chuvas torrenciais; 4) condições subumanas de vida, em especial devidas à exigüidade do espaço que obriga a uma vida de promiscuidade. (...)  As favelas são o resultado de dois fatores básicos: 1) o ritmo das migrações internas (...); 2) o baixo nível dos salários. (...) Não existe uma solução única para todas as favelas; nem se pode tratar de erradicá-las para as transplantar para as zonas periféricas, porque a favela não é um fenômeno vegetal, e sim humano: nem se trata de urbanizá-las todas ‘in loco’, porque muitas estão localizadas  em sítios que exigiriam custos vultosíssimos para o mínimo de condições indispensáveis de urbanização. (...)” 
             
                                     Uma foto colorida da favela

Iniciei com a definição etimiologica da palavra favela, porque acredito que ajudará na compreensão dos significados dos trechos do livro ou comentários que irei inserir nesta postagem sobre a digníssima dama Carolina Maria de Jesus


Na definição de favela, pode-se vêr que há preconceitos declarados, e descrições de uma situação onde uma população esquecida pelo Estado é explorada e execrada pela sociedade burguesa.
Não a conheci Carolina e não havia lido seus livros, somente havia lido algumas resenhas á muito tempo, porém, a idéia ficou latente e quando de forma fortuita a oportunidade de ler o seu livro Quarto de despejo, apareceu, não titubiei  e durante a leitura fui encantando-me com sua forma simples, não obstante, cheia de significados e ensinamentos sobre o comportamento e forma de viver dos diversos estratos sociais do Brasil.

Vou inserir um trecho de 20 de maio de1955, para ilustrar,

..."Abri a janela e vi as mulheres que passam rápidas com seus agasalhos descorados e gastos pelo tempo. Daqui a uns tempos estes palitol  que elas ganharam de outras e que de há muito devia estar num museu, vão ser substituído por outros. É os políticos que há de nos dar.
Devo me incluir, porque eu também sou favelada....Sou rebotalho. Estou no quarto de despejo, e o que está no quarto de despejo ou se queima ou se joga no lixo".
  

Perspicácia, consciência,lirismo, amargura, atributos dos grandes literatos incensados pela mídia, mas no caso dela com tradução em vários idiomas, parece-me que não, pelo menos foi o que inferi ao fazer a rápida pesquisa no Google, e pelo pífio resultado obtido, em um contexto, onde os meios de comunicação, junto com às afirmações oficiais através de seus orgãos de cultura dizem que querem,  promover políticas afirmativas , dar,  exaltar, fortalecer, a chamada cultura e a "arte popular", justificam a minha irreverência  inicial.
Creio ser possível, arrolar no conjunto, a questão da educação, pois, Carolina ( soa-me lindo este nome), com apenas dois anos de escola, conseguir ler, escrever e produzir uma vasta obra ainda hoje, desconhecida do grande
          
público  e na qual consta o  livro Quarto de despejo, que segundo José Carlos Sebe Bom Meihy "Vale ressaltar que não se fala apenas de um esquecimento corriqueiro visto que o livro em questão tem cerca de um milhão de cópias vendidas em todo mundo, sendo, inclusive, o texto brasileiro mais publicado em todos os tempos" 
[ R E V I S T A U S P, São Paulo  : 8 2 - 9 1 , M arço / M aio 1 9 9 8 ]

E quando leio as realizações dos grandes gênios da cultura ocidental, noto que apresentam seus pendores em tenra idade e em um meio familiar apropriado, ou por mecenato, florescem e são exaltados e mostrados como exemplo de superação do espírito humano, mas o que dizer de Carolina?.

Quando o jornalista Audálio Dantas a encontrou -  sem nenhum demérito para o fato -  seus livros já estavam escritos, sua personalidade formada, conjuntamente com sua bagagem cultural, de onde veio tudo isso?.

Pelo que li sobre Carolima pude depreender que suas fontes de informação além do rádio por ela citado, seriam jornais, revistas e talvez livros que encontrava  jogados talvez, no lixo em sua sofrida trajetória de trabalhadora humilde.
No entanto, esses fatos não impediram que ela adquiri-se as qualidades necessárias para o desenvolvimento de sua obra, e considerando-se os dias de hoje, segundo os orgãos que pesquisam os indices de educação :

No Brasil, 53,7% (Relatório do Unicef de 2008.Jornal O Globo, 10/06/2009.) de alunos matriculados no ensino fundamental conseguem concluí-lo, e destes, 85,7% (Pesquisa Todos pela Educação. Jornal O Globo, 12/12/2008.) sabem menos que deveriam.
                        

Já no ensino médio, dos alunos matriculados 50,9% conseguem concluí-lo.
Em 2007, 12,7% ficaram reprovados e 13,2% largaram os estudos.
Essa é uma realidade até certo ponto assustadora, se levarmos em consideração que o Brasil não está dando conta de minimamente alfabetizar seus cidadãos.
Grande parte daqueles que acabam o ensino fundamental são tidos como analfabetos funcionais, isto é, não compreendem um texto mais extenso e, muito menos, os mais complexos, além de não serem capazes de se fazer plenamente compreendidos por escrito.

Então, contextualizando-se o periodo de vida de Carolina com o da informação acima, por inferêcia, chega-se a conclusão que temos uma pessoa de dotes excepcionais que poderia servir certamente no mínimo, como paradigma,  de superação para milhares de pessoas em situações análogas no Brasil, e no entanto, desprezamos.
Para não perder o foco na questáo da educação, anexo parte do prefácio do livro de Paulo Freire A Pedagogia do Oprimido do Professor Ernani Maria Fiori
"Paulo Freire é um pensador comprometido com a vida: não pensa idéias, pensa a existência. E também educador: existência seu pensamento numa pedagogia em que o esforço totalizador da "práxis" humana busca, na interioridade desta, retotalizar-se como "prática da liberdade".
Em sociedades cuja dinâmica estrutural conduz à dominação de consciências, "a pedagogia dominante é a pedagogia das classes dominantes".
Os métodos da opressão não podem, contraditoriamente, servir à libertação do oprimido.
Nessas sociedades, governadas pelos interesses de grupos, classes e nações dominantes, a "educação como prática da liberdade" postula, necessariamente, uma "pedagogia do oprimido".
Não pedagogia para ele, mas dele. Os caminhos da liberação são os do oprimido que se libera: ele não é coisa que se resgata, é sujeito que se deve autoconfìgurar responsavelmente.

A educação liberadora é incompatível com uma pedagogia que, de maneira consciente ou mistificada, tem sido prática de dominação.

A prática da liberdade só encontrará adequada expressão numa pedagogia em que o oprimido tenha condições de, reflexivamente, descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua própria destinação histórica.
Uma cultura tecida com a trama da dominação, por mais generosos que sejam os propósitos de seus educadores, é barreira cerrada às possibilidades educacionais dos que se situam nas subculturas dos proletários e marginais.

Com a palavra Le griotte

21 de maio de 1958....Quem deve dirigir é quem tem capacidade. Quem tem dó e amizade ao povo. Quem governa o nosso páis é quem tem dinheiro, quem não sabe o que é fome, a dor, e a aflição do pobre. Se a maioria se revolta, o que pode fazer a minoria? Eu estou do lado do pobre, que é o braço. Braço desnutrido. Precisamos livrar o páis dos políticos açambarcadores.

Pegando carona nos baixos indíces relativos a educação no Brasil, principalmente no quesito leitura insiro uma outra parte do referido prefácio que considero pertinente à esta postagem:

"Talvez seja este o sentido mais exato da alfabetização: aprender a escrever a sua vida, como autor e como testemunha de sua história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se.
Por isto, a pedagogia de Paulo Freire, sendo método de alfabetização, tem como idéia animadora toda a amplitude humana da "educação como prática da liberdade", o que, em regime de dominação, só se pode produzir e desenvolver na dinâmica de uma "pedagogia do oprimido".(Idem)

Aqui insiro outro trecho de Carolina que entendo retratar de forma lirica a questão:

20 de maio de 1958 .... Os politicos sabem que eu sou poetisa. E que o poeta enfrenta a morte quando vê seu povo oprimido.

E com certo atrevimento de minha parte correlaciono ao exposto um dos conceitos da  teoria semiótica que segundo SAUSSURE:

A língua é um sistema de signos que exprime idéias e, por isso, comparável à escritura, aos ritos simbólicos, aos sinais militares, ao alfabeto dos surdosmudos etc.

Ela é apenas o mais importante desses sistemas. Pode-se, portanto, conceber uma ciência que estude a vida dos signos no seio da vida social.
A prática da liberdade só encontrará adequada expressão numa pedagogia em que o oprimido tenha condições de, reflexivamente, descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua própria destinação histórica.
Uma cultura tecida com a trama da dominação, por mais generosos que sejam os propósitos de seus educadores, é barreira cerrada às possibilidades educacionais dos que se situam nas subculturas dos proletários e marginais.

Com a palavra Le griotte

21 de maio de 1958....Quem deve dirigir é quem tem capacidade. Quem tem dó e amizade ao povo. Quem governa o nosso páis é quem tem dinheiro, quem não sabe o que é fome, a dor, e a aflição do pobre. Se a maioria se revolta, o que pode fazer a minoria? Eu estou do lado do pobre, que é o braço. Braço desnutrido. Precisamos livrar o páis dos políticos açambarcadores.
Pegando carona nos baixos indíces relativos a educação no Brasil, principalmente no quesito leitura insiro uma outra parte do referido prefácio que considero pertinente à esta postagem:

"Talvez seja este o sentido mais exato da alfabetização: aprender a escrever a sua vida, como autor e como testemunha de sua história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se.
Por isto, a pedagogia de Paulo Freire, sendo método de alfabetização, tem como idéia animadora toda a amplitude humana da "educação como prática da liberdade", o que, em regime de dominação, só se pode produzir e desenvolver na dinâmica de uma "pedagogia do oprimido".(Idem)

Aqui insiro outro trecho de Carolina que entendo retratar de forma lirica a questão:
20 de maio de 1958 .... Os politicos sabem que eu sou poetisa. E que o poeta enfrenta a morte quando vê seu povo oprimido.
E com certo atrevimento de minha parte correlaciono ao exposto um dos conceitos da  teoria semiótica que segundo SAUSSURE:

A língua é um sistema de signos que exprime idéias e, por isso, comparável à escritura, aos ritos simbólicos, aos sinais militares, ao alfabeto dos surdosmudos etc.
Ela é apenas o mais importante desses sistemas.   Pode-se, portanto, conceber uma ciência que estude a vida dos signos no seio da vida social.
Em outras palavras, deveria haver mais de Carolina nas escolas, considerando-se as condições das periferias, mas, friso não apenas estas, em função, primeiro pela identificação com o (significante) ou seja, a coisa que


                               

se quer apreender, segundo pela linguagem (objeto) a representação sensível do significante, intrerprete (aluno) para quem se destina a mensagem..
Pois, pelo que consegui entender do método de Paulo Freire, a representação sensível do significante quando associado ao contexto social do intérprete, é extremamente eficiente para sua assimilação..
Retornando ao quesito produção de Carolina Maria de Jesus, produção esta que de acordo com texto de José Carlos Sebe Bom Meihy

"No processo de elaboração do texto Cinderela Negra, juntamente com a família de Carolina Maria de Jesus, acabamos por localizar uma caixa com trinta e sete cadernos, contendo cinco mil cento e doze páginas.
(No momento essa documentação está sendo microfilmada pela Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e será oportunamente colocada a público,R E V I S T A U S P, S Ã O P A UL O ( 3 7 ) : 8 2 - 9 1 , M A R Ç O / M A I O 1 9 9 8).

O acervo encontrado trazia uma quantidade grande de poemas, contos, quatro romances e três peças de teatro.
Isso, entre lições escolares dos filhos, receitas de bolos, contabilidade doméstica.
Escritos todos com a letra firme, clara e corrente de Carolina, tudo em papéis velhos encontrados no lixo, guardados sem o cuidado devido (18 Um dos aspectos mais interessantes dessa documentacão reside no fato de Carolina escrever e copiar várias vezes - algumas com importantes acréscimos e modificações - o mesmo texto.
Assim, por exemplo, o romance Dr. Silvio tem partes quatro vezes copiadas. A pergunta que se faz é por que Carolina procedia dessa forma? Quais seriam os motores de sua atividade).

A surpresa dessa descoberta revelava legiões de temas insuspeitados na obra de Carolina que, afinal, ficou identificada publicamente apenas com o fragmento de seu diário posto a público (Torna-se importante ainda salientar que o "primitivo" diário publicado por Audálio Dantas sob o título Quarto de Despejo não corresponde exatamente aos textos que Carolina escreveu. Algumas "correções" e muitos cortes acabaram, a nosso ver, por comprometer o texto, sugerindo que Levine e eu publicássemos nova versão do texto intitulada Meu Estranho Diário.

A versão de Dantas foi publicada em várias edições pela citada Francisco Alves e recentemente pela Editora Ática (1994) em edição popular, destinada ao público estudantil.).
Isso é limitador pois tem-se a revelação, dita pela própria Carolina, de que o seu intuito enquanto escritora era ser "poeta" ( Sobre o significado da poesia no conjunto dos escritos carolinianos, leia-se: Antologia Pessoal, organizada por J. C.Meihy e publicada pela Editora da UFRJ (Rio de Janeiro, 1995).).

Em várias ocasiões ela mostrava que tinha aptidão para o conto, tendo inclusive alguns publicados.
A existência preciosa de quatro romances enormes, por outro lado, demonstra que estamos em face de um caso único na história da cultura popular nacional, onde, na favela, uma autora semi-alfabetizada produziu uma obra que, segundo o impulso inicialmente dado, seria uma promessa de renovação de nossos critérios de definição cultural.
É o "apagamento" dessa carreira que seria brilhante que interessa analisar.

Paradoxalmente, ao se pesquisar por estudos da obra da autora  encontra-se milhões de citações nos sítios / sites estrangeiros, para isto cito partes do texto que tomo como referência em www.letras.ufmg.com.br/literafro

" Outra marca dessa indiferença, apontada por Alfredo Boneff
(http://www.afirma.inf.br/textos/cultura_julho.rtf) é o fato de a obra da autora ser mais estudada nos países estrangeiros do que no Brasil.

Para atestar esse fato, basta verificar a numerosa fonte de pesquisa sobre a escritora disponível na internet e constatar que a maioria dos textos constam em inglês ou espanhol.".

José Carlos Sebe Bom Meihy assim comenta a indiferença crítica e de público legada à produção dos escritos de Carolina:

O alcance de seu livro mais importante, Quarto de despejo, colocado a público em 1960, projetou-a como sucesso inquestionável, ainda que fátuo marcante. A glória de Carolina era perturbadora, mas, dadas as seqüentes ondas de apagamento de sua produção publicada, o sucesso funcionou-lhe como contraponto intermitente no céu nacional prenhe de literatura de mulheres bem nascidas.
Neste sentido, o aparecimento de Carolina no mundo reconhecido e público dos brancos era uma licença democrática.
O discreto charme da burguesia nascente, contudo, não continha o mau cheiro de lixos alimentadores de misérias escondidas em favelas que inchavam as promessas de megalópoles.   Explicitação disto é dada pelo tratamento crítico-literário e historiográfico legado à obra da escritora que, depois de figurar como 'estrela de um novo tempo', foi apagada, sendo esquecida porque sua história se desbastou entre nós arredondando diferenças. Enfim, a lógica do tempo mostrou-se senhora da razão: o silêncio colocou todas as coisas (e pessoas) no lugar devido. (Apud JESUS: 1996, 9)

Em consequência desse desprezo cultural e social, a produção literária de Carolina Maria de Jesus permanece como mencionado anteriormente, desconhecida do grande público.

Para dar uma pausa nesta postagem, refletir e consolidar os pensamentos sobre o assunto, vou utilizar a conclusão do artigo redescobrindo Carolina Maria de Jesus, a cidadã do mundo da Doutora em Literatura Comparada - UEPB.  Sueli Meira Liebig

"Enfim, o estudo acurado da fortuna crítica dessa mineira de Sacramento poderá constituir-se numa poderosa ferramenta de pesquisa que instigará no leitor brasileiro o conhecimento e o gosto pela obra de Carolina e que igualmente inspirará no crítico nacional a vontade de rever conceitos hoje tidos como obsoletos ou ultrapassados, principalmente através de uma abordagem pós-colonial, em que as identidades hoje muito mais fluidas que ontem contam com uma rubrica que as autorizam, desde o lugar de onde se insinuam, a fazer valer a voz do oprimido."


                             
                        
Com a palavra Carolina Maria de Jesus (1914 - 1977)

19 de maio de 1958..;;Contemplar extasiada o céu cor de anil. E eu fiquei compreendendo que eu adoro o meu Brasil. O meu olhar posou nos arvoredos que existe no inicio da Rua Pedro Vicente. As folhas se movia. Pensei: elas estão aplaudindo este meu gesto de amor á minha pátria. (.....) Toquei o carrinho e fui buscar papéis. A Vera ia sorrindo. E eu pensei no Casemiro de Abreu, que disse: "Ri criança. A vida é bela". Só se a vida era boa naquele tempo.
Porque agora a época está apropiada para dizer: "Chora criança. A vida é amarga".

Ps: Graças às inestimáveis pesquisas de Robert Levine e Meihy , muitos manusritos de Carolina foram microfilmados, em 1996, e encontram-se disponíveis na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro,