A música e o latim
Omnis ars
naturae imitatio est. (Sêneca)
A noção que hoje se tem da música como "uma organização temporal de sons e silêncios" não é nova. Civilizações muito antigas já se aproximaram dela, descobrindo os elementos musicais e ordenando-os de maneira sistematizada. Os historiadores têm encontrado inscrições as quais indicam que um caráter nítidamente ritualístico impregnava a maior parte da criação musical da Antiguidade.
Por muito tempo as formas instrumentais permaneceram subdsenvolvidas. Predominava a música vocal. Essa forma, adicionando à música o reforço das palavras, era mais comunicativa e as pessoas assimilavam-na melhor. Assim se explica o grande desenvolvimento que atingiu entre os antigos.
Os povos de origem semita cultivavam a expressão musical, tornando-a bastante elaborada. Os que habitavam a Arábia, principalmente, distinguiram-se pela criatividade. Possuíam uma ampla variedade de instrumentos e dominavam diferentes escalas. Segundo parece, tocavam sobretudo para dançar, pois foi entre eles que surgiu a "Suíte de Danças", um gênero que sobrevive ainda hoje.
A Bíblia mostra que também os judeus tinham a música como hábito. Davi fala sobre ela nos "Salmos", e diversas outras passagens bíblicas contêm menções a respeito.
Na China, o peculiar era a própria
música, devido à sua monumentalidade. Os chineses utilizavam nada menos que 84
escalas (o sistema tradicional da música ocidental dispunha de apenas 24). a
variedade da sua instrumentação era imensa. E já por volta do ano 2255 a.C. o
domínio sobre a expressão musical atingia tal perfeição entre eles, que sua
influência se estendia por todo o Oriente, moldando a música do Japão, da
Birmânia, da Tailândia e de Java.
A LIRA E A LÍRICA NA GRÉCIA
Mas indiscutivelmente, foram os gregos que estabeleceram as bases para a cultura musical do Ocidente. A própria palavra música nasceu na Grécia, onde "Mousikê" significa "A Arte das Musas", abrangendo também a poesia e a dança. O ritmo era o denominador comum das três artes, fundindo-as numa só. Dessa forma a Lírica era um gênero poético, mas seu traço principal era a melodia e até seu nome deriva de um instrumento musical a Lira . como os demais povos antigos os gregos atribuíam aos deuses sua música, definindo-a como uma criação integral do espírito, um meio de alcançar a perfeição.Seu sistema musical apoiava-se numa escala elementar de quatro sons - o Tetracorde. Da união de dois tetracordes formaram-se escalas de oito notas, cuja riqueza sonora já permitia traçar linhas melódicas. Estas escalas mais amplas os Modos - tornaram o sistema musical grego conhecido posteriormente como Modal.
O canto prendia-se a uma melodia simples, a Monodia, pois os músicos da Grécia, ignoravam as combinações simultâneas de sons (harmonias). Mas nem por isso deixavam de caracterizar com seus Modos um sentido moral - o Ethos -, tornando os ritmos sensuais, religiosos, guerreiros, e assim por diante.
Uma vez que os ritos religioso
quase não mudavam, conservando a tradição, com o tempo criaram-se
melodias-padrão, muito fáceis e conhecidas de todos. Eram os Nomoi, cujo acompanhamento se fazia com a Cítara e o
Aulos.
A cítara descendia da lira e, como ela, tinha cordas. O aulos era um instrumento de sôpro, ancestral do nosso oboé.
Partindo dos Nomoi, a música da Grécia evoluiu para a lírica solista, o
canto conjunto e o solo instrumental. Depois, vieram as grandes tragédias
inteiramente cantadas, que marcaram o apogeu da civilização helênica (do século
VI ao século IV a.C.).A cítara descendia da lira e, como ela, tinha cordas. O aulos era um instrumento de sôpro, ancestral do nosso oboé.
Daí por diante, a decadência do povo encaminhou a música da Grécia para o individualismo e o culto às aparências. Parecendo prever a dominação que lhes seria imposta pelos romanos, os gregos ironizavam a sua própria destruição.
Vale anotar que, “A música não teve seu uso
restrito aos gregos, no Egito, por volta de 1880, foi encontrado um papiro , datado de 4500 a. C., que revelava uma
organizada estrutura de utilização de um sistema de sons e músicas,
instrumentais e vocais, utilizada no tratamento de problemas emocionais e
espirituais.2
2 Revista nº1,
Terapia Musical, pág. 2, São Paulo, Editora Digerati, 2002.
MELODIA - UM INSTRUMENTO DE FÉ
O cristianismo mostrou ao homem um mundo interior que ele desconhecia, e essa revelação transformou a sua visão de si mesmo, bem como a sua posição face às coisas.Movidos por esse novo modo de ser, os primeiros cristãos desenvolveram sua própria arte com o objetivo de exteriorizar não somente sensações, mas sentimentos de integração religiosa. Esta ideologia que se generalizou nos séculos iniciais da Idade Média foi a causa de origem da monodia cristã.
Os Hinos e Cânticos da nova concepção musical inspiravam-se nos Salmos da Bíblia. Solo e Côro, ou Coros alternados, dialogavam nas orações musicadas, sendo que a participação de um dos grupos vocais às vezes não ia além dos "aleluias" e "améns" que marcavam o fim de cada passagem.
Aos poucos, formaram-se artistas profissionais que aperfeiçoaram o canto das melodias. A princípio, dividiram o texto em sílabas, atribuindo apenas um som a cada uma delas (canto silábico). Mais tarde, por influência da música oriental, as sílabas já reuniam vários sons, enriquecendo-se com um ornamento vocal (melisma).
Os grandes centros da Igreja - Bizâncio, Roma, Antioquia e Jerusalém - eram também os grandes centros da música, cada qual com sua liturgia musical particular.
No século IV, em Milão, Santo Ambrósio criou um estilo que tomou o seu nome - ambrosiano. Na mesma época, Santo Hilário compunha na França uma música de características diferentes - o chamado estilo galicano. E três séculos depois, na Espanha, Santo Isidoro seguiria uma terceira tendência - o estilo moçárabe.
Contudo, foi em Roma que se estabeleceram os padrões que deram ao canto litúrgico da Igreja Romana uma forma fixa. Quem os organizou foi o fundador da ScholaCantorum, Papa Gregório Magno - o que explica o nome de Canto Gregoriano (vídeo) com o qual se tornou conhecido esse gênero musical. Caracterizava-se por uma melodia linear e plana - o "cantus planus". Por isso chamam-no também, mais tarde, de cantochão.
"ARS ANTIQUA" - ANTIGA SÓ NO NOME
Ao longo dos séculos e sob a influência de novas maneiras de cantar, o Gregoriano se modificou, mas conservando o seu caráter monódico, uma vez que ele favorecia a concentração religiosa. No século XIII, certos contracantos clandestinos se infiltraram na melodia tradicional, subvertendo a liturgia que fixava os Tons da Igreja. Com reprovação, os religiosos viram também que sua música começava a denotar traços da criação musical erudita que se cultivava nos castelos e até das canções populares dos aldeões.Livre da rigidez litúrgica, esta música profana que podia reunir várias melodias no mesmo canto era uma escapada na direção da polifonia. E o povo, ajudado pelos trovadores, acabaria impondo sua fusão com o canto tradicional.
Apesar de todos os progressos feitos no campo musical durante esse período, a História registrou-o com o nome em latim "Ars Antiqua" (arte antiga). Na verdade, ao fim do século a música já era uma arte nova.
Histórico
Parece ter sido originário da Índia a idéia de fixiar os sons pela escrita. Os indus designavam as notas da goma (escala) usada com caracteres sâncritos. Como tudo na Índia era simbólico a escala era personificada na deusa Svaragrama e as ninfas Svoras personificavam as setes notas, com a primeira sílaba de seus nomes, a saber: Sôrdja, Richalba, Gandhôra, Madhyama, Pãnchama, Daivãta, Nichada etc..
Outro povo, os persas chamavam a música de “a ciência dos círculos”, tinham imaginado introduzir nove linhas na pauta, cada qual de uma cor diferente, representando as cores do arco-íris com nome dos sete planetas até então conhecidos.
Lua
|
Sol
|
Helft
|
Azul claro
|
Mércurio
|
Fá
|
Schesch
|
preto
|
Venus
|
Mi
|
Penj
|
amarelo
|
Sol
|
Ré
|
Tchehar
|
violeta
|
Marte
|
Dó
|
Sê
|
Azul escuro
|
Júpiter
|
Si
|
Dou
|
vermelho
|
Saturno
|
Lá
|
Íek
|
verde
|
O primeiro que apareceu no ocidente baseava-se no alfabeto: as sete primeiras letras representavam os sete sons da escala, começando pela nota lá. Depois, criaram-se os neumas, sinais oriundos dos acentos grave, agudo, circunflexo, e do ponto.
Porém, a notação neumática tinha o defeito de não indicar a altura nem a duração dos sons. Melhor que ela, era o método do monge Guido d'Arezzo (995-1050),que adotou uma pauta que no começo era simplesmente uma linha horizontal colorida ( vermelha – representava a nota Fá), a qual foi posteriormente adicionada outra linha colorida ( amarela – representava a nota Dó) [Med.Bohamil teoria da música] ,e em seu Regulae de ignotu cantu, sugeriu o uso de três ou quatro linhas e definiu as claves (do latim clavis = chave) de fá e dó para registrar a altura dos sons. Além disso, d'Arezzo deu nome às notas, tirando as sílabas iniciais de um hino a São João Batista:
Utqueant laxis
|
Para que possam
|
Resonare fibris
|
Ressoar as
maravilhas
|
Mira gestorum
|
De teus
feitos
|
Famuli tuorum
|
Com largos
cantos
|
Solve polluti
|
Apaga os
erros
|
Labii reatum
|
Dos lábios
manchados
|
Sancte
Ioanes
|
Ó São João
|
(O UT mais tarde passou a chamar-se DÓ. Mas não se sabe quem o batizou, assim como se ignora quem foi o padrinho do SI.)
E, embora sejam inúmeros os sons empregados na música, para representá-los bastam somente sete notas :
Dó
|
Ré
|
Mi
|
Fá
|
Sol
|
Lá
|
Si
|
A estes monossílabos ( sistema silábico introduzido por Guido d’Arezzo), usado predominantemente nas línguas latinas, correspondem as setes letras do sistema alfabético introduzido pelo Papa Gregório Grande, +/- 540 d.C usadas em inglês, alemão, grego etc... [Med.Bohamil teoria da música]
O Mensuralismo, inventado por Walter Oddington e Franco de Colônia no século XII, também ajudou a evoluir a técnica musical. Era um sistema que permitia medir o tempo sonoro, determinando uma duração espeçífica para cada nota (breve, semibreve, mínima, semínima, colcheia, semicolcheia, fusa, semifusa, quartifusa). Mas isto, é para outra ocasião.
Fonte de referência: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-da-musica/index.php
Por fim, para você que leu até aqui, uma asserção final:
"Tocar um instrumento musical é uma das mais complexas atividades humanas pelo tipo de demanda que faz ao sistema de conhecimento como um todo. Envolve uma interdependência de aspectos cognitivos, kinaestheticos e emocionais realizados por meio de uma coordenação entre os sistemas auditivos e visuais, que se articulam com o controle motor fino (Galvão & Kemp, 1999; Pederiva, 2005
Ps : Em função da afirmação acima, vale frisar: a mais antiga e a mais natural fonte sonora capaz de produzir deliberadamente música é a voz humana ( Károly. O 1990).
E, segundo Florêncio de Almeida Lima" o canto coral traduz um certo refinamento artístico, sugerindo uma idéia de seleção que transcende os limites peculiares do canto orfeõnico. Este visa, em princípio, a abrir o espírito do educando à percepção e a inteligência da expressão artistico- musical, como ponto de partida para mais ampla receptibilidade e compreensão do fenômeno estético."
Por fim, depois destas citações retorno à primeira,colocada após o titulo desta postagem que de Sêneca(4 a.C - 65 D.C)," Toda arte é imitação da natureza"
Por fim, para você que leu até aqui, uma asserção final:
"Tocar um instrumento musical é uma das mais complexas atividades humanas pelo tipo de demanda que faz ao sistema de conhecimento como um todo. Envolve uma interdependência de aspectos cognitivos, kinaestheticos e emocionais realizados por meio de uma coordenação entre os sistemas auditivos e visuais, que se articulam com o controle motor fino (Galvão & Kemp, 1999; Pederiva, 2005
Ps : Em função da afirmação acima, vale frisar: a mais antiga e a mais natural fonte sonora capaz de produzir deliberadamente música é a voz humana ( Károly. O 1990).
E, segundo Florêncio de Almeida Lima" o canto coral traduz um certo refinamento artístico, sugerindo uma idéia de seleção que transcende os limites peculiares do canto orfeõnico. Este visa, em princípio, a abrir o espírito do educando à percepção e a inteligência da expressão artistico- musical, como ponto de partida para mais ampla receptibilidade e compreensão do fenômeno estético."
Por fim, depois destas citações retorno à primeira,colocada após o titulo desta postagem que de Sêneca(4 a.C - 65 D.C)," Toda arte é imitação da natureza"
"Um povo que
sabe cantar, está a um
passo da felicidade. É preciso ensinar
o mundo
inteiro a cantar"
(Heitor
Villa Lobos)