Esta postagem é didática para mim, pois aprendo e ao
mesmo tempo uma forma que encontrei para homenagear um dos maiores
músicos brasileiros no que concerne ao violão e quando comecei elaborá-la, não havia atinado da proximidade da comemoração do centenário de nascimento deste admirável músico, claro, ela também é de forma implícita extensível aos outros mestres que sem sombra de dúvidas, da mesma maneira, admiro de
forma apaixonada, pois, sei que para extrair do chamado "pinho"
acordes que sensibilizam os ouvidos mais apurados, é necessário
muita sensibilidade, talento e dedicação extrema ao instrumento,
certa vez lí uma frase do grande Baden Powell, na qual ele dizia, "eu
sou o violão", ou seja, para ser e fazer o que ele e os
outros mestres fazem parece que se faz necessário fundir-se ao
instrumento tornando-se assim, um único elemento em prol da música.
No
meu caso, tentando executar alguns acordes e escutando os mestres,
deparei-me com as músicas do mestre Garoto através de gravações pesquisadas no acervo do professor Ronoel Simões
apresentadas no programa da rádio cultura Violão com Fábio Zanon, que era apresentado pelo próprio mestre violonista e em um outro programa de nome Mundo do Violão do professor Thales
de Guimarães (links no final) e
posteriormente pelo trabalho magistral gravado e editado em
partituras pelo outro emérito violonista brasileiro Paulo
Bellinati em 1991,
assim, no decorrer de minha navegação para aprender e descobrir
soube também que
há um trabalho de Geraldo Ribeiro datado de
1979 com o título Álbum para Violão dos
Grandes Sucessos de Aníbal Augusto Sardinha (Garoto)
de 1979 e de um lp com o título Garoto por
Geraldo Ribeiro de 1980, também há o trabalho do
fantástico músico Zé Menezes
que trabalhou com Garoto e em 1998, gravou o CD Relendo
Garoto, só com músicas do
violonista paulista, por tudo isto, só posso dizer que comigo foi
amor à primeira audição e que se renova a cada vez que tento
executar (de maneira tosca, devo dizer)
alguma obra ou ouço algo como, por exemplo: Duas
contas, Naqueles
Velhos Tempos entre outras que serão mencionadas no
decorrer do texto.
Se me permitem
vamos a um pequeno histórico do mestre em suas próprias palavras:
Em
uma entrevista para o jornal Correio
Paulistano, de Dezembro de 1949,
relembra:
"Em 1929, no Palácio das Industrias, tive minha primeira oportunidade, tocando com Canhoto, Zezinho e Mota, para um programa da General Motors. Éramos um grupo grande. Tempos depois, formamos uma Orquestra, com uniforme, gravatinha preta e calça de flanela, e depois comecei a tocar sozinho, e com o falecido Pinheirinho Barreto e Aluisio Silva formamos um novo grupo. Foi quando gravamos Zombando da Morte, um samba que se tornou muito popular."
relembra:
"Em 1929, no Palácio das Industrias, tive minha primeira oportunidade, tocando com Canhoto, Zezinho e Mota, para um programa da General Motors. Éramos um grupo grande. Tempos depois, formamos uma Orquestra, com uniforme, gravatinha preta e calça de flanela, e depois comecei a tocar sozinho, e com o falecido Pinheirinho Barreto e Aluisio Silva formamos um novo grupo. Foi quando gravamos Zombando da Morte, um samba que se tornou muito popular."
Em 1927, a vitrola chegou ao Brasil,
e provavelmente fez sua primeira gravação em 1929 com Paraguassú
(seu tutor na época). Daí em diante, começou a trabalhar
intensamente, tocando por todo o Estado de São Paulo em todo o tipo
de ocasião. Então, por volta desse período, o cantor e violonista
seresteiro já mencionado, Paraguassú, pioneiro no rádio
paulistano, convidou o jovem Anníbal Augusto para apresentações no
interior de São Paulo. Ao lado dessa grande estrela, começou
definitivamente a carreira artística de Garoto. No ano seguinte,
após um teste com Francisco Mignone, ele realizou sua
primeira gravação em disco fazendo solo gravou dois maxixes
“Bichinho de queijo”
e “Driblando” em duo de banjo
e violão, com Serelepe pela Parlophon,
cujo diretor artístico era o próprio Mignone.
Passou, então, a tocar em emissoras
locais, caso da pioneira Rádio Educadora Paulista, da Rádio Record
e também da Cruzeiro do Sul. Conheceu e tornou-se amigo e parceiro
de Aymoré (José Alves da Silva, 1908-1979) com quem fez várias
gravações, tocou em diversos locais do país e também no
estrangeiro, caso da Argentina, quando acompanharam Carlos
Gardel.
Inventou em
1931, juntamente com o luthier Del Vecchio, o Violão
Tenor, também chamado de Violinha.
Esse instrumento tem
oito placas de alumínio na caixa de ressonância sendo ainda muito
utilizado pelos conjuntos regionais
Em sua trajetória violonística
sempre procurando aperfeiçoar-se estudou em 1933 com o professor
Attílio Bernardini (1888-1975) do qual é possível encontrar
inúmeras peças para o instrumento o qual considerava “o
mais expressivo dos instrumentos”. Da relação aluno
professor nasceu o prelúdio de título Inspiração
de 1947 que é “diga-se de passagem” lindo,
na partitura original lê-se “ao amigo e
professor Attilio Bernardini” o que demonstra sua gratidão
e humildade.
Garoto também para dominar a
técnica do violão erudito e a escrita da música em partitura,
estudou harmonia no Conservatório Dramático e Musical de São
Paulo com o professor João Sépe em 1938.
Em 1938, Garoto e Aymoré seguem por caminhos diferentes.
Pois, São Paulo ficou pequeno para seu talento, e foi para o Rio de Janeiro em 1938 com o firme propósito de dar nova direção à sua carreira. Não imaginava que sua estadia no Rio seria breve, mas muito intensa. Começou a trabalhar na Radio Mayrink Veiga, que tinha um elenco de grandes estrelas, como Carmen Miranda e Laurindo de Almeida.
Pois, São Paulo ficou pequeno para seu talento, e foi para o Rio de Janeiro em 1938 com o firme propósito de dar nova direção à sua carreira. Não imaginava que sua estadia no Rio seria breve, mas muito intensa. Começou a trabalhar na Radio Mayrink Veiga, que tinha um elenco de grandes estrelas, como Carmen Miranda e Laurindo de Almeida.
Com Laurindo, formou o duo de ritmo sincopado, e o grupo Cordas
Quentes. O duo participou de várias sessões de gravação,
para Henricão, Carmen Costa, Jararaca e Zé Formiga, Alvarenga e
Ranchinho, Dorival Caymmi, Ary Barroso e Carmen Miranda, para citar
alguns. No final de 1939, a grande surpresa: os Estados Unidos.
Convidado para acompanhar a portuguesa Carmem nos Estados Unidos
aceitou o convite, e em 18 de outubro de 1939 embarcou no navio
Uruguay para uma estadia que entre outras coisas rendeu-lhe o título
de "O homem dos dedos de ouro",
dado pelo organista Jesse Crawford, assim, tornou-se uma
atração extra.
Enquanto
Carmen atraía para si grandes platéias, ávidas para descobrir o
que é que a baiana tem, que as outras mulheres não têm, uma
platéia diferente composta de grandes nomes do jazz e seus adeptos,
compareciam aos shows, maravilhados pelo músico jovem e virtuoso
vindo de uma terra distante. Ele não simplesmente acompanhava
Carmen. Sua habilidade no instrumento, e seu estilo pessoal ao
interpretar as marchas e sambas que ela cantava, era o bastante para
projetá-lo.
Duke
Ellington e Art Tatum
eram, entre outros, assíduos na platéia. Quando os shows de Carmen
terminavam, ele se apresentava sozinho, para uma platéia doida para
tomar conhecimento daquela nova concepção que ele estava
introduzindo no mundo da música. Após oito meses
trabalhando para
Carmen, em diversas cidades americanas, Broadway, filmes e até
tocando para o Presidente Roosevelt na Casa Branca, voltou ao Rio,
para começar a jornada mais longa de sua vida, que durou quinze
anos.
Entre outras experiências, no ano
de 1952 integrou o Trio Surdina, produzido por Paulo Tapajós e
formado por Fafá Lemos (violino) e Chiquinho do Acordeon.
Em 1953 participou do primeiro
concerto para violão brasileiro Concertino
n° 2 para violão e orquestra composto especialmente para
ele pelo maestro Radamés Gnatalli
tocado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a regência da
orquestra sendo de Eleazar de Carvalho.
Garoto e Radamés Gnattali tinham
intensa ligação de amizade além da musical, tanto que o maestro
compôs a magnífica Tocata em ritmo de
samba em sua homenagem.
Também
neste ano gravou seu primeiro disco como violonista pela gravadora
Odeon com Abismo de Rosas de
Canhoto e de sua autoria Tristezas de um
violão.
Ainda
no mesmo ano, lançou com sua bandinha o dobrado "São
Paulo Quatrocentão" para
comemoração do IV centenário da cidade de São Paulo sendo a música
de sua autoria e de Chiquinho do Acordeom com letra de Avaré
e conseguiu um inesperado sucesso de vendas, que foi
reforçado pelo registro, meses depois, da cantora Hebe Camargo, com
cerca de 700 mil cópias vendidas, um histórico fenômeno.
Em
tempo, vale dizer que Annibal Augusto Sardinha nasceu em São Paulo
na Vila Economizadora, divisa entre os bairros do Brás e da Luz,
próximo do rio Tamanduateí em 28 de junho de 1915.
No
início era conhecido como “moleque do
Banjo”nos conjuntos em que tocava
,
posteriormente por sugestão de Jaime
Redondo mudou seu pseudônimo para Garoto.
Nos caminhos da Bossa Nova
Nas
palavras do professor Ronoel Simões que infelizmente nos deixou em (5/10/2010),
podemos inferir que ele teve grande influência neste movimento
musical, pois o professor diz em uma entrevista de 2007: “O
Garoto dava poucas aulas, mas foi professor de Carlos Lyra,
influenciando a Bossa Nova com acordes e sequencia harmônicas que se
consagraram como um estilo novo de se pensar a música. Essa
influência foi verdadeira e definitiva, Acredito que Garoto foi
precursor da Bossa Nova desde 1939”.
Um
bom exemplo desta influência é o choro Sinal
dos Tempos com
suas seqüências harmônicas prenunciando o novo ritmo.
O
trabalho já mencionado de Paulo Bellinati, é composto de cd, fita
cassete e dois volumes com partituras cada um com treze solos
transcritos, arranjados, editados e gravados por ele.
As
músicas são:
Volume N° 1
- Duas Contas (Original)
- Inspiração
- Lamentos do Morro
- Rosto de Mulher
- Sinal dos Tempos
- Debussyana
- A cominho dos Estados Unidos
- Mazurka N° 3
- Carioquinha
- Voltarei
- Desvairada
- Improviso
Volume N°2
- 1Tristezas de um Violão (Choro Triste N° 1)
- Meditação
- Naqueles Velhos Tempos
- Gracioso
- Vivo Sonhando
- Enigma
- Esperança
- Nosso Choro
- Chôro Triste N°2
- Doce Lembrança
- Jorge do Fusa
- Gente Humilde (Arranjo de P.Bellinati)
Sobre a música gente Humilde, há fatos interessantes assinalados em www.violaobrasileiro.com.br (ao qual recomendo uma visita), do qual extrai o seguinte trecho:
De acordo com Ferrete, Gente Humilde teve como inspiração as costumeiras visitas que Garoto fazia aos subúrbios cariocas.
De fato, tais visitas aconteceram sobretudo no biênio 1945/1946, conforme registrado diversas vezes em seus diários. O tema instrumental foi composto primeiro, para violão solo, e formava uma pequena suíte com outras duas músicas: as já citadas Meditação e Vivo Sonhando.
É interessante saber que esta musica também já nasceu com letra diferente da hoje conhecida composta pela dupla Chico Buarque Vinícius de Morais, como está narrado e demonstrado com a letra no site mencionado.
E assim este excepcional músico nos deixou seu magnífico legado.
Como por exemplo a música
Gente Humilde
Lamentos do Morro
Nos endereços abaixo é possível ouvir as joias deixadas pelo mestre e também ouvir narrações sobre sua trajetória de vida que de forma incompleta foram por mim sintetizadas,entretanto sem dúvida alguma, escrevo, aquele que gostar de violão e não conhecer este músico será como quem olha um frasco de perfume olha seu nome, mas não conhece sua fragrância e seu poder de enebriar.
http://vcfz.blogspot.com.br/
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