quinta-feira, 13 de março de 2014

Africae Brasilia - Museus e o AfroBrasil



          

                   Museu AfroBrasil - Parque do Ibirapuera - sp
                                                 Akulu hati - 
                                                 Upika ulema, olofuka vipandeka. 
                                                 Katalele ongongo, kakolele.
                                                 Olondunge lu kulihiso viavelapo ongusu yovota. ¹

O que significa falar contra o passado se não há intenção de mudar o percurso sangrento da história?
Falar é de alguma forma assumir a voz cultural de algum lugar; todo signo traz fendas ideológicas.
Nesse sentido, falar, como nos lembra F.Fanon (1983): "Não é apenas falar contra, mas, sobretudo, assumir uma cultura e suportar o peso de uma civilização."
Em diálogo com as culturas do - "entre-lugar", torna-se cada vez mais importante pesquisar as culturas africanas pelo legado da identidade intervalar, pelos crimes racistas cometidos pela sociedade e pela descolonização dos povos das diásporas negras
.( Griots - culturas africanas: linguagem, memória, imaginário )
E para falar e mostrar ao que se está referindo, nada melhor que um museu especificamente idealizado para mostrar os variados aspectos concernentes a cultura em questão.
E este processo, é feito por apresentação de documentos e na forma visual de toda a riqueza inerente da cultura representada, neste caso especifico, a cultura africana.

Conceituação de Museu

Internacionalmente tem vindo a ser promovida alguma reflexão sobre o conceito de museu e a sua evolução, e defende-se hoje que os museus combinem o seu objectivo social - de instituições guardiãs de memórias, com responsabilidades na preservação de um património, na investigação e na educação - com outro tipo de actividades de promoção desses objectivos, com a concepção e implementação de estratégias de marketing, que não comprometam a sua existência (Kotler e Kotler, 1998; Izquierdo e Samaniego, 2004).

O conceito de museu do ICOM (International Council of Museums) também tem sido frequentemente redefinido e adaptado à realidade: "A museum is a non-profit making, permanent institution in the service of society and of its development, and open to the public, which acquires, conserves, researches, communicates and exhibits, for purposes of study, education and enjoyment, material evidence of people and their environment."
" Um museu é uma atividade não lucrativa, uma instituição permanente em serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, e aberto ao publico, e que adquire, conserva, pesquisa, comunica e exibe, para propósito de estudos, educação e apreciação por prazer, evidência material de povos e de seu meio ambiente".
(ICOM Statutes, 1989, article 2, paragraph I).

Esta definição foi adoptada em Haia, na Holanda em 1989, tendo sido revista em 1995 e novamente em 2001).

 As funções do Museu

As funções principais de qualquer museu são: identificar, recuperar e reunir grupos de objectos e de colecções; documentá-los; preservá-los; estudá-los; apresentar ou expor esses objectos ao público em geral; e interpretá-los ou explicá-los (Hernández e Tresseras, 2001).
A questão do uso social do património cultural ganhou maior relevância a partir de 1920-30's, pela tomada de consciência de que a perda de ligação com o contexto de produção e uso desse património significaria a perda do seu significado.
Qualquer colecção ou museu só pode ser explicado através da sua história (Hernández and Tresseras, 2001).
Foi neste período que os responsáveis pelos museus se tornaram mais sensíveis aos desejos e motivações da procura e se demonstraram mais abertos a uma interação entre proteção, difusão e estudo.
Datam deste tempo as primeiras grandes exposições temporárias, as visitas escolares, e os primeiros departamentos pedagógicos, e educativos dos museus.
São introduzidos novos sistemas de exposição e de apresentação das colecções e surgem os primeiros estudos de públicos. Contudo, o período de Guerra instalou uma crise na museologia internacional e só em 1984 com a "Declaração do Québec" se reafirmou a importância da função social do museu (ICOM, 1989).

Destarte, o museu tem um papel relevante na formação cultural e de auto-afirmação, no caso, do Museu AfroBrasil, que em seu acervo possui o testemunho das inúmeras contribuições dos negros brasileiros submetidos ao regime de servidão, com sua importância muitas vezes negada pelas classes dominantes e também desconhecida pelo segmento que representa, como já mencionado anteriormente, as citações abaixo enfatizam o papel e a importância dos museus.

O museu não deve ser um mero local onde estão depositados materiais que funciona como centro de investigação e apenas pode ser visitado por uma minoria, mas deve ser perspectivado como "um núcleo de projecção cultural e social, com uma contínua e decisiva função didática, com uma aproximação viva à cultura." (Martos e Santos, 2004:80).
Hein (1998) afirma que a aprendizagem se deve constituir como a função principal dos museus, todavia, há que acompanhar os novos processos de aprendizagem e adaptá-los aos estilos dos tempos modernos: "Museums are extraordinary places where visitors have an incredible range of experiences" (Hein, 1998:2.
Yeh e Lin reconhecem que o museu apresenta vantagens associadas às formas de aprendizagem informais e afirmam "Learning in museums give visitors a self-directed learning opportunity to construct personal learning atmosphere, scheduling, and content."

"Aprendizagem em museus dá aos visitantes uma oportunidade de um ensino auto dirigido para construir uma atmosfera pessoal de aprendizado, planejamento e conteúdo" (Yeh e Lin, 2005:281).

Com o propósito  exposto acima, o museu AfroBrasil que foi criado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega.
A 23 de outubro de 2004, o Museu Afro Brasil foi inaugurado, na presença

                             
do Presidente Luís Inácio Lula da Silva e de outras autoridades.
Em 2009, à época da criação da Organização Social, Emanoel Aves de Araujo doou 2.163 obras para o acervo do museu.

Emanoel Alves de Araújo (Santo Amaro da Purificação / BA, 15 de novembro de 1940), escultor, desenhista, gravador, cenógrafo, pintor, curador e museólogo.

Filho de pai cafuzo e mãe mestiça, Emanoel nasceu em uma tradicional cidade baiana, cujo cenário o inspirou para a execução de algumas de suas produções.

Descendente da terceira geração de grandes ourives, ainda novo foi aprendiz de marceneiro do mestre Eufrásio Vargas; aos treze anos trabalhou em linotipia e composição gráfica na Imprensa Oficial do Estado – experiência de grande importância para o domínio da técnica e para a sensibilidade da expressão.

Mudou para Salvador com o intuito de cursar Arquitetura, mas suas constantes visitas à exposições e museus fez com seus planos tomassem outro rumo. Foi quando se matriculou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, onde teve aulas de gravura com o mestre Henrique Oswald, artista que por admiração queria que Emanuel fosse seu substituto no ensino universitário. (www.pinturabrasileira.com/artistas)

        
                                    Emanoel Alves de Araujo

Curador e diretor do Museu Afro-Brasil, em São Paulo, com obras de sua coleção.
O museu conta mais de 5 mil obras, entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas, de autores brasileiros e estrangeiros, produzidos entre o século XV e os dias de hoje, o acervo abarca diversas facetas dos universos culturais africanos e afro-brasileiros. Atualmente, está divido em 06 núcleos: África: Diversidade e Permanência, Trabalho e Escravidão, As Religiões Afro-Brasileiras, O Sagrado e o Profano, História e Memória e Artes Plásticas: a Mão Afro Brasileira.             

       Acervo-Museu-Afro-Brasil-Fotografia-de-Nelson-Kon-2

                 Sumuluise a ñala ó África
                 Sumuluise a ñala ó África
                 Sanjuisa ovitima vietu viosi
                 Omãla vove va yongola
                                          ombembua
                 E sumuluiso vo África ááá
                 E sumuluiso vo feka yetu
                 Enju a ñala
                 Enju, enju
                 Enju a ñala
                 Enju, enju
                 Sumuluise ofeka yetu África
                 ááá
                 Ofeka yetu África.²



Uma visita à História

[Texto referencia  MUSEUS E METAMORFOSE CULTURAL Alexandre Fernandes Corrêa]
O esquecimento das origens pessoais, dos grupos imigrantes, raças, etnias, etc., constitui plano eficaz de dominação de consciências e manutenção do status quo dominante, ou da libido dominante, como dizia Roland Barthes (1980). Apresentando-se como o 'País da Promessa', o lema: 'Esquecer suas origens para tornar-se brasileiro', é extremamente eficaz e se conecta perfeitamente numa síntese conjuntiva adequada ao processo de alienação e aculturação desenfreada em que foi submetido a população em quatro séculos de colonização do imaginário mestiçado e hibridizado.

[...]A memória social brasileira não é um mar de "rosas": temos que agir com cuidado e muito respeito em relação a estas particularidades e singularidades capilares.
O Brasil é um 'País do Presente e dos Contrastes', por isso, parece certo afirmar que é preciso uma perspectiva interdisciplinar e transcultural das relações entre memória e esquecimento na sociedade brasileira.
País do 'aqui e agora', em que há uma grande fixação no prazer e na alegria, e que reluta e resiste negativamente em enfrentar o passado difícil, conflituoso e traumático.
Torna-se importante e fecunda uma antropologia dialética, que pense e elabore esta equação complexa: 'País da Esperança' x 'Passado Violento'.
A memória social brasileira é traumática, violenta, repleta de histórias de espoliações, escravidão, etnocídios, genocídios, autoritarismos, ditaduras, etc.
Quadro social que propiciou o surgimento de diversas estratégias e tentativas sofisticadas de encobrimento das dificuldades de lidar com os conflitos, que são recalcados e evitados a todo custo.
As diferenciações dos grupos sociais em relação a memória e a história, influenciam e determinam a participação na vida econômica e social do país como pode-se observar no techo abaixo [.....] É necessário então ter em mente as particularidades de cada grupo e conhecer sua relação com a memória e a história.
No caso dos sírios e libaneses percebemos que esses grupos logo que vieram para o continente sul-americano, desenvolveram estratégias de integração e assimilação, que logo deram a eles condições de se desenvolverem e enriquecerem economicamente. Em poucas gerações, de pobres mascates e comerciantes, tornaram seus filhos médicos, advogados e engenheiros, sem ligações étnicas ou culturais com seus ancestrais no país de origem.
Esqueceram a língua árabe e os costumes mais específicos. Mantém apenas hábitos culinários e de divertimento, como as danças árabes e os quibes e esfihas.
De modo algum deixaram os traços étnicos de seus ancestrais atrapalharem sua inserção na sociedade local.
Esqueceram suas origens e disso tiraram muitos proveitos sociais e econômicos.
Realizaram assim o lema do 'país do futuro', para os que não têm memória étnica:
'esqueça suas origens e se torne um brasileiro'.
No entanto, para os grupos indígenas e afrodescendentes, a história foi, e tem sido muito diferente; não é uma história de sucesso e de realizações sociais e econômicas, muito pelo contrário.
A manutenção de seus traços culturais e étnicos tem sido uma marca de estigma e esteriótipos no complexo sociocultural brasileiro.
A recente onda de 'folclorização', 'fossilização' e 'turistificação' de seus legados e heranças culturais só vêm confirmar a lógica desse processo de manutenção cada vez mais sutil da exclusão social e econômica desses grupos subalternos.
A despeito do engano dos mais ingênuos, essa é a mais nova estratégia de manter esses grupos na condição de subdesenvolvimento.
A resistência cultural desses grupos e a manutenção autentica de seus patrimônios culturais revela-se o maior desafio de uma cultura verdadeiramente humanista.
Cultura humanística delineada por Hanna Arendt, nos seguintes termos:
Esse humanismo é o resultado da cultura animi, de uma atitude que sabe como preservar, admirar e cuidar das coisas do mundo. Ele tem, como tal, a tarefa de servir como árbitro e mediador entre as atividades puramente políticas e puramente fabris, que se opõem uma às outras de um sem-número de modos (ARENDT, 1997, p. 280).

Historicamente o sistema de ensino brasileiro pregou uma educação formal, que não reconhece o valor do negro e do índio na formação cultural da sociedade brasileira, na qual o racismo e a ideologia do branqueamento ainda fazem parte do contexto escolar (CHIAVENATO, 1980).
No geral, o negro contribui com a vida econômica do Brasil, haja vista o fato de ter sido diretamente inserido no mundo do trabalho escravo em substituição à mão-de obra indígena.
Ou seja, são dois grupos marginalizados que foram responsáveis pela construção da riqueza do país, e os historiadores econômicos nunca negaram isso. A história ensinada no ensino fundamental e médio pouco ou nada nos disse sobre o negro e o índio e suas culturas, nem tampouco atentou para as questões de valorização dos mecanismos de resistência e formulação de idéias (BEZERRA; CHAGAS, 2007).
No entanto, com os valores de ostentação aos Estados Unidos, por exemplo, na prática do ensino sempre houve uma tendência a desqualificar o continente africano, a comunidade indígena, além de inferiorizar racialmente e socialmente os negros (NASCIMENTO, 1978; MUNANGA, 2004, 1996; SILVA, 1996, 1988).
Assim, os movimentos sociais negros, principalmente, passaram a reivindicar junto ao Estado brasileiro, no que tange à educação, o estudo da história do continente africano e dos africanos, da luta dos negros no Brasil, da cultura negra brasileira e do negro na formação da sociedade nacional brasileira.

A diferença cultural é a principal característica da formação social do Brasil, uma vez que os brasileiros são resultados da relação de negros, brancos e índios.
No entanto, a cultura cristã ocidental e supostamente branca manteve-se como determinante e passou a definir os referenciais a serem perseguidos como indispensáveis à construção da identidade brasileira.
Dessa forma, esta formação é historicamente concebida como ponto de chegada, ou seja, como uma recorrência às origens do povo brasileiro, uma origem que sempre negou os referenciais de negros e índios (BEZERRA; CHAGAS, 2007).
A ampliação da Lei 10.639/03 para a 11.645/08, tem por tarefa diminuir a lacuna histórica criadas por estes processos de exclusão das referidas etnias.

Não ao racismo


Peço para desculparem-me as pessoas sensatas e desprovidas do ignóbil sentimento de pretensa superioridade, porque isto é direcionado aos que agem movidos por ele, e que não suportam os que possuem características diferentes, tanto culturais quanto fisicas e portanto, abominam a diversidade humana, crendo erroneamente que o espaço Gaia pertence somente a um tipo especifico, não obstante, talvez os testemunhos históricos relatados abaixo ajudem aqueles que refletem sobre o racismo no Brasil. 

Sendo assim,continuo, quem atravessou o Oceano com Caronte no comando da embarcação, que com a mesma função,  [...] Um dos raros testemunhos, o do frei Sorrento, capuchinho italiano, deixa entrever a tragédia dos novecentos escravos embarcados de Luanda para a Bahia em dezembro de 1649: “aquele barco [....] pelo intolerável fedor, pela escassez de espaço, pelos grito contínuos e pelas infinitas misérias de tantos infelizes, parecia um inferno”. 
Há outro relato feito poucos anos depois, também de autoria de um  capuchinho  italiano, que dá detalhes sobre a distribuição  dos escravos a bordo.
Para prevenir revoltas durante a travessia, os homens vinham acorrentados no porão, as mulheres no segundo convés, as mulheres grávidas no castelo de popa e as crianças no primeiro convés. 
Esta navegação é mais dolorosa que existe em todo o mundo, escreve o frei Piacenza.(O trato dos Viventes; Felipe Alencastro, pág 83)
--- retornando ao texto acima, ao contrário da nau do inferno, esta trazia almas que sofriam por terem sido atingidas pelo estigma impingido pela bula Romanus Pontifex emitida pelo papa Nicolau V em 1455, autorizando o ato.

Percebe-se assim, que a ação inspirada pela emissão da bula criou todo um pano de fundo para justificar os atos que ainda hoje reflete-se nos afrodescendentes.
 [...] Reflexos dos conflitos étnicos e religiosos que sacudiam o Sahel e o Sudão traficantes mouros oferecem escravos pagãos, em troca dos mulçumanos capturados pelos portugueses." Tal forma de escambo confere principios evengelizadores ao tráfico".

Zarura sentenciava a respeito dos cativos animistas. " estes negros não vinham da linhagem de mouros, mas de gentios, pelo qual seriam melhores de trazer ao caminho da salvação"." Propalado pelo rei Afonso V, o argumento edificante se converte em doutrina religiosa e norma de direito internacional ao ser endossada pela bula Romanus Pontifex (1455).

Documento tido pelo pelo padre Brásio, eminente missiológo e africanista contemporâneo, como a "Magna Carta" do ultramar português." Na bula, o papa Nicolau V empresta apoio aos reis combatendo os mouros e formula a primeira justificação evangélica do trato negreiro. 
Considerava-se justo o comércio e a posse de negros, visto que muitos deles, deportados para Portugal, se tornavam cristãos"(O trato dos Viventes; Felipe Alencastro, pág 51,53).           

Pode-se inferir então que, quem sofreu todos os castigos corporais e humilhações possíveis e ainda assim sobreviveu, certamente adquiriu a têmpera do mais puro aço e por isto, pode-se dizer que o povo negro ficou mais forte e certamente eliminará diferenças e barreiras impostas pela parcela da sociedade, no caso a brasileira, ainda com resquícios racista, que quer manter o atual status quo e age de forma excludente, não obstante, o negro agindo com persistência, conquistará espaço no país que sempre ajudou e ajuda a construir e que ainda não foi devidamente reconhecido.

Para complementar, vou adicionar um trecho do livro trato dos viventes pág 210-11 " Repertoriando os 150 engenhos sob seu controle, Nassau enfatiza o principal entrave: a falta de colonos e principalmente, de colonos dos Países Baixos. E havia mais; não era qualquer "gueux", qualquer maltrapilho de Flandres que servia para ser colono na Nova Holanda. Os candidatos deveriam sobretudo dispor de capital para investir na produção nacional". "Para mandar fazer a fabrica de que precisam, pois não podem ser trazidas da Holanda como aqui são necessárias, e para comprar alguns negros, sem os quais nada de proveitoso se pode fazer no Brasil". E o governador martela: " Necessariamente deve haver escravos no Brasil, e por nenhum modo podem ser dispensados: se alguém sentir-se nisto agravado, será um escrúpulo inútil [...] é muito preciso que todos os meios apropriados se empregarem no respectivo tráfico na Costa da Africa".

Outro relatório, redigido em 1640 por Van der Dissen, conselheiro da Compagne no Brasil ex-agente da voc nas Mollucas homem prático nos trópicos  e político influente em Rotterdam insistiu sobre o fato de que os colonos holandeses deviam possuir capital reservado para á compra de africanos.
Seu argumento pro-escravista original, e inovador, merece reflexão "Sem negros nada se pode cultivar aqui, e nenhum branco - por mais disposto ao trabalho, que tenha sido na pátria - se pode dedicar no Brasil a trabalhos tais, nem mesmo suportá-los, parece que o corpo em consequencia da mudança tão extrema de clima, perde muito do seu vigor, isto não sucede somente ao homem, mas com tudo o que venha da Europa para o Brasil, inclusive o ferro, o aço, o cobre, etc.., e não me refiro às coisas mais sujeitas a deterioração.".
Van der Dessen avança em uma das primeiras - se não a primeira - justificativa científica  de deportação de negros para a América tropical. Asserções ideológicas, econômicas, culturais legitimavam o trato  de africanos. Van der Dissen vai mais longe ao se referir ao quadro normativo pautando o conhecimento ocidental  nos séculos da revolução burguesa, a defesa do escravismo decorre de um princípio geral e suscepítivel de experimento empírico - a dessubstanciação de matéria e dos homens europeus transportados ao Brasil.

Para concluir, vou recorrer a Darcy Ribeiro que escreveu no livro O povo Brasileiro pág -247 [...] O maior susto dos portugueses, no passado, foi ver a força de trabalho escrava, reunida com propósitos exclusivamente mercantis para ser desgastada na produção, insurgir-se, pretendendo ser tida como gente com veleidades de autonomia e autogoverno. 
Do mesmo modo, a grande perplexidade das classes dominantes atuais é que esses descendentes daqueles negros, imdíos e mestiços ousem pensar que este país é uma republica que deve ser dirigida pela vontade deles como seu povo que são.[...] Velhas questões institucionais, não tendo sido resolvidas nem superadas, continuam sendo os principais fatores de atraso e ao mesmo tempo, os principais motores de uma revolução social."             
Esta revolução ocorrendo, o negro brasileiro tornará seu o lema:
                                  Vini, Vidi,Vinci.    
            


Obs: Os grifos colocados nos textos são de minha autoria.
1- provérbios africanos
 A escravidão pesa, as dívidas nos prendem.
Se não vivenciou o sofrimento, não amadureceu.
Vivendo e aprendendo.
A inteligência supera a força das armas.

2 - Este canto é uma versão feita por Amadeu Fonseca Chitacumula, do Hino à África, composto em zulu por Enoch Sontonga, em 1897, com o título “Nkosi Sikelel’iAfrica”.

Abençoa ó Senhor a África
Abençoa ó senhor
Alegrai todos nossos corações
Seus Filhos querem paz
E benção para África
Benção na terra nossa
Venha ó senhor
Venha, venha
Venha ó senhor
Venha, venha
Abençoa nossa terra, África
Nossa terra, África

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