quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Artes - ( Plásticas )

                         
                           
    "os poetas, como os cegos, 
      podem ver no escuro"
                                Jorge Luis Borges

Mercê da sua irredutível singularidade, a obra de arte, enquanto metáfora epistemológica do mundo, oferece, pela sua abertura, um diálogo entre o artista e o seu público, permitindo a este a tarefa de o completar, como intérprete.
Dentre os possíveis e variados conceitos que a arte pode ter podemos sintetizá-los do seguinte modo - a arte é uma experiência humana de conhecimento estético que transmite e expressa idéias e emoções na forma de um objeto artístico (desenho, pintura, escultura, arquitetura etc) e que possui em si o seu próprio valor.
Portanto, para apreciarmos a arte é necessário aprender sobre ela.

Aprender a observar, a analisar, a refletir, a criticar e a emitir opiniões fundamentadas sobre gostos, estilos, materiais e modos diferentes de fazer arte.
Cada sociedade possui seus próprios valores morais, religiosos, artísticos entre outros. Isso forma o que chamamos de cultura de um povo.

Mas uma cultura não fica isolada e sofre influências de outras, portanto, nenhuma cultura é estática e sim dinâmica e mutável. 
A arte, ao longo dos tempos, tem se manifestado de modos e finalidades diversas. 
Na Antiguidade, em diferentes lugares a arte era vislumbrada em manifestações e formas variadas - na Grécia, no Egito, na Índia, na Mesopotâmia...

Os grupos sociais vêem a arte de um modo diferente, cada qual segundo a sua função.
Nas sociedades indígenas e africanas originais, por exemplo, a arte não era separada do convívio do dia-a-dia, mas presente nas vestimentas, nas pinturas, nos artefatos, na relação com o natural e o sobrenatural, onde
                                                              
                  
cada membro da comunidade podia exercer uma função artística.
Somente no séc. XX a arte foi reconhecida e valorizada por si, como objeto que possibilita  uma experiência de conhecimento estético.
Ao longo da história da arte podemos distinguir três funções principais para a arte - a pragmática ou utilitária, a naturalista e a formalista.

Função pragmática ou utilitária: a arte serve como meio para se alcançar um fim não-artístico, não sendo valorizada por si mesma, mas pela sua finalidade.
Segundo este ponto de vista a arte pode estar a serviço para finalidades pedagógicas, religiosas, políticas ou sociais.

Não interessa aqui se a obra tem ou não qualidade estética, mas se a obra cumpre seu papel moral de atingir a finalidade a que ela se prestou. 

Uma cultura pode ser chamada pragmática quando o comportamento, a produção intelectual ou artística de um povo são determinados por sua utilidade.
Função naturalista: o que interessa é a representação da realidade ou da imaginação o mais natural possível para que o conteúdo possa ser identificado e compreendido pelo observador.

                              
A obra de arte naturalista mostra uma realidade que está fora dela retratando objetos, pessoas ou lugares. 
Para a função naturalista o que importa é a correta representação (perfeição da técnica) para que possamos reconhecer a imagem retratada; a qualidade de representar o assunto por inteiro; e o vigor, isto é, o poder de transmitir de maneira convincente o assunto para o observador.

Como exemplo é possível usar a obra que está exposta no museu D'Orsay em paris do artista Gustave_Courbet, e que  pelo seu histórico e caráter polêmico, recomendo que ao acessar o link, faça-o em um ambiente que não seja conservador e longe dos olhos de crianças para não ser interpretado como alguém pervertido(a), sim é isso mesmo, esta obra de arte possui a força de despertar as mais variadas emoções e opiniões em quem a contempla, a obra em questão é L'Origine du monde. clique na imagem para ampliar.

Obra que foi parar na sala da casa de campo do psicanalista francês Jacques Lacan, que por sua crueza, foi escondido sob uma pintura de madeira do seu cunhado André Masson.

Função formalista: atribui maior qualidade na forma de apresentação da obra preocupando-se com seus significados e motivos estéticos.

                             
                                     
 
A função formalista trabalha com os princípios que determinam a organização da imagem - os elementos e a composição da imagem.
         
 
Com o formalismo nas obras, o estudo e entendimento da arte passaram a ter um caráter menos ligado às duas funções anteriores importando-se mais em transmitir e expressar idéias e emoções através de objetos artísticos.

Foi só a partir do séc. XX que a função formalista predominou nas produções artísticas através da arte moderna, com novas propostas de criação. 
O conceito de arte que temos hoje em dia é derivado desta função.

Arte Figurativa ou Figurativismo: é aquela que retrata e expressa a figura de um lugar, objeto,

                   
pessoa ou situação de forma que possa ser identificado, reconhecido. 
Abrange desde a figuração realista (parecida com o real) até a estilizada (sem traços individualizadores). 
O figurativismo segue regras e padrões de representação da imagem retratada.


Arte Abstrata ou Abstracionismo: termo genérico utilizado para classificar toda forma de arte que se utiliza somente de formas, cores ou texturas, sem retratar nenhuma figura,

                                     
rompendo com a figuração, com a representação  naturalista da realidade.

                            
Podemos classificar o abstracionismo em duas tendências básicas:
a geométrica e a informal.

Uma imagem guarda uma semelhança com algo, representando aquilo que o nosso sentido da visão pode captar, aquilo que podemos ver, ou que nossa imaginação pode criar. 
Assim, o reflexo de nosso rosto na água é uma imagem que a natureza se encarregou de criar.
O ser humano, ao longo de seu desenvolvimento, tem procurado encontrar formas de registrar essa imaginação ou realidade captada, através de pinturas, desenhos, esculturas, gravuras ou filmes, ou seja, utilizando representações imagéticas

A principal diferença entre imagem e representação imagética é que imagem é tudo aquilo que nosso sentido da visão pode captar registrando tanto o que é realidade quanto imaginação, e representação imagética são imagens carregadas de significados organizados ou não de maneira consciente - com
valores artísticos.

                                 

Os significados e intenções na criação variam de acordo com o período, lugar e pessoas, ou seja, de acordo com o contexto histórico. 
Desde tempos remotos, o ser humano já procurava fazer representações

                                  http://cristendencias.com/wp-content/uploads/2012/06/pinturas-rupestres-mostram-o-que-e-arte-antiga.jpg

imagéticas nas paredes das cavernas.

                     

Essas imagens podiam ter finalidades místicas e de sobrevivência.
Na Idade Média, as imagens das obras de arte possuíam um cunho educativo                                  
a serviço da religião.

Já no Renascimento as imagens artísticas procuravam elevar a condição do
                             
                                                                


ser humano a um nível maior.

No Romantismo e Modernismo, as obras de arte possuíam fins diversos,

                                             

como protestos e denúncias dos problemas políticos e sociais.
                             
                                
Como foi mencionado anteriormente, a arte é uma experiência de conhecimento estético de transmissão e expressão de idéias e sentimentos. 
Associamos a palavra estética à arte e também à beleza.

Histórico sobre a Estética

A palavra "estética" é derivada do grego aisthesis, significando sentir.
A raiz grega aisth, no verbo aisthanomai, quer dizer sentir, não com o coração ou com sentimentos, mas com os sentidos, rede de percepções físicas (Barilli 1989;2).

O termo é hoje tão largamente utilizado que pode servir para qualificar tanto as filosofias do belo, quanto a elegância de uma fórmula matemática, os objetos artísticos, ou até mesmo um crepúsculo, as cercanias do mar, um rosto trabalhado pelo tempo(como diria Borges).

Quando observamos uma obra de arte ou uma imagem qualquer ela primeiro é sentida (percepção pelos sentidos), depois ela é analisada (interpretação simbólica do mundo) e, por fim, entendida e apreciada (conhecimento intuitivo). 
Desta maneira é que temos uma experiência estética com a obra de arte ou imagem.
( APOSTILA DE ARTE - ARTES VISUAIS - Garcia Junior )

Ela também é utilizada na filosofia, e embora a palavra em si, no contexto filosófico em que viria a ser inserida, só tenha aparecido em 1735, as questões relativas à estética, no Ocidente, tiveram sua origem no mundo grego, mais especialmente no pensamento de Platão (428-348), em cuja obra encontramos a primeira teoria da arte e do belo que temos noticia. 

De fato, foi Platão quem levantou os problemas relativos a criação, para os quais foram dadas as mais diversas interpretações através do tempo e com os quais nos debatemos até hoje, tais como a natureza da inspiração, a relação da criação com a emoção, o impacto  e efeitos da arte sobre o receptor, as antinomias entre o conhecimento verdadeiro e a ilusão das paixões, as conseqüências do descomedimento e as virtudes da temperança...Se Platão levantou esses problemas, Aristóteles (por volta de 384-322 a. C ) foi o primeiro a lhes dar formalização na sua Poética, obra que sem margem de erro, pode ser qualificada como a teoria da arte e critica mais influente em toda  a história do Ocidente.

Após o exposto acima, vale salientar que  temos ainda dificuldade de classificar o trabalho dos artistas, em relação , se é arte popular ou erudita.

E para isso recorro a poeta e historiadora da arte Lélia Coelho Frota, que revela esse reconhecimento ao responder a pergunta feita por Riccardo Gambarotto, em entrevista concedida à Revista Raiz, sobre que distinção faria entre arte popular, arte acadêmica e arte erudita e se essa segmentação toda faz sentido:

“"Prefiro segmentar antes de tudo pela qualidade plástica. Depois, por um estilo reconhecível. 
Digo de determinadas obras que são de fonte popular, porque assimilaram muito da origem de seus autores. 
No mais, eles são híbridos culturalmente, como são também os outros artistas.
Tarsila, quando faz o Abaporu, Rubem Valentim, quando trabalha sobre aqueles símbolos dos orixás, estão misturando culturas. 

A grande riqueza do Brasil são essas fronteiras ondulantes, que se interpenetram, essa mestiçagem permanente [...]Poria, uma Tarsila, uma Rubem Valetin e um Louco da Bahia na mesma parede, não só eu. S. Dillon Ripley, grande erudito e diretor do Smithsonian na época áurea do instituto, já dizia na década de 60 que todas essas manifestações – as artes tribais, por exemplo –, por sua qualidade, tinham de ser colocadas no mesmo espaço museológico que quaisquer outras, nos mesmos espaços da produção renascentista ou contemporânea, com o aval da crítica dos museus e da cultura hegemônica.”" (FROTA, 2007).

Raymond Williams (1992) identifica a origem de termo cultura no processo de cultivo de vegetais e no de criação e reprodução de animais.

A evolução do conceito de cultura, para o autor, parte de antigas concepções como cultivo, tanto de plantas e animais como da mente humana, até resultar numa generalização capaz de definir o que se passa entre os indivíduos mesmo à distância. 
E esclarece que o termo cultura “se tornou, em fins do século XVIII, particularmente no alemão e no inglês, um nome para configuração ou generalização do ‘espírito’ que informava o ‘modo de vida global’ de determinado povo” (WILLIAMS, 1992, p.10).

O que implica, segundo Willians, em alguns complicadores uma vez que o significado de uma obra de arte, por exemplo, pode estar vinculado a um contexto específico, ao passo que a análise descontextualizada pode causar distorções em relação ao sentido originalmente proposto. (Idem).

Willians resgatou, ainda, Antonio Gramsci, e principalmente sua concepção de hegemonia, que sugere que uma determinada classe domine e subordine significados, valores e crenças a outras classes.

No entanto, Gramsci afirmou que apesar da difusão de um pensamento hegemônico por determinada classe, as demais não equacionam tal pensamento com a consciência, ou seja, não reduzem sua consciência a tal pensamento.  (Idem).

Desse modo, segundo Willians, cultura:

“é todo um conjunto de práticas e expectativas, sobre a totalidade da vida: nossos sentidos e distribuição de energia, nossa percepção de nós mesmos e nosso mundo. 
É um sistema vivído de significados e valores – constitutivo e constituidor – que, ao serem experimentados como práticas parecem confirmar-se reciprocamente” (Ibidem).
Nesse sentido, a hegemonia produz contra-hegemonia, ou seja, a cultura dominante produz e limita, ao mesmo tempo, suas formas de contracultura.

Patrimônio Artístico

“O patrimônio é uma poderosa construção sígnica, constituída e instituída a partir de percepções identitárias e integralmente vinculada ao sentimento de pertença – a partir do qual se reflete em todos os jogos da memória e se expressa em todas as representações sociais.

'Patrimônio’ é, portanto, um conceito polissêmico, que pode estar vinculado tanto ao conjunto de elementos possuídos pelo indivíduo, na esfera pessoal, como ao conjunto de signos reconhecidos como 'bens', por uma ou mais coletividades. 
Impregnado de um sentido econômico, expressa as relações que cada grupo social estabelece com a natureza ou com sua produção cultural – estando diretamente influenciado pelas maneiras sob as quais cada sociedade compreende Natureza e Cultura”. (SCHEINER, 2002)

Adiciono abaixo, a asserção de Reginaldo Gonçalves (2006) para ajudar a consubstanciar o conceito de patrimõnio.

[...] a categoria "patrimônio", distinguindo os diversos significados que ela pode assumir em suas variações no tempo e no espaço. 
Focalizando seus usos sociais e simbólicos, tenho problematizado as noções modernas de "patrimônio cultural", mostrando situações que se caracterizam pela inserção do patrimônio em totalidades cósmicas e morais, onde suas fronteiras são bem pouco delimitadas. 
Tenho sublinhado ainda que os "patrimônios culturais" seriam entendidos mais adequadamente se situados como elementos mediadores entre diversos domínios social e simbolicamente construídos, estabelecendo pontes e cercas entre categorias cruciais, tais como passado e presente, deuses e homens, mortos e vivos, nacionais e estrangeiros, ricos e pobres, etc. 
Nesse sentido, tenho sugerido a possibilidade de pensar o patrimônio em termos etnográficos, analisando-o como um "fato social total", seguindo a rica noção de Marcel Mauss (2003, p. 185-318), e desnaturalizando seus usos nos modernos "discursos do patrimônio cultural." (Idem)

Por fim, vale ressaltar que, há sempre que ficar atento para o fato de os bens culturais que a sociedade dispõe não pertencerem a todos, embora, oficialmente, esses bens venham a representar e estejam disponíveis ao uso de toda a sociedade, o que se vê é que a apropriação do patrimônio se dá de maneira desigual pelos vários setores da sociedade.
         
                                  

Termino com a inserção abaixo:

Trechos do poema Emparedado de Cruz e Souza

                                             

[....] Desde que o Artista é um isolado, um esporádico, não adaptado ao meio, mas em completa, lógica e inevitável revolta contra ele, num conflito perpétuo entre a sua natureza complexa e a natureza oposta do meio, a sensação, a emoção que experimenta é de ordem tal que foge a todas as classificações e casuísticas, a todas as argumentações que, parecendo as mais puras e as mais exaustivas do assunto, 
são, no entanto, sempre deficientes e falsas.

Ele é o supercivilizado dos sentidos, mas como que um supercivilizado ingênito, transbordado do meio, mesmo em virtude da sua percuciente agudeza de visão, da sua absoluta clarividência, da sua inata perfectibilidade celular, que é o germen fundamental de um temperamento profundo.

Certos espíritos d’Arte assinalaram-se no tempo veiculado pela hegemonia das raças, pela preponderância das civilizações, tendo, porém, em toda a parte, um valor que era universalmente conhecido e celebrizado, porque, para chegar a esse grau de notoriedade, penetrou primeiro nos domínios do oficialismo e da cotterie.

[....] A verdadeira, a suprema força d’Arte está em caminhar firme, resoluto, inabalável, sereno através de toda a perturbação e confusão ambiente, isolado no mundo mental criado, assinalando com intensidade e eloqüência o mistério, a predestinação do temperamento.

[...] É preciso fechar com indiferença os ouvidos aos rumores confusos e atropelantes e engolfar a alma, com ardente paixão e fé concentrada, em tudo o que se sente e pensa com sinceridade, por mais violenta, obscura ou escandalosa que essa sinceridade à primeira vista pareça, por mais longe das normas preestabelecidas que a julguem, — para então assim mais elevadamente estrelar os Infinitos da grande Arte, da grande Arte que é só, solitária, desacompanhada das turbas que chasqueiam, da matéria humana doente que convulsiona dentro das estreitezas asfixiantes do seu torvo caracol.

[....]O Artista é que fica muitas vezes sob o signo fatal ou sob a auréola funesta do ódio, quando no entanto o seu coração vem transbordando de Piedade, vem soluçando de ternura, de compaixão, de misericórdia, quando ele só parece mau porque tem cóleras soberbas, tremendas indignações, ironias divinas que causam escândalos ferozes, que passam por blasfêmias negras, contra a Infâmia oficial do Mundo, contra o vício hipócrita, perverso, contra o postiço sentimento universal mascarado de Liberdade e de Justiça.

[...]Ah! Destino grave dos que vieram ao mundo para ousadamente deflorar as púberes e cobardes inteligências com o órgão másculo, poderoso da Síntese, para inocular nas estreitezas mentais o sentimento vigoroso das Generalizações, para revelar uma obra bem fecundada de sangue, bem constelada de lágrimas, para, afinal, estabelecer o choque violento das almas, arremessar umas contra as outras, na sagrada, na bendita impiedade de quem traz consigo os vulcanizadores Anátemas que redimem.

[...]Artista! Pode lá isso ser se tu és d’África, tórrida e bárbara, devorada insaciavelmente pelo deserto, tumultuando de matas bravias, arrastada sangrando no lodo das Civilizações despóticas, torvamente amamentada com o leite amargo e venenoso da Angústia! A África arrebatada nos ciclones torvelinhantes das Impiedades supremas, das Blasfêmias absolutas, gemendo, rugindo, bramando no caos feroz, hórrido, das profundas selvas brutas, a sua formidável Dilaceração humana!

A África laocoôntica, alma de trevas e de chamas, fecundada no Sol e na Noite, errantemente tempestuosa como a alma espiritualizada e tantálica da Rússia, gerada no Degredo e na Neve — pólo branco e pólo negro da Dor!

Artista?! Loucura! Loucura! Pode lá isso ser se tu vens dessa longínqua região desolada, lá do fundo exótico dessa África sugestiva, gemente, Criação dolorosa e sanguinolenta de Satãs rebelados, dessa flagelada África, grotesca e triste, melancólica, gênese assombrosa de gemidos, tetricamente fulminada pelo banzo mortal; dessa África dos Suplícios, sobre cuja cabeça nirvanizada pelo desprezo do mundo Deus arrojou toda a peste letal e tenebrosa das maldições eternas!

A África virgem, inviolada no Sentimento, avalanche humana amassada com argilas funestas e secretas para fundir a Epopéia suprema da Dor do Futuro, para fecundar talvez os grandes tercetos tremendos de algum novo e majestoso Dante negro!

Dessa África que parece gerada para os divinos cinzéis das colossais e prodigiosas esculturas, para as largas e fantásticas Inspirações convulsas de Doré - inspirações inflamadas, soberbas, choradas, soluçadas, bebidas nos Infernos e nos Céus profundos do Sentimento humano.

Dessa África cheia de solidões maravilhosas, de virgindades animais instintivas, de curiosos fenômenos de esquisita Originalidade, de espasmos de Desespero, gigantescamente medonha, absurdamente ululante — pesadelo de sombras macabras — visão valpurgiana de terríveis e convulsos soluços noturnos circulando na Terra e formando, com as seculares, despedaçadas agonias da sua alma renegada, uma auréola sinistra, de lágrimas e sangue, toda em torno da Terra...

Não! Não! Não! Não transporás os pórticos milenários da vasta edificação do Mundo, porque atrás de ti e adiante de ti não sei quantas gerações foram acumulando, acumulando pedra sobre pedra, pedra sobre pedra, que para aí estás agora o verdadeiro emparedado de uma raça.



                               





Nenhum comentário:

Postar um comentário